A inflação continuará acima da meta em 2013 e o Banco Central (BC) manterá a política de aperto para frear e conduzir a alta de preços ao nível desejado, segundo a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada quinta-feira passada. Oito dias antes o comitê havia elevado os juros básicos de 8% para 8,5% ao ano.
Em pontos muito importantes, o texto repete a ata da reunião anterior, mencionando inflação elevada e resistente e apresentando uma longa lista de fatores de risco - incluídas as contas públicas - para justificar a "continuidade do ritmo de ajuste das condições monetárias".
Na quarta-feira, numa arenga em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, a presidente havia descrito a inflação brasileira como um fenômeno de "caráter cíclico sazonal". É difícil dizer de onde ela tirou essa espantosa confusão entre sazonalidade e processo inflacionário. Mas um ponto é certo: ela se esqueceu de combinar com os dirigentes do BC o recado otimista sobre os preços e sobre a situação das contas fiscais.
Em seu discurso, a presidente mencionou a inflação nove vezes, num esforço para tranquilizar a opinião pública - ou os formadores de opinião? - e criticar quem fala em descontrole dos preços e das finanças públicas. A ata da reunião do Copom já deveria estar pronta nessa altura.
Talvez por isso, ou porque nenhuma pessoa responsável pudesse levar a sério a peroração presidencial, a ata descreve o balanço do setor público, nos parágrafos 22 e 30, como "em posição expansionista".
Pelo menos desde o ano passado os documentos do BC têm apontado os resultados fiscais como componentes importantes do quadro inflacionário. O desajuste das contas públicas favorece o descompasso entre a demanda e a oferta de bens e serviços. Além disso, a gestão das finanças do governo afeta a avaliação econômica e as expectativas em relação aos preços. Os autores das atas têm repetidamente batido nesses pontos.
Além disso, o documento repete a lista costumeira de fatores inflacionários: a expansão do crédito, a "estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho", os aumentos salariais acima dos ganhos de produtividade e os mecanismos remanescentes de indexação. O texto menciona, também, os efeitos de curto prazo da valorização do dólar.
Todos esses fatores são bem conhecidos e têm sido apontados no dia a dia por analistas independentes. Não há, na análise formulada pelo pessoal do Copom, nenhum elemento surpreendente ou fora do comum, com exceção, talvez, de um detalhe.
Ao contrário de altos funcionários do governo e de alguns especialistas do mercado, os economistas do BC parecem imunes ao otimismo gerado, em alguns meios, pelo recuo de alguns indicadores de preços. Esse aparente pessimismo é um bom sinal. A persistente inflação brasileira é um fenômeno bem mais complexo que a oscilação de alguns preços, mesmo alguns muito importantes, como os dos alimentos.
Embora os autores da ata mencionem alguns preços ou grupos de preços, como as cotações das commodities, a maior parte de sua análise se concentra nos fatores determinantes da demanda, como o crédito, a renda dos consumidores e o resultado das contas públicas. Seu critério, portanto, é exatamente oposto ao da presidente: fatores sazonais podem produzir efeitos de curto ou curtíssimo prazo, mas a inflação depende de outras variáveis.
A ata do Copom também chama a atenção para a importância das expectativas. O texto menciona "informações recentes" sobre a retomada do investimento e a continuidade do consumo privado, mas acrescenta uma ressalva: para preservar essa tendência positiva, o governo terá de reverter a perda de confiança dos empresários e das famílias. A piora das expectativas tem sido apontada por pesquisas com executivos e consumidores.
Para mudar esse quadro, a presidente continua apostando numa retórica mal ajambrada e em gestos improvisados, como a proposta de plebiscito e a imposição de serviço obrigatório aos médicos.
20 de julho de 2013
Editorial do Estadão
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