Seu nome é Laura Poitras e ela recebeu um email de Snowden em janeiro. Foi a primeira pessoa com quem Snowden entrou em contato.
Poitras foi descoberta agora pelo site Salon. É documentarista e ainda está em Hong Kong fazendo um filme sobre o caso. Foi indicada ao Oscar em 2006 por My Country, My Country, um relato do impacto da guerra do Iraque sobre a população iraquiana. Foi o primeiro de uma trilogia de documentários sobre as políticas americanas pós 11 de setembro.
O segundo, The Oath, fala de Salim Hamdan, ex-motorista de Osama bin Laden e seu cunhado, e o terceiro é a respeito de pessoas que passam informações confidenciais. Está sendo finalizado (o encontro com Snowden é parte disso).
Laura colaborou com Julian Assange no próximo filme do Wikileaks. Ela é membro do conselho da Fundação Pela Liberdade de Imprensa, entidade dedicada a promover e financiar o jornalismo que expõe a má gestão, a corrupção e a violação de leis pelo governo dos EUA.
Ela diz que foi presa mais de 40 vezes em fronteiras desde o lançamento de My Country, My Country. Foi incluída numa lista de elementos perigosos. “No momento, é melhor para mim que eu fique fora do país, o que é uma coisa triste de admitir”, ela diz.
No ano passado, foi curadora de um grande ato, num museu, cujo tema era espionagem. Visitantes foram presos ao tentar entrar no museu.
ETERNAMENTE VIGIADO
Laura deu uma entrevista para o Salon em que explica como chegou a Snowden – e também, sinal dos tempos, por que não deu o material para o New York Times. Alguns trechos:
Por que você acha que Snowden entrou em contato com você? Você foi a primeira pessoa com quem ele falou?
Eu não posso falar por ele. Ele me disse que me contatou porque minha prisão na fronteira significava que eu havia sido selecionada. Ser selecionada – e ele entrou numa longa litania – quer dizer que tudo o que você faz, todos os amigos que tem, tudo o que você adquire, cada rua que você cruza, você está sendo vigiado. “Você provavelmente não gosta de como o sistema funciona, e eu acho que posso te contar a história…” Claro que eu estava desconfiada, eu achava que era uma armadilha. Eu posso dizer que, através das conversas que tivemos, ele suspeitava da mídia tradicional. E principalmente com o que aconteceu com a matéria dos grampos (no governo Bush), que, como sabemos, ficou na gaveta (do Times) por um ano. Eu não sabia que ele estava contatando Glenn àquela altura.
Você ainda tem contato com ele?
Eu não vou comentar sobre isso.
Você sabe onde ele está?
Não vou comentar.
Você vai ficar em Hong Kong e arredores por um tempo ou acha que dá para ir aos EUA?
Ainda não decidi. Estou tentando descobrir isso agora. Mas eu estou realmente baseada agora fora dos Estados Unidos.
Você está preocupada com a retaliação em qualquer investigação que faça daqui para a frente?
Eu tenho sido espionada há um longo tempo e não ficaria surpresa se isso continuar. Que tipo de democracia é essa? Eu senti que essa era uma luta que vale a pena. Qualquer coisa que eu possa fazer para ajudar é um serviço. Pessoas assumem riscos. E eu não sou a única que está correndo mais risco nesse caso.
Ele sempre planejou revelar a sua identidade?
Eu não sei. É uma situação complicada porque temos uma fonte que decidiu se revelar. Eu ainda sinto que tenho obrigações jornalísticas com a fonte, apesar de ela ter feito essa escolha… Glenn disse que começou a “trabalhar” com ele. Não houve trabalho. Nós fomos contatados. Eu não sabia onde ele trabalhava, eu não sabia que ele era da Agência de Segurança Nacional, eu não sabia nada. Fomos contatados, eu não sabia o que ele estava fazendo e em algum momento ele apresentou os documentos.
13 de junho de 2013
Kiko Nogueira (Diário do Centro do Mundo)
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