"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 19 de junho de 2013

OLAVO, O SOBREVIVENTE

           
          Artigos - Cultura                  
olavoDaqui a 20 ou 30 anos, se a cultura brasileira conseguir sobreviver ao processo de esvaziamento espiritual que a vem degradando continuamente, o filósofo Olavo de Carvalho será lembrado como o grande líder intelectual das últimas gerações.
Ainda que a mentalidade revolucionária espalhe o seu domínio absoluto sobre todos os campos do saber, sempre haverá alguém para afirmar – talvez não em voz alta, por causa da patrulha – que o célebre autor de O Imbecil Coletivo resistiu corajosamente à marcha do nosso país rumo ao brejo da barbárie ideológica.
Desde 1994/95, quando lançou os fundamentais A Nova Era e a Revolução Cultural e O Jardim das Aflições, Olavo de Carvalho tem sido uma referência para quem acredita na cultura como expressão dos mais altos valores espirituais de um povo. De 3 a 7 de junho, o professor Olavo reuniu, na sua casa-biblioteca em Richmond (EUA), cinco escritores para discutir a degradação cultural brasileira e os rumos da literatura em língua portuguesa.
Para descobrir se há luz no fim do túnel, ou mesmo se existe um túnel, estiveram em Richmond o crítico literário Rodrigo Gurgel, o cientista político e jornalista Bruno Garschagen, o poeta e ensaísta Ângelo Monteiro e o professor e filósofo português Miguel Bruno Duarte. Este cronista também teve a honra de ser convidado. Lá, ouvi muito mais do que falei; aprendi muito mais do que expressei; testemunhei muito mais do que contribuí. Meu melhor momento foi imitar a voz de Lula para o grupo. Modéstia à parte, fiz sucesso.

De certa forma, o encontro em Richmond foi o ápice de uma trajetória iniciada há 18 anos – no tempo em que eu lia escondido os artigos de Olavo, sem ter coragem de confessá-lo aos meus colegas de militância política. Graças a ele, e aos autores que ele indicava, abandonei todos os resquícios da minha mentalidade revolucionária – as escamas dos olhos e os tampões dos ouvidos.

No Evangelho de Mateus, temos a preciosa imagem do grão de mostarda. É a menor entre as sementes da terra, mas se torna a maior das hortaliças, e cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu podem aninhar-se debaixo de sua generosa sombra. A vida de Olavo é plantar essa semente.

Vivemos tempos difíceis. Tempos profetizados por Gustavo Corção, nos quais “a atividade impera sobre a contemplação, o apetite domina o juízo, a opinião substitui a verdade”. Mas a existência de um pensador como Olavo de Carvalho nos faz ter a certeza de que as portas do inferno não prevalecerão. Não é por acaso que o nome Olavo quer dizer “o sobrevivente”. Já achamos o túnel; procuremos a luz. E que não seja a luz de um ônibus ou um dentista em chamas.
 

Publicado no Jornal de Londrina e na Gazeta do Povo.
 
19 de junho de 2013
Paulo Briguet é jornalista.

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