"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 23 de abril de 2013

"MUITA LIBERDADE SEXUAL É BASTANTE PREJUDICIAL"

 

“Sem hipocrisia não há civilização, e isso é a prova de que somos desgraçados: precisamos da falta de caráter como cimento da vida coletiva”.
Apenas nesta frase, podemos já ter a noção do pensamento crítico em alta voltagem de Luiz Felipe de Cerqueira e Silva Pondé. Nascido no Recife em 1959, o filósofo e ensaísta conservador de origem judaica, tem uma linha de pensamento marcada pelo pessimismo (apesar de ser uma pessoa muito feliz como ele mesmo diz e demonstra em todas as suas aparições públicas) e pelo conservadorismo.
Fez seu doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade de Paris VIII. Participou de pós-doutorado na Universidade de Tel Aviv. Atualmente é Vice-Diretor e Coordenador de Curso da Faculdade de Comunicação da FAAP; professor de Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e de Filosofia na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).
Escreve semanalmente no jornal Folha de S.Paulo, participa também semanalmente do Jornal da Cultura, e é autor de vários livros, entre eles O homem insuficiente:

Comentários de Psicologia Pascaliana (2001) e Conhecimento na desgraça: Ensaio da Epistemologia Pascaliana (2004), Crítica e profecia: filosofia da religião em Dostoiévski (2003), Do pensamento no deserto: Ensaio de Filosofia, Telogia e Literatura (2009) e Contra um mundo melhor: Ensaios do Afeto (2010), O Catolicismo Hoje (2011), Guia Politicamente Incorreto da Filosofia (2012). É co-autor do livro Por que virei a direita: Três intelectuais explicam sua opção pelo conservadorismo (2012).

Na entrevista concedida ao portal Panorama Mercantil, ele discorre por temas que vão da visão acadêmica que vigora no Brasil no aspecto ideológico que é hegemonicamente esquerdista; reflete sobre os desafios da Igreja Católica; diz com uma coragem não habitual e sem amarras, sobre a liberdade sexual em voga; reafirma categoricamente a sua polêmica frase dita no ano passado em uma entrevista:”Mulher gosta de dinheiro”; considera que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se transformou em um semideus da política nacional, maior até mesmo que o seu próprio Partido do Trabalhadores, além de revelar o que acha, quando é chamado por alguns de “Bono Vox da Filosofia”:
“Não ligo que me chamem de Bono Vox da Filosofia. Se for por ser pop tudo bem, politicamente estou muito longe do Bono Vox e de suas fotos de crianças africanas”.

Isso e muito mais você verá agora, e saberá os argumentos afiados, de um dos intelectuais mais polêmicos da atualidade no país.


Panorama Mercantil-Você é considerado por muitos, o filósofo mais polêmico da atualidade. Falar o que pensa no Brasil de hoje, é sinônimo de polêmica, ou você acredita que isso se dá principalmente, porque muito do que você diz, vai contra as ideias de quem está hoje governando o país?
Luiz Felipe Pondé-Não mentir na vida acadêmica é raro. Fala-se em bando o tempo todo.

Panorama -No Brasil, quando uma pessoa diz que é de direita, logo é demonizado sem mesmo saber o que ela pensa. O Brasil é um país de esquerda ou tudo isso não passa de um simples “verniz” social?
Pondé-Há muito de verniz sim. Mas a cultura e a acadêmia são de esquerda, principalmente porque não há muito dinheiro nisso. Pode-se brincar.

Panorama-Você já foi ateu, e hoje acredita em Deus. Nos fale como é ser ateu num país onde crer em Deus é quase uma obrigação passada de pai para filho?
Pondé-Não acredito propriamente em Deus, digo no meu livro “Contra um mundo melhor” que permaneço filosoficamente ateu. Este tema é mais complexo do que falar de sexo. Às vezes percebo uma beleza e generosidade no mundo que me encanta, e por isso passei a estudar Mística Clássica. Cresci num ambiente ateu e secular. A escola jesuíta em que estudei nunca me obrigou a ser religioso. Acho ser ateu a posição mais fácil em Filosofia. O conceito de Deus é muito elegante.

