"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

DO FUNDO DO BAÚ...

O maior dos presidentes está pronto para virar Pedro III
No primeiro dia da Grande Viagem pelo São Francisco, o país ficou sabendo que o maior dos presidentes é também muito melhor que os dois imperadores. D. Pedro I foi ultrapassado em 6 de setembro, quando Lula, de uma vez só, anunciou o Descobrimento do Pré-Sal e proclamou a Segunda Independência. D. Pedro II capitulou nesta semana, na cidade mineira de Buritizeiros, durante o improviso do chefe da nação e chefe da caravana de pais-da-pátria convocada para conferir, olho no olho, a transposição das águas do rio.

“Nós nos damos até o luxo de fazer uma obra que dom Predo queria fazer há 200 anos atrás”, informou. A inversão das letras no nome ilustre reitera que o orador precisa contratar urgentemente um revisor oral instantâneo. O recuo no tempo avisa que alguém tem de enfiar noções de História na cabeça do presidente que nunca estudou: em 1809, quem reinava no Brasil era o pai do primeiro imperador e avô do segundo. A omissão do I ou do II acompanhando o Pedro mencionado no discurso sugere que Lula, embora desconfie de que o Pedro da transposição foi aquele de barbas brancas, acha que alguém resolveu embaralhar ainda mais a memória do Brasil com a troca dos algarismos romanos. Desde que viu os retratos dos dois, não acredita que o moço com cara de quem está pensando na mucama seja o pai do outro com cara de avô.

Não importa: Lula fez em menos de sete anos o que não fizeram, juntos, todos os Orleans e Bragança. “Quase 200 anos depois”, continuou a fala do trono, já de volta aos inimigos da República, “essa obra não conseguiu andar para a frente, porque nós tivemos muitos governantes de duas caras, que prometiam fazer a obra em um Estado e não faziam”. Se fosse só a transposição do São Francisco, Lula nem perderia tempo com a multidão de bifrontes. Mas tem todo o direito de queixar-se da trabalheira o presidente que, como os antecessores nada fizeram, também teve de acabar com a fome, erradicar o analfabetismo e fabricar em poucos meses um sistema de saúde que está perto da perfeição. Sem falar do tsunami reduzido a marolinha. Fora o resto.

“A água é criada pela natureza, o rio é federal, é o rio da integração nacional”, concluiu o rei do improviso, que apareceu na escala seguinte já encarnando o déspota não esclarecido. Ao longo de 3 dias, levou Dilma Rousseff para não pescar nenhum peixe, autorizou o povo do Nordeste a comer cobras, calangos e passarinhos, ordenou a José Serra que fique esperto e se limite a governar São Paulo, dormiu em aposentos de barão sertanejo, comparou a ONU a uma fruta caindo do galho, foi o primeiro a acordar e o último a dormir, cantou muito, conversou muito, comeu muito e bebeu socialmente. Tremenda viagem. Melhor que isso, só uma eleição presidencial com dois candidatos: “Só nós contra eles, pão, pão, queijo, queijo”, vislumbrou o olhar de comício.

Quem poderá resistir a uma candidata escolhida por quem fez a transposição que vai acabar com a sede e a seca no sertão? É verdade que o que foi investido na revitalização do rio representa apenas 3,88% do total. É verdade que o conjunto da obra mal chegou a 15%, que o dinheiro chega sempre com atraso, que a coisa vai demorar. Mas só os famosos 6% de descontentes encontram tempo para lembrar-se disso bem na semana em que o maior dos presidentes ficou pronto para virar Pedro III.
17 outubro de 2009
augusto nunes

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Se alguma virtude pode ser apontada em Lula, é a sua modéstia... Autor de discursos que nos brindaram com obras faraônicas, que nos deixava a todos estupefatos ante tanta audácia (e tanta mentira!), mas cujo único propósito era enganar os ingênuos eleitores, e apresentar-se como um gigante, o gigante do "nunca antes nesse país..."
A transposição do São Francisco que fez dele - em sua imaginação megalômana o Pedro III - hoje não passa de um valão de concreto, inconcluso, rachado, abandonado, representando uma fortuna desperdiçada, mas que encheu de glória esse quase imperador, e fez o orgulho dos crédulos nordestinos.

Agora chega a imperatriz, e com ela o seu séquito de puxa-sacos, garantindo, como o velho refrão do Adhemar de Barros - "dessa vez, vamos" - que vai correr água em abundância no sertão.
Uma espécie de "Antonio Conselheiro" moderno e petista, ou melhor "Conselheira", com as promessas de um novo império brasileiro, no qual jorrará mel e água...
Esperar para ver o quanto vai nos custar a continuação dessa estupidez, mas que faz a fortuna e a glória das construtoras "achegadas ao poder".
Quem viver verá...
m.americo

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