Artigos - Cultura
A sociedade que permite e advoga esse direito ao coitadismo generalizado está condenando a si mesma. Nela, as pessoas ficarão cada vez mais fracas e cada vez mais burras.
Estamos vivendo uma época muito estranha. Não sei se vocês estão percebendo, mas hoje em dia, todo mundo se apressa para se encaixar no perfil de vítima, injustiçado, incompreendido. Parece uma doença psicológica que se alastra e acomete cada vez mais pessoas. Mesmo aqueles que, em outras épocas, jamais seriam tidos por sujeitos passivos de qualquer tipo de preconceito, atualmente, na primeira oportunidade que têm, levantam suas vozes para reclamar.
O que antes era próprio de grupos específicos, que, justa ou injustamente, sofriam ou tinham a percepção de serem vítimas de preconceito, difundiu-se por todos os cantos da sociedade moderna.
As pessoas tornaram-se policiais em defesa de si mesmas, prontas para gritar: "Preconceito, preconceito!" para qualquer manifestação alheia que considerem aviltantes em relação a elas mesmas. O que era a voz de alguns excluídos tornou-se uma cultura geral, que vem se impregnando cada vez mais profundamente na alma do povo.
Essa cultura do coitadismo se encontra em todos os estratos sociais, em todos os níveis culturais e em todas as faixas etárias. É um abundante padecimento por si mesmo, uma autoproteção neurótica que acaba tornando todos os outros potenciais agressores, ainda que estes se manifestem com expressões pueris e inócuas.
Antes eram apenas os negros, as mulheres e os homossexuais. Hoje, são os gordos, os esquerdistas, os professores, os pobres, os ricos, os burros, os cultos, os ateus, os cristãos, os macumbeiros, as crianças, os velhos, os feios, as loiras, as empregadas domésticas, os consumidores e qualquer grupo que se encaixe em algum perfil específico. Até jogador de futebol se diz discriminado, quando algum comentarista o critica.
A cultura da reclamação está criando uma proibição à crítica. Falar mal de alguém, direito sagrado de todos os tempos, está se tornando algo impossível. O que antes era uma mera questão de bons modos se transforma, a passos largos, em matéria de Direito Penal e situa qualquer pessoa como um potencial criminoso.
O resultado de tudo isso, além do cerceamento absurdo da liberdade, é um emburrecimento colossal de uma população já pouco afeita ao conhecimento. A crítica, a exposição livre do pensamento, inclusive dos preconceitos, das ideias, ainda que absurdas, dos sentimentos e das vontades sempre foram o alicerce da inteligência. É neste campo livre e aberto, onde as cercas situam-se em extremidades longínquas, que o pensamento e a ciência se desenvolvem.
A liberdade é o seu alimento.
A inteligência, se não puder dizer o que pensa, se não puder discordar e se manifestar, tende a atrofiar.
Por isso, a sociedade que permite e advoga esse direito ao coitadismo generalizado está condenando a si mesma. Nela, as pessoas ficarão cada vez mais fracas e cada vez mais burras. Daqui a pouco, seremos meramente uma manada de porcos, possuídos por espíritos baixos, se lançando, estupidamente, no abismo sem fundo da ignorância e da irrelevância.
11 de abril de 2013
Fabio Blanco é advogado e teólogo.
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