O prejuízo de R$ 10,5 bilhões da Eletrobras entre outubro e dezembro de 2012 foi o maior já registrado por uma empresa de capital aberto no Brasil durante um trimestre, segundo estudo da Economatica divulgado nesta quinta-feira (28).
O levantamento analisou os prejuízos trimestrais de todas as empresas de capital aberto brasileiras desde 1986, disponibilizados na base de dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Os dados são nominais, não ajustados por inflação.
De acordo com a Economatica, o segundo maior prejuízo trimestral já registrado por uma empresa de capital aberto no país desde 1986 foi de R$ 7,43 bilhões, atingido pelo Banco Nacional entre outubro e dezembro de 1995. Em terceiro lugar, fica a perda de R$ 6,18 bilhões do Banco do Brasil no segundo trimestre de 1996.
A companhia diz que o prejuízo deve-se aos efeitos da lei de redução das tarifas de energia elétrica, que comprometeram os ganhos da estatal responsável pela maior parte do parque gerador de energia do país. No acumulado em 2012, a empresa apresentou prejuízo de R$ 6,8 bilhões, o maior da sua história.
Segundo comunicado, a nova lei, que determina a redução na cobrança de energia elétrica, causou um efeito negativo de R$ 10 bilhões para o caixa da Eletrobras.
Sem esse efeito, a empresa afirma que seria registrado lucro antes do pagamento de impostos de R$ 5,5 bilhões em 2012.
MEDIDAS
"O resultado foi fortemente impactado pela lei e interrompeu sucessivos anos positivos da companhia, que em 2011 lucrou R$ 3,7 bilhões", lembra Pedro Galdi. "Mas as medidas que foram anunciadas pela empresa são bastante positivas", completou.
Para amenizar o impacto negativo da redução da tarifa de energia cobrada, a Eletrobras pretende concluir em 90 dias os estudos das alternativas para a reestruturação do negócio de distribuição.
A estatal está analisando a possibilidade de venda de ativos de distribuição para se enquadrar na nova realidade de operação, após a perda de receita e de caixa, provocada pela prorrogação onerosa das concessões.
Além disso, a companhia prevê investir R$ 52,4 bilhões até 2017 nos negócios de geração, transmissão e distribuição.
"O mercado recebe com ânimo essa notícia porque havia um receio grande de diminuição dos investimentos após a lei de redução da tarifa. Com essas aplicações, a empresa deve melhorar e ampliar suas operações, amenizando a perda financeira", disse Galdi.
As promessas de reestruturação e investimento da companhia animaram os investidores e a ação mais negociada da Eletrobras chegou a subir quase 17% na Bolsa brasileira nesta tarde. Às 15h10 (horário de Brasília), os papéis tinham alta de 14,45%, para R$ 12,51 cada.
De acordo com Rogério Oliveira, especialista em Bolsa da ICAP Brasil, outro fator que motivou o otimismo dos investidores em relação à Eletrobras foi o fato da companhia ter mantido a proposta de pagamento de dividendos (parte do lucro distribuída aos acionistas) no mesmo valor dos últimos anos, apesar do prejuízo.
"O setor elétrico sempre foi um setor considerado defensivo, porque, mesmo com eventuais quedas nas ações, as companhias sempre pagam bons dividendos. Assim, o investidor sempre acaba recebendo algum retorno do papel", disse.
INVESTIDOR: O QUE FAZER?
Segundo especialistas, o pequeno investidor deve ficar atento aos detalhes do anúncio da empresa e não deve agir com a emoção, comprando ou vendendo ações da companhia só porque todos estão fazendo o mesmo.
"O movimento de curtíssimo prazo reflete apenas oferta e demanda. É igual a comprar um apartamento na planta. Você compra um projeto, se ele vai ser entregue ou não é outro caso", afirmou o educador financeiro Mauro Calil, da Academia do Dinheiro.
Calil recomenda que o pequeno investidor avalie o histórico de promessas da empresa. "Ela já prometeu mais coisas no passado. Tem que ver se essas promessas foram cumpridas ou não. Se nem todas foram, será que é o caso de acreditar na empresa agora?."
O educador financeiro também recomenda que os pequenos investidores considerem o fato de que empresas estatais normalmente sofrem "ingerência política."
Segundo Calil, "essas empresas podem correr risco menor de 'quebra', por que são garantidas pelo governo, mas podem ser sacrificadas por ele [o governo] durante a condução de medidas para ajudar a economia do país. A própria redução na tarifa de energia é um exemplo disso."
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Nova lei de energia faz Eletrobrás ter o maior prejuízo da sua história
DIMMI AMORA e DENISE LUNA - UOL
A lei de redução das tarifas de energia elétrica atingiu em cheio a Eletrobras, estatal que controla a maior parte do parque gerador de energia do país. A empresa apresentou prejuízo de R$ 6,8 bilhões em 2012, o maior da sua história.
O resultado vem depois de sucessivos anos positivos da companhia, que em 2011 lucrou R$ 3,7 bilhões.
O Ebitda (lucro antes do pagamento de juros e impostos) da empresa também foi negativo no ano passado: R$ 6,1 bilhões contra R$ 6 bilhões positivos em 2011.
Segundo comunicado da empresa, ambos "os resultados foram fortemente afetados pela MP 579, transformada na Lei 12.783/2013".
A Medida Provisória do Setor Elétrico foi editada pelo governo em setembro do ano passado. Foi determinado que as companhias que tinham contratos a vencer de concessões de usinas hidrelétricas e linhas de transmissão poderiam renová-los contanto que reduzissem os preços cobrados pelo que produziam.
A Eletrobras renovou todos os seus contratos. Companhias de energia dos Estados de Minas Gerais e São Paulo optaram por não fazê-lo.
EFEITOS
Segundo comunicado da companhia, "os efeitos atípicos, provocados pela Lei (12.783/2013), que influenciaram o resultado consolidado e o Ebitda" foi da ordem de R$ 10 bilhões.
De acordo com a Eletrobras, sem a MP, a companhia teria lucro antes do pagamento de impostos de R$ 5,5 bilhões.
A Receita Operacional Líquida (ROL), da Eletrobras subiu 16,6%, de R$ 29 bilhões para R$ 34 bilhões. Já as despesas com Pessoal, Manutenção, Serviços e Outros cresceu 10%.
Com menor encargo dos acionistas, o resultado financeiro ano passado foi melhor do que em 2011, quando foram pagos dividendos atrasados. Em 2012, o resultado financeiro subiu para R$ 633 milhões, contra R$ 234 milhões no ano anterior.
A diretoria da companhia vai conceder uma entrevista coletiva hoje em Brasília para explicar os resultados.
CELESC
A Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina) divulgou também hoje ter registrado prejuízo líquido de R$ 258,366 milhões em 2012, ante lucro líquido de R$ 323,887 milhões em 2011.
A receita operacional líquida cresceu 8,44% em 2012, para R$ 4,545 bilhões, ante R$ 4,191 bilhões do ano anterior, conforme demonstrações financeiras consolidadas.
O Ebitda (resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ficou negativo em R$ 336,107 milhões em 2012, comparado a um resultado positivo de R$ 585,049 milhões em 2011.
29 de março de 2013
ANDERSON FIGO - FOLHA ONLINE
Com o "Valor"
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