A política se faz com grandes questões e pequenas simbologias. Cabeleireiros e liquidificadores a peso de ouro, viagens festivas pela FAB ou pagas com dinheiro público... Essas coisas, tão concretas e de fácil compreensão, têm até mais impacto do que milhões de reais dos grandes desvios.
Muitos políticos, alguns valorosos e respeitados, outros nem tanto, jogaram a imagem pela janela por pequenas grandes coisas que revelam ganância, vaidade e desrespeito à barreira entre o público e o privado.
Bom exemplo é o do ex-deputado Paes de Andrade. Homem culto, foi "autêntico" do MDB e presidiu a Câmara quando presidir a Câmara era distinção reservada aos mais experientes e com reputação ilibada.
Interino na Presidência da República, em 1989, lotou um avião oficial com a parentada e os conterrâneos e foi comemorar na sua cidade natal, Mombaça, no Ceará. Passou uma borracha no próprio passado e jamais se livrou da alcunha de "estadista de Mombaça".
Como é que, décadas depois, e justamente quando milhares estão nas ruas exigindo ética na política, os experientes Henrique Alves e Renan Calheiros caem na mesma esparrela?
Henrique é de tradicional família política, o mais antigo deputado. Renan, reincidente, é político de quatro costados. E ambos fazem um esforço comovente para adequar a pauta do Congresso às demandas das ruas e, assim, lustrar as próprias biografias.
É inacreditável que um leve a namorada e seis agregados de Natal ao Rio, e o outro carregue a família para um casamento na Bahia em avião da FAB. Fruto da sensação de impunidade, da cultura de levar vantagem em tudo e da síndrome dos políticos no poder: acreditar que "a casa é minha". Não é. E o pior para eles é que a opinião pública agora sabe que não é -- e cobra compostura.
Dilma e Cabral não foram ver a vitória do Brasil para fugir das vaias. Mas o risco de Henrique é maior: virar para sempre "o estadista do Maracanã".
05 de julho de 2013
Eliane Cantanhede, Folha de São Paulo
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