Sonhar pequeno não vale a pena: as histórias dos 3 brasileiros que protagonizaram alguns dos maiores negócios do capitalismo mundial nos últimos tempos
SONHAR PEQUENO NÃO VALE A PENA
Livro narra a trajetória do trio de empresários que criou a Ambev e protagonizou alguns dos maiores negócios do capitalismo mundial nos últimos anos. A estratégia deles é estipular metas ousadas – e persegui-las com tenacidade
A aquisição da empresa americana de alimentos Heinz, em fevereiro, pelos empresários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira não chegou a surpreender a comunidade internacional dos negócios. Em quatro anos e meio, eles já haviam arrematado a dona da Budweiser, a cerveja mais vendida no mundo, e o Burger King, a segunda maior rede de fast-food.
Mais importante, imprimiram a sua marca de eficiência administrativa nas duas empresas, recolocando-as no caminho dos bons resultados. Para quem os conhece há mais tempo, a compra da Heinz só reafirmou a determinação do trio. Tome-se o exemplo do americano Jim Collins, o consultor de negócios mais respeitado da atualidade. Para ele, Lemann, Telles e Sicupira já deixaram a sua marca ao lado de visionários como Walt Disney, Henry Ford, Sam Walton (Walmart), Akio Morita (Sony) e Steve Jobs (Apple).
É o que diz Collins no prefácio de Sonho Grande, da jornalista Cristiane Correa (Primeira Pessoa; 245 páginas; 39,90 reais), que chega às livrarias no próximo dia 9. O livro conta a trajetória de obstinação e competência de Lemann, Telles e Sicupira na perseguição de seus objetivos e, por que não dizer, sonhos.
Afinal, como costumam afirmar: “Sonhar pequeno dá o mesmo trabalho que sonhar grande. Então, por que não sonhar grande?”. O pensamento paira como um mantra sobre todos os negócios administrados pelo trio e sua equipe.
Para escrever o livro, Cristiane Correa conversou com uma centena de pessoas – exceto seus três personagens, historicamente avessos a entrevistas. A ascensão do trio começou em 1971, com a compra da corretora Garantia, por Lemann e outros sócios – ela se transformou no maior banco de investimentos do país. Foi a partir dali que nasceram projetos como a compra da Lojas Americanas, em 1982, e a da Brahma, em 1989.
Depois viria a fusão com a Antarctica, em 1999, que resultou na criação da Ambev. As uniões com os belgas da Interbrew, em 2004, e com os americanos da Anheuser-Busch, em 2008, deram origem à AB InBev, a maior cervejaria do mundo.
O maior mérito deles, porém, foi ter desenvolvido e disseminado um modelo de gestão com base na meritocracia, ou seja, no reconhecimento a quem trabalha duro e traz resultados e na redução de custos. Em outras palavras, na busca incessante pelos lucros e pela expansão dos negócios.
Nessa trajetória, eles formaram alguns dos melhores executivos do país. Trata-se de uma prova de que um dos sonhos do trio já é realidade: a perpetuação de sua cultura empresarial.
Lemann, de 73 anos, é de uma geração anterior à de seus dois parceiros. Filho de um imigrante suíço, fundador da fabricante de laticínios Leco (abreviação para Lemann & Company), ele nunca chegou a trabalhar na empresa do pai, optando por atuar no mercado financeiro.
Telles, hoje com 63 anos, e, depois, Sicupira, 64, foram contratados para trabalhar no Garantia em 1972 e 1973, respectivamente. Começaram por baixo, mas subiram rapidamente na hierarquia e logo conquistaram a confiança do sócio controlador. Lemann inovara ao adotar o sistema de bônus com base em metas, em vez do tempo de casa ou no cargo, e em oferecer sociedade a quem se destacasse.
Pagava salários abaixo dos de mercado, mas compensava agressivamente com a remuneração variável. O banco ganhou fama pelo ambiente competitivo e pelas longas jornadas de trabalho. Quem não se enquadrava saía logo – caso do economista Eduardo Giannetti da Fonseca, que não durou mais de uma semana nos anos 90.
Na Brahma, uma das inspirações para dar mais produtividade aos negócios foi o modelo 20-70-10, idealizado pelo lendário Jack Welch, ex-presidente da General Electric. A cada ano, os 20% de funcionários com melhor desempenho eram premiados; os 70% seguintes mantinham o emprego; e os 10% com pior resultado eram demitidos.
A trajetória do trio não é isenta de fracassos. A venda do Garantia para o Credit Suisse, em 1998, ocorreu depois de o banco sofrer um prejuízo de 110 milhões de dólares com a crise asiática. Investidores perderam muito dinheiro, e o patrimônio dos fundos administrados caiu pela metade.
Lemann não conseguiu passar o banco para os sócios mais novos e definiu o episódio como uma de suas maiores decepções, porque a sua primeira grande criação não seria perpetuada. Mas assimilar as razões de uma falha é, obviamente, uma das virtudes dos vencedores.
05 de maio de 2013
Texto de Marcelo Sakate, publicado em edição impressa de VEJA
Com Blog Ricardo Setti - Veja
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