"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 23 de abril de 2013

RAWABI É A PRIMEIRA CIDADE PLANEJADA DOS TERRITÓRIOS PALESTINOS


Futuro concreto – A jovem palestina Rania Mari, de 28 anos, dirige numa estrada que passa por baixo da obra. Apesar de essa via ter apenas 2,8 quilômetros de extensão, a construção da cidade de Rawabi (“colina”, em árabe) quase fracassou por causa dela.

A estrada é necessária para a logística do maior projeto de construção civil da região, possibilitando o acesso de máquinas e equipamentos ao local. Mas ela também passa pelo território controlado por Israel – mais da metade da Cisjordânia pertence à chamada Área C.

Rawabi é a primeira cidade planejada dos palestinos na Cisjordânia. “Demorou anos para obtermos de Israel a permissão para a construção. Agora, temos uma licença que precisa ser renovada a cada ano”, diz a jovem de Ramallah.

Mari é a responsável pelo trabalho de relações públicas da cidade, que ainda não aparece em nenhum mapa. Mas, em poucos anos, até 40 mil pessoas deverão viver lá.

O plano não é construir uma cidade dormitório, mas um local para se viver, com escolas, hospitais, teatros, cinemas, hotéis, um enorme shopping center, escritórios, instalações esportivas, uma mesquita, um anfiteatro, uma igreja e uma estação própria de tratamento de esgoto. Rawabi terá também uma administração própria, eleita por seus moradores.

Investimento de US$ 1 bilhão

A cidade localizada numa colina próxima a Ramallah é o sonho do empresário Bashar Masri, de 52 anos. Desde 2010, ela vem se tornando realidade. O empresário, que estudou nos Estados Unidos, fundou em 1994 a Massar International, um império com 15 subsidiárias, incluindo agências de viagens, fundos de ações e até uma corretora imobiliária na Sérvia.

O objetivo de Masri é construir a primeira cidade moderna da Palestina. Esse sonho só pode virar realidade com a ajuda do Catar, que fornece dois terços do investimento total de mais de 1 bilhão de dólares. O empresário e outros investidores menores assumiram o resto.

Rawabi é mais do que um projeto empresarial para Masri. Para ele, a construção da cidade é um importante passo no caminho para um futuro Estado da Palestina. E ele planeja uma Palestina moderna, com fachadas sóbrias feitas de arenito local, com canteiros de flores e gramados.



Um projeto de investidores privados

A cidade deverá receber os primeiros moradores já no final deste ano. No showroom estão exibidas maquetes dos edifícios, além de modelos de cozinhas e banheiros, com opções de azulejos, torneiras e portas. “Nós fornecemos todo o material para o acabamento”, diz Mari.

Uma família vinda das proximidades de Ramallah acabou de escolher um banheiro de azulejos verdes. O casal ─ ela vestindo o tradicional hijab, ele de calça jeans e camiseta ─ representa o grupo clássico de interessados em Rawabi: classe média, bem-educada, solteiros ou casados com filho.

“Os preços dos apartamento são razoáveis porque eles têm um alto padrão de acabamento”, diz o homem. Segundo ele, pelo mesmo preço é possível conseguir em Ramallah um apartamento que precisa de reformas e sem espaço para as crianças brincarem.
Os apartamentos em Rawabi têm entre 124 e 230 metros quadrados. Os de 180 metros quadrados, por exemplo, custam 110 mil dólares.

Mari dirige o jipe através da única rua já existente no futuro centro de Rawabi. À esquerda e à direita da via, ainda não pavimentada, estão sendo construídos edifícios de vários andares, que são claramente visíveis até pelos incômodos vizinhos, residentes no topo de uma colina ao sul.

Lá fica Ateret, um assentamento israelense ilegal conforme o direito internacional. Seus habitantes consideram a construção de Rawabi uma provocação. “Nós realmente tivemos problemas com eles”, relata Mari.

Ela conta que, no início, quando havia menos pessoas nos canteiros de obras, moradores de Ateret vinham durante a noite e os atacavam. Atualmente, os incidentes diminuíram. Em Ateret também há obras. O conflito no Oriente Médio se desenrola nessa região com ajuda de escavadeiras e concreto.

Funcionários educados e jovens

A engenheira civil Hanan Khalaf, de 23 anos, deixa o escritório de marketing. Recém-formada pela Universidade Birzeit, ela é um dos muitos jovens que trabalham no projeto. “Você aprende muito aqui”, diz. “Tudo é muito moderno, muito profissional, algo que nós não conhecemos na Palestina, por causa da nossa difícil situação atual.”

Khalaf muda regularmente seu local de trabalho para poder ter uma visão do todo. No total, cerca de cinco mil pessoas estão empregadas em Rawabi, incluindo muitas mulheres em cargos de chefia.
“Precisamos, sobretudo, de apartamentos”, conta o gerente do projeto, Amir Dajani. Apesar do grande investimento feito nos últimos anos, ele ainda não foi suficiente para cobrir a demanda, explica. “Queremos criar aqui até 10 mil postos de trabalho durante as obras”, afirma Dajani.
Segundo ele, mais importante, no entanto, são os postos de trabalho permanentes que deverão ser criados na cidade.
Da janela de seu escritório, é possível ouvir o barulho de tratores e escavadeiras que, aos poucos, vão tornando realidade o sonho da primeira cidade planejada de uma futura Palestina. (DW – Fotos: Ulrike Schleicher)



23 de abril de 2013
ucho.info

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