"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 9 de maio de 2013

DESABAFO DE UM PILOTO COMERCIAL A TODOS OS BRASILEIROS QUE UTILIZAM TRANSPORTE AÉREO



Para você entender o que é a aviação no Brasil deve-se partir da seguinte ideia: imagine-se dirigindo um carro BMW, numa estrada de terra. É mais ou menos assim que um aviador se sente voando no Brasil; você tem uma tecnologia de ponta dentro do seu avião e um sistema precário e ultrapassado à sua volta.

Os atrasos no Brasil têm características incomuns comparado ao mundo afora: quando se tem nevoeiro… somente Guarulhos tem sistema mais preciso para pouso por instrumento, conhecido como “ILS categoria 2”. Curitiba também tem, mas lá é tão engraçado que colocam o sistema para manutenção exatamente em época de nevoeiro.

Vergonhosamente Porto Alegre, Florianópolis e Confins não têm esse sistema. Estes sempre fecham por causa de nevoeiro. Manaus, que tem uma localização extremamente estratégica e que sempre tem nevoeiro, também não tem sistema ILS. Detalhe: nos EUA, são mais de 100 aeroportos só com ILS categoria 2”, fora os de categoria 1 e 3.

Se você, passageiro, está indo para Porto Alegre, fique sabendo que seu avião não pode alternar Florianópolis caso Porto Alegre esteja fechado. Florianópolis tem um vergonhoso pátio para apenas cinco aviões; lembrando que no verão Florianópolis recebe mais 150 vôos de fretamento, além dos regulares.
Este aeroporto supracitado, vergonhosamente, não tem taxiway (pista para a aeronave taxiar até a pista principal), sendo necessário a aeronave taxiar pela pista principal, gerando espaçamento maior entre as aeronaves que se aproximam, ou seja, ocasionam atrasos.

Se você está chegando a São Paulo, o problema é parecido. Guarulhos está sempre com o pátio lotado. Vitória e Confins também. Galeão e Congonhas dias atrás ficaram nesta situação, com o pátio lotado. Quem tinha Galeão como alternativa de pouso teve que escutar um “negativo” do controlador para alternar aquele aeroporto. Estava no plano de vôo que Galeão seria o “alternado”, Se o controlador aprovou o plano antes de decolar isso significa que é questão de lei e não de conveniência de pátio.

NORDESTE

Voar no Nordeste é mais tranquilo por haver menor tráfego de aeronaves, porém lá tem outro problema: o controle de tráfego aéreo tem de contar com as aeronaves militares fazendo treinamento o que, consequentemente, gera atrasos, geralmente de mais de 20 minutos nas decolagens; o que desencadeia um atraso bem maior quando essas aeronaves chegam atrasadas ao sul do Brasil.

Na regra internacional uma aeronave em instrução militar tem preferência sobre aeronaves civis de passageiro em pousos e decolagens, porém, se o País quer adotar regras internacionais ao pé da letra… que construam bases militares específicas para a função militar.
Lembrem-se que aqui é o Brasil e não Europa ou EUA, onde os aviões são sequenciados para pouso com separações de 4 km entre aeronaves, enquanto que no Brasil são de 8 km entre aeronaves e, no caso de Florianópolis, chega a 20 km por aeronaves, por falta de taxiway.

SEGURANÇA

Saibam que todo piloto brasileiro se sente mais seguro voando nos EUA, Europa e Ásia do que voando aqui no Brasil, fato decepcionante, mas vou explicar o porquê… Aqui no Brasil existe uma regra: “a menor distância entre dois pontos é uma curva”. Você sabia que quando você sai do litoral brasileiro e vai pra São Paulo você voa em curva? É necessário passar por cima do Rio de Janeiro. Poderia ser direto via Minas Gerais. Esse contorno do litoral gera em cada vôo pelo menos 1.000 litros a mais de combustível consumido.

Nos EUA já não existe mais aerovia, somente proa direta para o destino. Lá eles têm acordos com as ONGs e entendem que, quanto menos tempo um avião ficar no ar, menor é o efeito estufa. Se fosse aqui seria o equivalente a você decolar de Salvador e o controlador autorizar proa direto de São Paulo. São 1.000 litros de querosene desperdiçados, sendo queimados na cabeça dos cariocas a cada 2 minutos. “Deixe o GreenPeace saber disso; o GreenPeace ficará superfeliz”.

A desculpa não pode ser separação de fluxo, já que os EUA são maiores que o Brasil, e onde o fluxo aéreo é cinqüenta vezes maior do que no Brasil. O que o Brasil voa em horas e voos em 50 dias, os EUA voam o mesmo em apenas um dia. “Poderia ser pior, se caísse neve no Brasil a desorganização aérea seria uma catástrofe diária”.

Boa sorte a todos e que Deus nos proteja!

09 de maio de 2013
Antonio Carlos Cruzeta (piloto)

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