Eu estou acostumada a viajar e viver aventuras gastronômicas em lugares bastante exóticos. Em Marrakesh, comi nas banquinhas da praça Jemaa El Fna, em Bangcoc me aventurei no bairro chinês e no Egito comi no souq de Khan el-Khalili.
Por isso, jamais pensei que seria traída por uma bactéria latina e “hermana” da Venezuela. Mas foi o que aconteceu: comecei a semana doente e fui obrigada a atrasar minha coluna. Segundo um taxista que se interessou pelo meu caso, neste momento é necessário desconfiar de tudo na Venezuela, até da sopa.
Enquanto isso, no mundo dos sãos, as atividades não param. A oposição continua com seus “cacerolazos”, Henrique Capriles pediu oficialmente a impugnação das eleições, como tinha prometido, mas as coisas se acalmaram um pouco nas ruas.
O lugar mais movimentado esta semana foi a Assembleia Nacional. Os deputados da oposição denunciam agressões repetidas do “oficialismo” e dizem que estão sendo impedidos, de maneira sistemática, de participar das votações no plenário.
A tensão no Parlamento chegou ao seu ponto máximo nesta terça-feira, quando os deputados partiram para a briga e dez ficaram feridos, a maioria da oposição.
O presidente da Assembleia, Diosdado Cabello (foto), teria decidido impedir a oposição de votar enquanto não reconhecesse Nicolas Maduro como presidente.
O ex-tenente coronel Cabello participou de fatos recentes da história da Venezuela. Junto a Hugo Chávez, ele fez parte da tentativa de golpe militar de 1992 e chegou a ser presidente interino depois do golpe de 2002, desta vez contra Chávez. Figura forte do chavismo, ele representa o braço do governo próximo às Forças Armadas.
Ainda que as atitudes de Cabello demonstrem que o governo se sente acuado por uma oposição inesperadamente fortalecida, a presença das Forças Armadas no Parlamento, ocupando a cadeira central e desligando os microfones de alguns deputados, é bastante desconfortável.
Enquanto uma bactéria na sopa de uma viajante acaba se transformando em uma experiência a mais para contar, o Cabello na sopa dos venezuelanos parece ser bem mais desagradável.
05 de maio de 2013
Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Especialmente, durante um mês, está escrevendo de Caracas.
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