"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 1 de junho de 2013

MAIS LIVROS, MAIS LEITURA

Um dos mais influentes escritores brasileiros do século XX, Monteiro Lobato dizia que “um país se faz com homens e livros”, frase que se tornou célebre por destacar a importância da leitura para a formação do cidadão e de um povo. Lobato foi contista, ensaísta, tradutor e editor de livros, além de advogado, fazendeiro, diplomata e empresário. Mas ficou mesmo conhecido pelo conjunto de sua obra educativa voltada às crianças, com histórias que marcaram a infância de gerações seguidas, como os antológicos personagens do Sítio do Picapau Amarelo. 

Era seu sonho fazer livros que abrissem as portas da imaginação infantil: “Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar”. E foi o que conseguiu, tornando-se íntimo de muitos brasileiros. É, sem sombra de dúvidas, o escritor mais amado do país, como atesta a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro e Ibope. Em suas duas edições, de 2007 e 2011, Lobato aparece em primeiro lugar na preferência nacional.

Paulista de Taubaté, nasceu em 18 de abril de 1882, e, por sua importância para a literatura infantil (mais da metade de sua produção é dedicada às crianças), a data de seu nascimento foi instituída como o Dia Nacional do Livro Infantil. À parte a merecida homenagem, este é um momento mais do que oportuno para repensarmos o papel do livro e da leitura na sociedade brasileira e, em especial, como está a formação de nossas futuras gerações.

A mesma pesquisa sobre leitura no Brasil revela dados preocupantes. Entre a primeira edição, de 2007, e a última, de 2011, houve uma drástica diminuição no índice de leitura no país. A média de livros lidos por habitantes caiu de 4,7 livros por ano para 4,0, muito inferior ao de países desenvolvidos, onde as pessoas leem em média dez livros no mesmo período. A maioria da população, de qualquer idade, prefere assistir televisão ou navegar na internet, a ler um livro. 

Esses índices têm impacto diretamente sobre as competências de um povo, pois a pouca leitura diminui o olhar critico para o cotidiano. De acordo com pesquisa da Unesco, órgão das Nações Unidas para a educação, o Brasil está entre os piores avaliados em termos de leitura e compreensão de texto: ocupa o 47º lugar entre os 52 países pesquisados.

Os motivos para os baixos índices de leitura no país vão desde os altos custos do livro até a falta de incentivo à leitura. E é aí que vem o problema. Para muita gente, ler não é sinônimo de diversão, mas sim de obrigação. Ler, entretanto, pode ser uma experiência maravilhosa. É uma forma de apreender o mundo e se colocar nele. Vai muito além de percorrer frases com os olhos e decodificar o que está escrito. Ler é aprender, ensinar e explicar. É por meio da leitura que se tem acesso ao conhecimento, que conseguimos sonhar de olhos abertos, viajar sem sair do lugar. 

A leitura tem um papel significativo no desenvolvimento social, emocional e cognitivo da criança, contribuindo para a formação de um indivíduo crítico e ativo, responsável por sua aprendizagem e atuante na sociedade, por compreender o contexto em que vive e identificar como modificá-lo de acordo com a necessidade. 

Mas não é isso o que tem acontecido. As novas tecnologias estão cada vez mais ocupando um lugar importante no nosso cotidiano e principalmente no dia a dia das crianças. É comum vê-las brincando sozinhas com aparelhos sofisticados, de computadores e videogames, passando por outros aparatos tecnológicos. A internet pode ser uma fonte inesgotável de informações que ajudam na aprendizagem, mas isso só se realiza se o usuário já é um leitor para que possa aproveitar todas as oportunidades que o recurso oferece. 

A leitura não está sendo explorada nem pelas escolas e nem pelas famílias. Nas escolas, devido a pouca informação dos professores e a pesada carga diária a que são submetidos, a prática da leitura acaba sendo relegada. É possível imaginar um professor de natação que não saiba ou não goste de nadar? Mas nas salas de aula há hoje professores desabituados à prática da leitura. Cria-se assim um círculo vicioso. O mesmo se repete nas famílias: as crianças não veem em seus pais o exemplo. 

É possível reverter essa situação. Segundo especialistas, existem dois fatores para despertar o gosto da leitura nas crianças: a curiosidade e o exemplo. O livro precisa ter no lar a mesma importância que a televisão. Cabe aos pais lerem mais para os filhos, transformando aquele momento numa experiência de troca de afeto e de informações. Basta se ter em mente que ler é um hábito que começa a ser construído desde o  nascimento. 

É saudável, já no primeiro ou segundo ano de vida da criança, os pais investirem em livros de pano ou plástico com figuras atraentes, para que elas se familiarizem com o formato e o virar as páginas. Outro costume importante é ler “estórias” aos filhos antes deles dormirem (e não se importar ao contar dez vezes a mesma “estória”), ou simplesmente levar as crianças a bibliotecas ou livrarias. Ao mesmo tempo, cabe aos pais lerem mais para si mesmos, para dar o exemplo e desenvolver na criança o hábito de ler por prazer, não por obrigação. 

Para melhorar a situação nas escolas, cabe ao poder público investir na formação docente. É preciso uma política do livro e da leitura que subsidie programas de acesso ao livro e crie condições para que sua prática seja estimulada por professores preparados para mergulharem com seus alunos no maravilhoso mundo das aventuras, mistérios e fantasias que o livro pode trazer.

Se pais e professores acreditarem que, além de informar, instruir ou ensinar, o livro pode dar prazer, encontrarão meios de mostrar isso a seus filhos e alunos. Naturalmente, a criança vai querer descobrir toda a alegria, prazer e magia que a leitura proporciona. E quem sabe com esse novo hábito – a leitura – , podemos pensar mais e melhor o futuro do Brasil.

01 de junho de 2013
Jean Gaspar, mestre em Filosofia pela PUC/SP, é presidente da Liga do Desporto, entidade que promove atividades físicas e desportivas como instrumento de educação e formação da cidadania. 

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