Palocci investe em consultorias, mas não se afasta do poder. Com Dilma e Lula nos bastidores, ex-ministro diz que deixou a política
O ex-ministro Antonio Palocci, 53 anos, desistiu de seguir a carreira política e agora quer se dedicar apenas à empresa de consultoria macroeconômica, a Projeto, que retomou com intensidade, mas cuja atividade deseja manter no anonimato. Nos bastidores, porém, continua dando conselhos à presidente Dilma Rousseff e é interlocutor assíduo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ex-prefeito de Ribeirão Preto por duas vezes e ex-deputado, Palocci já avisou ao PT e aos amigos que “já cumpriu o dever cívico” na atividade política e que não deseja mais disputar ou ser indicado para cargo público.
— Estou fora da política. Já cumpri o dever cívico e não pretendo retomar a carreira — disse Palocci a assessores que o acompanham na Projeto, a empresa de consultoria que mantém num luxuoso prédio de escritórios no sofisticado bairro dos Jardins, nas proximidades da avenida Paulista, em São Paulo.
— Ele se afastou totalmente do PT e de todos, menos do Lula — confirmou o presidente estadual do partido, deputado Edinho Silva.
O afastamento do PT, contudo, não significa que ele esteja abdicando de dar seus palpites. Desde que deixou a Casa Civil de Dilma no dia 7 de junho do ano passado, ele já se reuniu com a presidente pelo menos três vezes.
Petista diz que ex-ministro está ganhando dinheiro
O ex-ministro Antonio Palocci está ativo mesmo é na Projeto Administração de Imóveis Ltda, nome da empresa que chamava-se, até dezembro de 2010, Projeto Consultoria Financeira e Econômica Ltda e que acabou derrubando Palocci do ministério de Dilma, exatamente seis meses depois de assumir a Casa Civil. O trabalho de consultoria de Palocci, feito quando ainda coordenava a transição entre Lula e Dilma, acabou por inviabilizar a sua permanência no governo. No mesmo instante em que ajudava a eleger Dilma, em 2010, Palocci fazia consultorias para empresas privadas e só nesse ano eleitoral faturou R$ 20 milhões.
— Palocci está ganhando dinheiro — resumiu Paulo Okamoto, do Instituto Lula, sobre a retomada das atividades na Projeto.
O ex-ministro voltou à ativa na empresa em setembro, “obedecendo a quarentena de 120 dias”, conforme informou sua assessoria de imprensa.
Capital de apenas R$ 2 mil
Apesar do faturamento milionário, a Projeto tem um capital de apenas R$ 2 mil, dos quais R$ 1.980 em nome de Palocci e outros R$ 20 em nome de Margareth Rose Silva Palocci, sua mulher. O objetivo da empresa, além de dar consultoria a empresários, é o de administrar os imóveis comprados pelo ex-ministro, entre eles o quarto andar de escritórios na rua Rocha Azevedo, pelo qual pagou R$ 882 mil em 2009, e o apartamento residencial, na Alameda Itu, também nos Jardins, comprado por R$ 6,6 milhões, em 2010.
Entre as empresas assessoradas por Palocci, estaria a Caoa, revenda de veículos Hyundai. A Caoa nega a consultoria, mas o dono da empresa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, disse recentemente que falam da assessoria “apenas” porque ele jantou com Palocci e com o banqueiro André Esteves, do Banco Pactual, especialista em tirar empresas do buraco. Oliveira Andrade está tentando reverter a intervenção do BC no Banco BVA, onde o empresário tem R$ 500 milhões aplicados e que ele não quer ver virar pó. Palocci estaria ajudando no processo junto ao BC. Afinal, em condições normais, o banco já teria sido liquidado e o dinheiro do empresário ficado retido enquanto os bens do banco não são vendidos.
A assessoria de imprensa do ex-ministro não nega e nem confirma a consultoria para a revendedora de veículos, informando que Palocci tem entre seus clientes “várias” empresas do setor automobilístico, além de companhias no segmento de energia e biocombustíveis. O ex-ministro não revela nomes e valores dos negócios com as empresas assessoradas, alegando “sigilo de contrato”.
05 de maio de 2013
Germano Oliveira - O Globo
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