Lula se considera um extraordinário negociador desde quando o presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo fechava acertos com patrões. Depois de inaugurar a base alugada no Congresso, concluiu que o Brasil era pequeno demais para um gênio da raça. Era hora de mostrar ao mundo que não merecia menos que a secretaria-geral da ONU ou o prêmio Nobel da Paz (ou as duas coisas) um estadista capaz até de juntar na mesma mesa tribos de antropófagos rivais que já se devoravam no tempo das cavernas.
Desempenhando simultaneamente os papéis de presidente do Brasil e conselheiro do mundo, nosso Lincoln de galinheiro não perdeu nenhuma chance de intrometer-se em assuntos que ignora, dar palpites onde não fora chamado e envergonhar o país que pensa com a declamação de ideias de jerico. Ao baixar no Oriente Médio, por exemplo, tratou a mais complexa das crises como se estivesse apitando um jogo entre a 25 de Março e o Bom Retiro. “Os turcos e judeus que vivem em São Paulo sempre se entenderam muito bem”, recitava, com a expressão superior de quem estava pronto para liquidar com meia dúzia de conversas o conflito entre árabes e israelenses.
Como nunca soube direito em no que se meteu, Lula jamais saberá avaliar a extensão da gabolice. Fora do Planalto há dois anos e meio, continua caprichando na pose de gênio da raça.
Mas a confiança sem limites no taco mágico sumiu, informa a distância que o tem separado das manifestações de rua em São Paulo. Nesta terça-feira, por exemplo, o padrinho de Fernando Haddad soube que um grupo de vândalos tentava invadir o prédio da prefeitura sitiado pela multidão. Em vez de correr para a área conflagrada e negociar a paz, Lula mandou dizer que confiava no poder de persuasão do companheiro prefeito.
Tradução: Haddad que se virasse. A sorte do prefeito foi ter deixado o gabinete meia hora antes da chegada dos manifestantes. Lula só é solidário com Lula.
19 de junho de 2013
movcc
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