Há mais de 60 anos, Mao Tsé Tung, o timoneiro chinês, líder da Revolução Comunista de 1949, responsável pela Grande Marcha rumo à capital Pequim, a qual culminou com a derrubada do poder do presidente Chiang Kai Check, jamais poderia imaginar a transformação do país em potência militar e econômica e no novo império que surge no horizonte.
O presidente deposto por Mao na esteira da Revolução fugiu para a ilha de Taiwan, transformando-a na capital do que é hoje a China capitalista, que vive ameaçada constantemente por Pequim.
Durante décadas, a China se preparou para o salto qualitativo em que se encontra agora no século 21. Na década de 60, o Comitê Central do Partido Comunista, sob a inspiração de Mao, implementou a controvertida Revolução Cultural.
Intelectuais, estudantes, membros da hierarquia do partido, professores e trabalhadores das cidades foram obrigados a passar temporadas no campo para conhecerem o país. Em uma democracia seria quase impossível esse movimento estratégico.
A China viveu nas décadas de 60, 70 e 80 diversas crises políticas, econômicas e financeiras, entretanto o Primeiro Ministro Zhou En Lai conseguiu com rara habilidade e sabedoria contorná-las com o auxílio do vice-primeiro Ministro Deng Xiau Ping. Ocorre que adveio o imponderável: A morte do verdadeiro revolucionário Zhou En Lai em 1976. Mao ficou sozinho na tarefa de comandar a China rumo ao futuro.
Com a perda do homem-equilíbrio, daquela sabedoria milenar respeitada por todos os membros do Politiburo, iniciou-se uma acirrada luta pelo poder. A primeira consequência foi o afastamento de Deng Xiau Ping, já em guinada acelerada rumo às ideias ocidentais.
O vácuo de poder foi ocupado pela esposa de Mao e três auxiliares denominados de Grupo dos Quatro. Nesse interim, o timoneiro da Revolução ficou doente e se afastou do centro das decisões. Com a morte de Mao, o governo interino foi ocupado pelos Quatro, que logo foram afastados e presos por ordem do Partido Comunista.
Então, irrompe a grande virada da China, com a chegada ao poder de Deng Chiau Ping, o auxiliar do revolucionário Zhou En Lai. O sistema político se mantém inalterado sob o comando do Partido Comunista, mas no campo econômico o novo chefe inaugura a entrada do país na economia de mercado e rompe com décadas de estagnação, voltada somente para o mercado interno.
De olho no mercado chinês, o secretário de Estado americano Henry Kissinger preparou a visita do primeiro presidente americano, o republicano Richard Nixon, ao país asiático. O resultado da visita foi impressionante, acordos celebrados em profusão e logo empresas estadunidenses começaram a se instalar na China de olho no mercado consumidor (mais de um bilhão de habitantes), nos incentivos fiscais e na mão de obra barata.
Com a morte de Deng, responsável pela introdução da China na economia capitalista, o destino seguiu seu curso. Não era mais possível parar a roda do progresso, então se solidificou a entrada da China definitivamente no modelo capitalista de produção.
Contudo, na seara política encerrou-se o capítulo dos líderes permanentes. Os indicados pelo Partido Comunista passaram a ter mandatos fixos.
O presidente atual Hu Jintal deverá ser substituído por Xi Jinping e o primeiro ministro Wen Jiabau, provavelmente será substituído por Li Keqiang.
Os chineses rejeitam a liderança pessoal, carismática, midiática e personalista, que denota um viés individualista, logo destoando da política coletiva, uma característica do modo de ser desse país milenar, comunista e voltado para os interesses soberanos da nação. Mais uma contradição evidente, pois a economia de mercado é essencialmente individualista nos seus princípios.
A China se transformou rapidamente na 2ª maior economia do mundo, contudo ainda existem muitos pobres e realidades de país subdesenvolvido. O crescimento surpreendente de 8% a 10% ao ano por 30 anos consecutivos assustou as potências ocidentais. Ávidas por lucros, empresas multinacionais se instalaram na China. Os custos dos produtos se tornaram imbatíveis e a produção de manufaturados não encontra paralelo em nenhum país desenvolvido ou emergente.
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O OUTRO LADO DO PROGRESSO
O modelo baseado nas importações de commodities agrícolas e minerais e nas exportações de manufaturados provocou um crescimento desequilibrado e sem a devida preocupação com o meio ambiente. A poluição dos rios, do ar e do solo atinge proporções alarmantes. A desertificação do norte da China é uma realidade incontestável. Em poucos anos, a falta de água se tornará um drama sem precedentes em um país de mais de 1(um) bilhão e trezentos milhões de habitantes.
De olho nas consequências do crescimento desequilibrado, os delegados do Congresso Nacional do Povo decidiram reduzir a meta de crescimento para 7,5% neste ano. Por outro lado, os chineses ligaram o sinal de alerta para os efeitos da desigualdade social, da disparidade econômica entre o campo e a cidade, entre as regiões leste, oeste e norte, entre os salários dos executivos e do proletariado, e a quase ausência de benefícios sociais inerentes aos países capitalistas do ocidente.
Os membros do Comitê Central identificaram no atual modelo de crescimento o perigo da inflação, a iminência de uma bolha imobiliária e a pressão da sociedade chinesa por mais liberdade de expressão. São os efeitos do desenvolvimento e da globalização da economia.
Os líderes da nação tentam entender os motivos que levaram a desagregação do império soviético. Seus vizinhos foram divididos em vários países, perderam a supremacia da metade do mundo e o status de superpotência. O exemplo da antiga União Soviética assusta o nascente Império.
É preciso estudar e entender a razões que levam à desagregação de uma nação, para que os antídotos sejam usados e os mesmos erros possam ser evitados.
A elite chinesa percebeu que é preciso reduzir o ritmo de crescimento, mudar os rumos, rever conceitos, diminuir as disparidades, de modo a trilhar o caminho da sustentabilidade e evitar a destruição do meio ambiente e o esgotamento dos recursos minerais.
De qualquer modo, o anúncio da desaceleração da economia da China pegou a todos os países ocidentais de surpresa, principalmente os países da Europa em grave crise e os Estados Unidos, que se recuperam lentamente da crise eclodida em 2008 e replicada com força em 2011.
O mundo é feito de contradições em todos os campos da atividade humana e a China é um exemplo instigante, que deveríamos estudar para entender as nossas próprias contradições pessoais e da vida na sociedade em que vivemos. O único perigo será o susto que levaremos com tantas semelhanças.
Alea jacta est.
9 de março de 2012
Roberto Nascimento
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
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