O empresário Fernando Cavendish, principal dono da Delta Construções, há
poucas semanas personagem recebido com as galas do cortejo por políticos e
administradores públicos, companheiro agradável de viagens, presença constante
em reuniões sofisticadas, num espaço de curto tempo transformou-se em figura
rejeitada e comprometedora.
Ator dramático do poder alucinógeno do dinheiro, que, não por acaso, em vários idiomas é chamado de vil metal. Exagero. Não ele, mas o uso hipnótico dos que fazem dele um objeto de vida. E de estar, incluindo o palco social.
Excelente reportagem de Hugo Marques, Daniel Pereira e Rodrigo Rangel, revista Veja que circulou na tarde de sábado e se encontra nas bancas, reproduz roteiro impressionante de corrupção percorrido por alguém que, por vocação, parecia reunir em si plenas condições para o sucesso empresarial sem comprometer outras pessoas, comprometendo a si próprio de maneira, irrecuperável sob o prisma dos negócios lícitos. As fotos de altíssima qualidade que acrescentam campo visual à matéria são de Dida Sampaio e Eduardo Knapp.
Falei em transações lícitas. Fernando Cavendish preferiu as ilícitas, em larguíssima escala. Personagem central de profundo esquema criminoso com dinheiro público, acusado, como acentua a Veja, de uma torrente de acusações e fatos suspeitos, cometeu erros em cima de erros.
Neste plano entra em ação o poder alucinógeno do dinheiro que o fascinou e o levou a fascinar tantos outros, exemplos da imoralidade pública que assola o país.E de tal forma que, segundo a Folha de São Paulo revelou na edição também de sábado, 79% dos parlamentares assinaram o requerimento constituindo automaticamente a CPI Demóstenes-Cachoeira.
Um aspecto chama especial atenção na reportagem de Hugo Marques, Daniel Pereira e Rodrigo Rangel. A contratação, pela Delta, do ex-ministro José Dirceu como consultor e articulador administrativo. Neste caso, faltou uma política de informação a Fernando Cavendish. Não analisou o conteúdo da iniciativa. Atribuiu a José Dirceu um poder que já teve, quando ministro chefe da Casa Civil, mas não detém mais. Se tivesse o poder de outrora não teria sido demitido pelo presidente Lula, tampouco teria, como teve, o mandato cassado.
Atua na sombra, é verdade. Mas Cavendish superestimou – erro fatal – sua capacidade de influir. Deixou-se levar por um tipo de conversa que já se tornou bastante repetida. Alguém transforma-se em personagem de si mesmo e aparenta ter uma força ponderável no eixo das decisões.Ao longo de minha atividade como jornalista, percebi casos assim. Certa vez, governo Ernesto Geisel, o advogado Benedito Barros chamou para seu escritório o general (da reserva) Morenci do Couto e Silva, irmão de Golberi, chefe da Casa Civil. Quem o indicou a Benedito, como uma chave mestra, esqueceu de informar que Golberi sequer falava com o irmão.
Morenci só inventou falsas informações (caso da massa falida do Correio da Manhã) e formulou interpretações sem base alguma na realidade.Outro caso, do coronel Newton Leitão, época do governo João Figueiredo. Se apresentava como-analista ponte entre setores particulares e os bastidores do Planalto. Um dia, em reportagem de Vítor Combo, O Globo, tornou-se o protagonista principal de um encontro com proprietários de motéis no Rio de janeiro. Apresentou uma proposta de seguro contra assaltos. Era assessor do jornalista Roberto Marinho. Desnecessário dizer que foi imediatamente demitido. Exibia um poder que não possuia. Uma tragicomédia.
Fernando Cavendish afundou-se e afunda a Delta por delirar na busca do ouro. Incorporou Carlos Ramos Cachoeira a seu esquema. Será que não compreendeu que nem todos estão à venda? O dinheiro alucinou-o e a vários outros. Um desastre coletivo, uma vergonha até para o país o efeito alucinógeno que o hipnotizou. E a tantos outros.
