"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 5 de maio de 2013

QUEM É CLASSE MÉDIA?

A classe média não para de crescer. Pelo menos é o que apontam estudos de âmbito nacional. No entanto, a delimitação dessa parcela da população está cada dia mais abrangente. No DF, há situações que colocam essa divisão de classes em xeque. Sob o conceito do Governo Federal, por exemplo, 51,8% dos moradores da Estrutural são de classes média e alta.
Estudos da Companhia de Planejamento do DF (CODEPLAN), baseados em parâmetros referentes à renda, demonstram que os critérios adotados pela presidente Dilma Rousseff não refletem a realidade do DF, como no caso da Estrutural.
 
A Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR) delimita que, no Brasil, pertencem à classe média (C) os que apresentam renda familiar per capita (por pessoa) entre R$ 291 e R$ 1.019. Acima disso está a classe alta (A e B). Contudo, técnicos da CODEPLAN questionam a leitura de que a classe trabalhadora está se transformando em classe média. Isto para eles seria superestimar as reais condições de vida da população.
 
Morador da Estrutural, Jeremias José dos Santos, 74 anos, não sabia, mas é considerado uma pessoa de classe média. O aposentado, surpreso com o dado, rebate: “Por quê? Eu mal tenho uma casinha para morar”, relata. Ele sobrevive com renda de R$ 668 mensais. “Sou viúvo, não tenho carro nem plano de saúde, meus móveis são todos de segunda mão. Não acredito que seja assim que vivem as pessoas da classe média!”, dispara.
 
Segundo os dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD/2011) esta mesma população de classes média e alta da Estrutural sequer cursou o Ensino Fundamental. Apenas 32,3% dos domicílios têm carro na garagem.
 
Provavelmente, estes veículos são de marcas populares, com mais de dez anos de uso e que, em sua maioria, ficam um bom tempo na residência por falta de recursos para abastecê-los com frequência. Como proceder diante desta realidade? Não dá para dizer que essas pessoas vivem um padrão classe média”, considera Júlio Miragaya, presidente da CODEPLAN.
 
A professora Vanda Ribeiro, 35 anos, sonha em trocar o carro da garagem por um modelo mais novo. “Há cinco anos, compramos um, e até hoje não tivemos condições de trocar. Ás vezes até o combustível é difícil”, explica. A renda familiar de R$ 2,8 mil para o marido e dois filhos não dá nem para colocar as crianças em escola particular. “Nós dependemos totalmente dos serviços públicos. Estamos construindo nossa vida aos poucos”, destaca.
 
Quanto à posse de outros bens, também definidores da condição de classe média, as diferenças são grandes ao se comparar dados entre as regiões. Na Estrutural, por exemplo, 41,5% possuem máquina de lavar; 36,2% têm linha telefônica fixa; e 33,7% possuem forno de micro-ondas. Já em Brasília, Águas Claras, Cruzeiro e Guará oscilam entre 80% e 95%.
 
Na casa do garçom Osiel Lucindo Ferreira, 35 anos, a renda per capita é de R$ 300. Ele é casado e tem um filho. “Nunca fui da classe média. Se eu fosse, realmente, eu moraria em um lugar onde os serviços públicos eram melhores. Até o meu carro que está batido, eu não tenho dinheiro para arrumar, ainda por cima é um ágio. Que classe média é essa que não tem dinheiro mal para sobreviver?”, brinca.
 
Ele conta que a realidade é outra. “Não temos móveis bons, nem computador com internet, muito menos um bom emprego”, diz.
 
O estudo da CODEPLAN busca chamar a atenção para o risco de superestimar o tamanho da classe média. O resultado, segundo a companhia, poderia ser uma pressão para a redução do atendimento pelo Estado das demandas por bens públicos ofertados à população mais pobre.
 
"Esta é uma discussão interessante, pois busca contribuir com as políticas públicas. Queremos demonstrar que os serviços públicos não devem ser diminuídos e sim melhorados”, explica Júlio Miragaya, da CODEPLAN.
 
De acordo com a companhia, aplicando-se os parâmetros federais ao Guará, que o senso comum aponta como um região tipicamente de classe média, os resultados também são surpreendentes. “Nada menos que 63,6% dos moradores são classificados como classe alta. Este percentual é mais de duas vezes superior ao dos classificados como classe média, 31,4%”, diz.
 
O economista e professor pela Universidade de Brasília (UnB) Dércio Munhoz analisa a questão da distribuição de renda como algo preocupante. “Se 40 milhões de brasileiros saíram da extrema pobreza, como estão vivendo estas pessoas? Que transformação foi essa? É adequado este enquadramento de renda para se definir a qual classe pertenço?”, questiona.
 
O aposentado Jaime Luis da Costa, 73 anos, considera que a pobreza não diminuiu. “Até agora eu não saí dela. Mal conseguimos pagar as contas de água e luz, quanto mais serviços privados. Eu não sinto que nada tenha melhorado em termos de renda. O único bem que tenho é a minha casa e uma bicicleta velha. Isto não é um bom padrão de vida”, classifica. A renda familiar é de R$ 678 para ele e a esposa.
 
Na Estrutural, em relação ao acesso a bens e serviços da atualidade, apenas 6,1% dos domicílios têm televisão de plasma/LCD; 3,7% notebook; 1,4% TV por assinatura; e 0,4% empregada doméstica. Em localidades como Brasília ou no Jardim Botânico, esses percentuais chegam a 85%.
 
Fonte: Jornal de Brasília
COMENTO: para quem não conhece o Distrito Federal, a "grosso modo" podemos dizer que a Cidade Estrutural, ou simplesmente Estrutural é uma favela com cerca de 40 mil habitantes localizada às margens da rodovia que liga o Plano Piloto à Ceilândia, via Taguatinga.
 
Sua origem, nos anos 70, é descrita como: "... reservada para o estabelecimento de um aterro sanitário que comportasse todos os dejetos e materiais dispensados por Brasília, porém, as atividades de coleta e despejo do lixo de Brasília na região, atraíram imigrantes que buscavam no lixo uma fonte de renda. Estes se estabeleceram no aterro sanitário, que ficou conhecido como “Lixão da Estrutural.
Na década de 90, incentivada por políticos inescrupulosos, a invasão cresceu e se consolidou, sendo hoje já considerada como parte de uma das Regiões Administrativas do DF.

Pois é nesse local que, de acordo com a reportagem, temos mais de 30% dos domicílios possuidores de automóveis, 41,5% possuem máquina de lavar; 36,2% têm linha telefônica fixa; 33,7% possuem forno de micro-ondas; 6,1% dos domicílios têm televisão de plasma/LCD; 3,7% notebook; 1,4% TV por assinatura; e 0,4% empregada doméstica.

E os "técnicos" preocupados, não com a mentira oficial que elevou os miseráveis a "crasse média" por decreto, nem com o possível repasse de recursos oficiais - leia-se grana dos impostos pagos pelos "contribários" (contribuintes otários) - a possuidores de bens nem sempre disponíveis a esses pagantes.
 
A preocupação dos "técnicos" é com a "redução do atendimento pelo Estado das demandas por bens públicos ofertados à população mais pobre", isto significa que você, da antiga classe média, deve se preparar pois a extorsão deve continuar e se possível - e sempre é possível - aumentar.
 
05 de maio de 2013
Redação do clicabrasilia.com.br

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