"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 5 de julho de 2013

PRIMAVERA ÁRABE NO EGITO FOI APENAS PRENÚNCIO DA NOVA DITADURA



   

Quando houve a Primavera Árabe, que se iniciou na Tunísia e teve o ápice no Egito, publicamos aqui um artigo em que dizíamos que o povo egípcio ainda ia ter saudades do ditador Hosni Mubarack, o terceiro depois do fim na monarquia, em 1952, com a deposição do Rei Farouk.

As ditaduras sempre foram moderadas e o Egito se tornou um dos países árabes mais ocidentalizados (outro é o Líbano). A primeira eleição mais ou menos livre no país ocorreu em função da Primavera Árabe e o vencedor foi Mouhamed Mursi, que representava a Irmandade Muçulmana, maioria islâmica do país.

Naquela época, comentamos que não podia dar certo essa mistura de religião e política, num país importante como o Egito. Foi o que aconteceu. Na verdade, a ditadura egípcia sempre foi comandada pelos militares, que só esperavam a oportunidade de voltarem ao poder.

IRMANDADE MUÇULMANA  

Não adianta a Irmandade Muçulmana anunciar que não vai participar de qualquer diálogo com as novas autoridades do país e condenar o “golpe de Estado”. Em nota oficial, a Irmandade apela para protestos pacíficos e critica qualquer forma de violência:  

“Rejeitamos as práticas repressivas do Estado policial, como os assassinatos, as detenções e as restrições à liberdade dos meios de comunicação e o fechamento de canais de televisão”, acrescenta o comunicado, referindo-se à detenção, pelas forças de segurança, de dirigentes e apresentadores de canais de televisão religiosos islâmicos no Cairo e ao cancelamento de suas emissões.

Um dos obstáculos à democratização do Egito é o fato de a Justiça sempre estar ligada aos militares Agora, por exemplo, a Justiça a proibiu a saída do país do presidente deposto, que está em lugar desconhecido e será investigado por acusações de insulto ao Poder Judicial, assim como oito dirigentes da Irmandade Muçulmana.

LÍDER FOI PRESO

De acordo com fonte dos serviços de segurança, a Polícia Militar deteve hoje o líder supremo da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie, a pedido da Procuradoria egípcia.

A Procuradoria tinha já ordenado a prisão dos líderes da organização e de seu partido, Liberdade e Justiça, em operação que foi desencadeada na noite passada, logo após o alto comando militar ter anunciado a deposição de Mouhamed Mursi.

Em comunicado, o partido salafista Al Nur, que ficou em segundo lugar nas eleições legislativas egípcias, considerou a experiência de Mursi no governo “um fracasso, em consequência de práticas equivocadas que conduziram a uma divisão da sociedade egípcia”.

O Al Nur diz que apresentou várias propostas para superar a crise política, que foram rejeitadas pela Presidência, contribuindo para que a oposição política a Mursi se convertesse em “oposição popular apoiada pelas instituições do Estado”.

05 de julho de 2013
Carlos Newton

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