24 de abril de 2012
Pedro do Coutto
Ator dramático do poder alucinógeno do dinheiro, que, não por acaso, em vários idiomas é chamado de vil metal. Exagero. Não ele, mas o uso hipnótico dos que fazem dele um objeto de vida. E de estar, incluindo o palco social.
Excelente reportagem de Hugo Marques, Daniel Pereira e Rodrigo Rangel, revista Veja que circulou na tarde de sábado e se encontra nas bancas, reproduz roteiro impressionante de corrupção percorrido por alguém que, por vocação, parecia reunir em si plenas condições para o sucesso empresarial sem comprometer outras pessoas, comprometendo a si próprio de maneira, irrecuperável sob o prisma dos negócios lícitos. As fotos de altíssima qualidade que acrescentam campo visual à matéria são de Dida Sampaio e Eduardo Knapp.
Falei em transações lícitas. Fernando Cavendish preferiu as ilícitas, em larguíssima escala. Personagem central de profundo esquema criminoso com dinheiro público, acusado, como acentua a Veja, de uma torrente de acusações e fatos suspeitos, cometeu erros em cima de erros.
Neste plano entra em ação o poder alucinógeno do dinheiro que o fascinou e o levou a fascinar tantos outros, exemplos da imoralidade pública que assola o país.E de tal forma que, segundo a Folha de São Paulo revelou na edição também de sábado, 79% dos parlamentares assinaram o requerimento constituindo automaticamente a CPI Demóstenes-Cachoeira.
Um aspecto chama especial atenção na reportagem de Hugo Marques, Daniel Pereira e Rodrigo Rangel. A contratação, pela Delta, do ex-ministro José Dirceu como consultor e articulador administrativo. Neste caso, faltou uma política de informação a Fernando Cavendish. Não analisou o conteúdo da iniciativa. Atribuiu a José Dirceu um poder que já teve, quando ministro chefe da Casa Civil, mas não detém mais. Se tivesse o poder de outrora não teria sido demitido pelo presidente Lula, tampouco teria, como teve, o mandato cassado.
Atua na sombra, é verdade. Mas Cavendish superestimou – erro fatal – sua capacidade de influir. Deixou-se levar por um tipo de conversa que já se tornou bastante repetida. Alguém transforma-se em personagem de si mesmo e aparenta ter uma força ponderável no eixo das decisões.Ao longo de minha atividade como jornalista, percebi casos assim. Certa vez, governo Ernesto Geisel, o advogado Benedito Barros chamou para seu escritório o general (da reserva) Morenci do Couto e Silva, irmão de Golberi, chefe da Casa Civil. Quem o indicou a Benedito, como uma chave mestra, esqueceu de informar que Golberi sequer falava com o irmão.
Morenci só inventou falsas informações (caso da massa falida do Correio da Manhã) e formulou interpretações sem base alguma na realidade.Outro caso, do coronel Newton Leitão, época do governo João Figueiredo. Se apresentava como-analista ponte entre setores particulares e os bastidores do Planalto. Um dia, em reportagem de Vítor Combo, O Globo, tornou-se o protagonista principal de um encontro com proprietários de motéis no Rio de janeiro. Apresentou uma proposta de seguro contra assaltos. Era assessor do jornalista Roberto Marinho. Desnecessário dizer que foi imediatamente demitido. Exibia um poder que não possuia. Uma tragicomédia.
Fernando Cavendish afundou-se e afunda a Delta por delirar na busca do ouro. Incorporou Carlos Ramos Cachoeira a seu esquema. Será que não compreendeu que nem todos estão à venda? O dinheiro alucinou-o e a vários outros. Um desastre coletivo, uma vergonha até para o país o efeito alucinógeno que o hipnotizou. E a tantos outros.
24 de abril de 2012
Pedro do Coutto
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