"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 24 de abril de 2012

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY



 PROCURANDO TONICO

Cidadão romano (viveu de 340 a 397) dos começos do cristianismo, nascido na Alemanha de hoje, filho do prefeito da Galia (França), formado em Direito em Roma, Ambrosio nem batizado era. Morreu o bispo de Milão, houve muita confusão para escolher o sucessor, Ambrosio foi à igreja acalmar a briga, o povo gritou: – Ambrosio bispo!
Ambrosio topou. Muito rico, distribuiu os bens aos pobres, estudou Teologia e se tornou um dos maiores doutores da Igreja, converteu Santo Agostinho e fizeram juntos a letra do “Te Deum”, o mais sacro dos hinos.
Sete de setembro é feriado em Milão e não é por causa do Brasil. É o dia de Santo Ambrosio, que deu ao povo tudo que tinha

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TONICO

Coronel Rodrigues era chefe político de Penedo, cidade histórica aqui de Alagoas, nas barrancas do São Francisco, perto de onde o rio mergulha no mar. Coronel dos de antigamente: bom sujeito, boa prosa, bom garfo. E tinha o filho Tonico, menino levado que passava o dia jogando sinuca no bar da praça, mas era seu orgulho.
Um dia, Tonico virou a cabeça e sumiu atrás de uma trapezista do Circo Garcia. Seu Rodrigues quase morre de desgosto. Não saía, não jogava mais biriba com os amigos, triste e amuado em casa, como um boi velho.
Três anos depois, seu Rodrigues recebeu a notícia: Tonico tinha morrido em um desastre em Goiás. Entrou no quarto, passou um dia e uma noite chorando de saudade e mágoa e deixou pra lá.

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PENEDO

O tempo passou, todo mundo esqueceu, Tonico não era mais assunto em Penedo. O velho coronel de quando em vez ia buscar atrás da cômoda o retrato do menino ingrato, que ganhara o vão do mundo com a trapezista loura de pernas grossas e recebera seu castigo na curva da estrada.
De repente chega do Rio um amigo:
– Coronel Rodrigues, vi o Tonico lá. Era ele mesmo. Conversei com ele, não volta porque tem vergonha. Nem o endereço quis dar.
O coronel dormiu duas noites de olho aberto, vendo a cara envergonhada de seu menino fujão. Arrumou a mala, pegou o ônibus.

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CORONEL

Passou dias e noites na estrada para o Rio. Desceu na rodoviária, aquele mundão de gente. Estava tonto e perdido. Viu um guarda:
– Seu guarda, o senhor sabe onde mora Tonico Rodrigues, de Penedo?
– Sei, sim. Na Rua Senador Pompeu, na mesma pensão em que moro.
– Leve-me lá que Tonico deve estar sem dinheiro para pagar a pensão. Já faz uns dias que ele sumiu de Penedo.

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PREFEITOS

As cidades este ano estão procurando prefeitos como o coronel Rodrigues procurou seu Tonico. Já sem esperança de encontrar um decente, como Santo Ambrósio, que ajudava o povo, ao invés de explorá-lo.

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