É de impressionar a miopia de nossos dos prefeitos e governadores quando, ao reconhecerem o direito do povo de protestar sem a depredação do patrimônio público, postura que não poderia ser diferente, insistem em convocar os líderes dos movimentos que despertaram a consciência do país para seus autênticos problemas.
Não entenderam ainda que há novos processos de arregimentação e que, pelo menos nessas fases iniciais de erupção, não há responsáveis definidos, partidos aproveitadores nem ideologias inspiradoras e que, portanto, têm que ser revistos com urgência os métodos de diálogo com os quais, nas três camadas de poder, estão acostumados como políticos tradicionais.
No momento, talvez o melhor que têm a fazer seria entrar num sério período de reflexão e, nos recônditos de seus gabinetes, identificar as verdadeiras molas propulsoras das mobilizações e reconhecer nelas as reais lideranças, embora imateriais na maioria dos casos, com as quais terão que negociar daqui por diante.
Como sugestão, aqui vão algumas questões que poderão desempenhar esses papéis e sobre as quais o seu poder de influência, como governantes, pode interagir: investimento continuado em mobilidade urbana, que hoje é indigna, sem término coincidente com o fim do mandato; condições de saúde pública quase genocidas; segurança pública falida que tira do cidadão, desarmado, a tranquilidade mínima de se movimentar; educação falsamente embandeirada e classificada, em termos internacionais, como de qualidade pífia; programas de assistência social eleitoreiros, despreocupados com a aquisição de dignidade do cidadão beneficiado, obtida com a oferta de empregos; inflação batendo à porta, artificialmente enfrentada e retratada com índices que não são verdadeiros; classe política melancólica , completamente divorciada do interesse público mas antenada na obtenção de fortuna e poder individuais, articuladora de ações que visam, por exemplo, ao enfraquecimento da ação jurídica para investigar; justiça lenta, impotente para efetivar o cumprimento de penas de condenados no maior esquema de corrupção política de que se tem notícia, alguns até cumprindo mandatos parlamentares; gastança de dinheiro público em eventos de pão e circo; atmosfera de corrupção generalizada e impune; falta de transparência nos projetos que afetam a vida dos munícipes.
Essas são algumas das muitas "lideranças" com as quais nossa presidente, governadores e prefeitos terão que dialogar daqui para a frente, com a desculpa por outras que não foram lembradas, não menos importantes, e que nossos políticos e governantes sabem que existem.
19 de junho de 2013
Paulo Roberto Gotaç é Capitão-de-mar-e-guerra reformado.
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