Certa vez escrevi que quando uma determinada teoria provoca uma revolução muito grande numa área do conhecimento humano, a primeira coisa que acontece é escapar do seu campo original e “ocupar” (já que o termo está na moda) outros. Convido vocês a imaginarem a história da Medicina, da Arte ou do Direito... Enfim, quem sabe até da própria Ciência e da Filosofia como estradas.
Essas estradas podem não ter fim, mas certamente tiveram um início. Fica fácil, para qualquer um, entender se alguém está avançando ou retornando no tempo, né? Pois bem, pergunto agora – e se ao invés de nos preocuparmos com o comprimento da estrada nós pensássemos na sua “largura”??
Começo assim esse pequeno artigo sobre a chamada “transversalidade” - expressão adorada por certos expoentes da “Unidiversidade” Brasileira. Duvido muito que exista, em toda história do pensamento contemporâneo duas doutrinas que tenham provocado um impacto tão grande na cultura ocidental quanto o marxismo e a psicanálise.
Não vou me estender aqui sobre o que poderia haver de comum na origem delas. Teríamos que falar sobre Nietzsche, e aí o texto perderia o seu sentido. Não pretendo também discorrer sobre a psicanálise - é sobre marxismo, meus amigos, que vamos escrever agora.
Recentemente foi divulgada na internet a informação (pouco me importa se verdadeira ou falsa) de que o Ministério da Educação e Cultura (MEC) teria iniciado uma campanha estimulando as adolescentes brasileiras a praticarem sexo oral com seus namorados afim de evitar a gravidez não desejada. Pois bem, Milton, e o que isso “tem a ver” com teu artigo??
Tem “a ver” da seguinte maneira: essa notícia provoca no leitor uma reação emocional. Essa reação está vinculada ao terreno da moralidade. As pessoas vão gostar da ideia e estimulá-la (considerando a proposta moral) ou vão se revoltar e dizer claramente que trata-se de algo imoral. Ora, meus amigos, está na restrição a essas duas opções a evidência de um erro extremamente perigoso quando tratamos de pensar sobre o movimento revolucionário.
Não é preciso investir tempo no estudo de Antônio Gramsci para entender como o marxismo, desde os seus primórdios, opera dentro do campo da moralidade. Sabem como ele opera?? Ele NÃO opera! Isso mesmo, leitores, o marxismo não é uma doutrina moral e muito menos imoral - ele é AMORAL! Existe na troca da letra “i” pela “a” uma mudança total de significado.
Se não; vejamos. Todo movimento revolucionário da esquerda sustenta que a história tem regras próprias que podem ser estudadas cientificamente, que a base formadora da sociedade é econômica e que é a luta entre as classes que faz com que ela “vá pra frente”. Decorre que dessa definição, que mudou toda história do pensamento a partir do século XIX, a idéia de que a cultura e os seus valores – principalmente os morais – são mera consequência de uma relação de trabalho.
Destruindo-se a relação de trabalho, destrói-se a moralidade. Toda genialidade de Gramsci foi compreender que poderia se operar de maneira inversa e destruir a cultura para mudar o modo de produção. O que os dois métodos tem em comum é o fanatismo revolucionário. Vejam que não há, em nenhuma das hipóteses, lugar para sobrevivência de uma moral considerada “arcaica”.
Pois bem, já vimos o tamanho do impacto do marxismo na estrada do pensamento. Ele mudou muito mais a “largura” do que o “comprimento” do caminho, não é? Tornou-se uma espécie de “pensamento transversal” capaz de invadir outras áreas do conhecimento provocando nelas uma revolução muitas vezes maior do que a do seu campo original e concluímos que não há espaço para moralidade na revolução.
Talvez tendo isso em mente seja mais fácil se livrar da impressão de “esquizofrenia” petista. “Como podem, Milton, os petralhas dar dinheiro para que as mulheres mostrem seus corpos na Marcha das Vadias e ao mesmo tempo apoiar regimes em que elas andam de burca??” Quem leu o texto até aqui já sabe a resposta – Por que isso não tem o menor significado dentro do processo revolucionário, gente! A proposta de discussão do tema como “paradoxo” não faz sentido algum na cabeça de um marxista.
Lembrem sempre disso quando usarem “padrões morais” para avaliar se aquilo que o PT faz é certo ou errado... essa discussão não existe. Estudem por exemplo Mao Tse Tung (Do Manejo Correto das Contradições no Seio do Povo) e verão que é “bom ou correto” aquilo que serve ao partido e a revolução ...Todo, prestem bem atenção, TODO o resto não faz a mínima diferença..
Talvez um dia os brasileiros saiam às ruas perplexos e assistindo duas passeatas ao mesmo tempo...uma delas pedindo para as meninas “praticarem sexo oral” e outra sugerindo que se “casem virgens”. As duas vão estar sendo financiadas pelo mesmo Partido... As duas vão servir para esse Partido desviar dinheiro público... e entre elas não vai haver “contradição” alguma. O Brasil finalmente vai ter adotado completamente outro tipo de “pensamento” - um Pensamento Transversal.
Porto Alegre, 19 de julho de 2013 AVC (antes da vinda dos cubanos)
20 de julho de 2013 Milton Simon Pires é Médico.
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