Quando Gilberto Carvalho dá uma dentro, Dilma o lança às feras.
Nunca antes na história desse país, a população assistiu a uma cena tão deprimente, degradante e humilhante: um ministro de Estado, cabisbaixo, constrangido, curvando-se diante de um monte de deputados evangélicos, clamando por perdão, como fazem os incautos diante do culto desses farsantes nos templos ou nos horários infindáveis das televisões.
A cena, uma das mais bizarras e toscas, foi mostrada para os brasileiros por todas as emissoras de TV. Lá estava um farrapo de gente, caminhando a passos trôpegos para o purgatório dos crentes que, como uns diabinhos, infernizaram o juízo do ministro, homem de confiança da presidente, até ele desmentir o que disse no Fórum Social Mundial de Porto Alegre.
Gilberto Carvalho é o ministro mais importante do país, homem de confiança da presidente Dilma, está no Planalto desde o primeiro mandato de Lula. Até, então, pelo que se sabe, era uma espécie de conselheiro, moderador e interlocutor político.
Pesava contra ele, entretanto, denúncias de envolvimento nas artimanhas que lavaram à morte o prefeito Celso Daniel, de Santo André, a quem serviu como secretário de Comunicação e de Governo. Paranaense de Londrina, católico fervoroso, de ainda beijar mão de padre, Carvalho foi mandado ao calvário pela presidente Dilma que, a exemplo de Lula que compartilhava seu governo com a esquerda, com a direita, com o centro, com o diabo e com Deus, manda também às favas a ética e os amigos se for para o partido continuar no poder sem arranhões.
O ministro foi crucificado porque disse no fórum social o que todo mundo já sabe. Pelos programas de televisão, os evangélicos iludem, ludibriam e extorquem as classes “c” e “d” . Alimentam suas gordas contas bancárias e se elegem com os milhares de votos dos miseráveis que se apegam à fé como instrumento de salvação da alma, deixando de comer para pagar o dízimo em dinheiro e até em bens materiais.
Antes de ir à Câmara, Gilberto Carvalho já havia sido satanizado pelo senador Magno Malta de forma baixa e vil. Malta extrapolou a ética para chamar o ministro de “safado” e “mentiroso” pelas suas declarações.
A irracionalidade do senador tinha recado certo: Malta sabe que o ministro estudou teologia por três anos e militou na Pastoral Operária, ligada à Igreja Católica da qual foi secretário-geral entre 1985 e 1986.
Os evangélicos incultos como Malta, que evocam a fome e a miséria na infância como exemplos de sucesso para atrair fiéis, não queriam apenas atingir Gilberto Carvalho, mas enfraquecer a igreja do ministro com um eficiente merchandising.
Mas o lamentável disso tudo é a agnóstica presidente Dilma entregar o seu ministro às feras. Ela mostra, com isso, que gente de confiança de Lula ao seu lado é coisa do passado. E a forma que encontrou para empurrar seu principal ministro de porta à fora foi expondo-o ao ridículo, conduzindo seu cordeiro à arena dos leões famintos.
Por Jorge Oliveira
17 de fevereiro de 2012
Por Ricardo Froes
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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