Panorama-A Igreja Católica vem perdendo muitos fiéis no país, principalmente para as igrejas evangélicas chamadas de Neopentecostais, que sistematicamente batem na tecla da “Teologia da Prosperidade”. Você acredita que se a igreja romana tradicional, conseguisse de algum modo se unir com a chamada “Teologia da Libertação”, esse quadro mudaria?
Pondé-A Teologia da Libertação continua sendo importante na igreja, basta aliviar o seu caráter marxista e ela estará bem em Roma, veja o novo Papa. Perder fiéis para os evangélicos, tem mais a ver com a competência cotidiana em gestão. A Igreja Católica é lenta, burocrática e centralizada.

Panorama-Até que ponto, a liberdade sexual é prejudicial a sociedade, já que sabemos que o proibido é sempre mais excitante?
Pondé-A relação sexual fora a pílula e o Viagra é mais marketing. As pessoas continuam cuidadosas em sexo quando afetos e vínculos estão em questão. Muita liberdade sexual é bastante prejudicial, porque deixa todo mundo broxa e sem interesse.

Panorama-Antigamente quando um garoto era chamado de gordo na escola, ele resolvia a questão ou levando na esportiva ou até mesmo brigando. Hoje em dia isso pode ser interpretado como bullying. Não estamos criando pessoas muito superprotegidas atualmente que terão dificuldade de sobreviver no futuro?
Pondé-Sim, o mundo estará insuportável em 50 anos.

Panorama-Na mídia brasileira de uma forma geral, quando se tem um produto muito sofisticado não se tem leitores ou mesmo telespectadores. Você acredita ser possível criar um veículo de comunicação ou mesmo programas para a grande massa sem cair na mediocridade?
Pondé-Difícil, mas louvável a tentativa. Acho mais interessante pensar em programas que falem a sério com as pessoas e as tratem como adultos. Acho que ser tratado como adulto está além do problema de ser ou não ser de massa.

Panorama-Você diz que o mundo acadêmico nacional, tem inveja tem que está na acadêmia e consegue fazer sucesso na mídia. É muito comum grandes antropólogos, filósofos e sociólogos, escreverem para grandes jornais na Europa e nos EUA. Nesse ponto, não somos muito provincianos ainda com essa mentalidade?
Pondé-Com certeza, inveja de pobre.

Panorama-Quando você disse no ano passado a frase: “Mulher gosta de dinheiro”, deu o que falar. Acredita que esse choque se é que podemos dizer assim, ocorreu porque a nossa sociedade é hipócrita?
Pondé-Sim e por culpa do feminismo. Mulher gosta de dinheiro porque dinheiro é segurança, experiência, poder e condições de vida. Homem também gosta de dinheiro, mas ele está acostumado a pensar que se gosta da mulher por causa do dinheiro dela, ele é canalha. Já as mulheres associam carinhosamente dinheiro as qualidades de ação do homem.

Panorama-Você também diz que mulher gosta de intelecto, então porque o mundo vende que para você conquistá-la, é preciso ter o melhor carro, o melhor emprego, a melhor casa e o que é pior, grande parte das mulheres estão acreditando cada vez mais nisso?
Pondé-Intelecto é uma moeda sofisticada, mulheres que circulam no meio acadêmico e da mídia, erotizam o intelecto masculino. Se ela não gosta de ler e de pensar, ficará mais presa ao carro coreano.

Panorama-Qual a sua reação quando lê comentários de alguém te chamando de elitista?
Pondé-Dou risada se estou de bom humor, chamo o de caro idota se estou de mau humor, mas sempre concluo que ele é um pobre coitado sem repertório e vítima de preconceitos intelectuais. Normalmente quem me chama de elitista, é ele sim um elitista.

Panorama-Quando um político se torna maior que o próprio partido, a democracia não corre perigo, já que eles são transformados em semideuses que nunca erram?
Pondé-Sim, veja o caso do Lula.

Panorama-O que mais tem te irritado ultimamente: um lugar barulhento ou ser chamado de “Bono Vox da Filosofia”?
Pondé-[Risos.] Não ligo que me chamem de Bono Vox da Filosofia. Se for por ser pop tudo bem, politicamente estou muito longe do Bono Vox e de suas fotos de crianças africanas. Lugares sempre me aborreceram, não gosto de festas, não por razões morais, mas estéticas.

23 de abril de 2013
Luiz Felipe Pondé-Filósofo, escritor e ensaísta
Colaboração do jornalista Eder Fonseca, Diretor-executivo do portal Panorama Mercantil

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