De onde saiu o ex-presidente? Como explicá-lo? Não, o assunto a princípio não é Lula, mas a própria palavra “ex-presidente”. Trata-se de contar uma brevíssima história do prefixo “ex” como denotador de um estado que não mais está em vigor, que ficou no passado.
Evidentemente, tudo o que se disser sobre ex-presidente valerá também para ex-mulher, ex-jogador, ex-amigo, ex-ministro do STF etc.
Evidentemente, tudo o que se disser sobre ex-presidente valerá também para ex-mulher, ex-jogador, ex-amigo, ex-ministro do STF etc.
Segundo o Houaiss, é uma invenção linguística do início do século 19 – e que na época, supõe-se, terá provocado sua cota de escândalo entre os conservadores do idioma – o uso do prefixo “ex”, sempre seguido de hífen, com a função de indicar a validade vencida da condição expressa por um substantivo.
Esse uso se baseia no principal sentido da preposição latina ex (ou e) que passou ao português: o de indicar “movimento para fora, saída”, presente na formação de uma série de palavras.
Algumas delas têm seu antônimo preciso formado com o prefixo in – como exalar (“por o ar para fora”) e exportar (“levar para fora”), opostos de inalar e importar. Outras dispensam essa inversão, mas conservam a mesma ideia, como expulsar (“lançar para fora”) e expectorar (“tirar do peito”).
Curiosamente, e para confundir os incautos, são bem diferentes os sentidos assumidos pela preposição ex, uma das mais ecléticas em sua língua original, na maioria das expressões latinas que têm alguma circulação entre nós – sobretudo na linguagem jurídica, mas não apenas nela. Em ex officio (“realizado por imperativo legal ou em razão do cargo ou da função”), ex quer dizer “por causa de, em consequência de”.
Em ex nunc (“a partir de agora”), significa “desde, depois de”. E numa expressão de razoável circulação no vocabulário artístico como deus ex machina, seu sentido é o de “por meio”.
A coluna terminaria aqui, mas é irresistível registrar o significado de deus ex machina, uma curiosidade em si. Hoje uma forma pejorativa de chamar qualquer solução que se considere forçada ou artificial para um impasse dramatúrgico, sua origem é um recurso respeitável do teatro clássico – o de, por meio de alguma traquitana, a tal machina, literalmente fazer descer no palco um ator representando um deus, a fim de dirimir conflitos entre os personagens mortais.
Fugi do assunto principal? Talvez não. Na peça chamada “O julgamento do mensalão”, Lula não tem agido exatamente como um ex-presidente ex machina?
30 de maio de 2012
VEJA.com
Esse uso se baseia no principal sentido da preposição latina ex (ou e) que passou ao português: o de indicar “movimento para fora, saída”, presente na formação de uma série de palavras.
Algumas delas têm seu antônimo preciso formado com o prefixo in – como exalar (“por o ar para fora”) e exportar (“levar para fora”), opostos de inalar e importar. Outras dispensam essa inversão, mas conservam a mesma ideia, como expulsar (“lançar para fora”) e expectorar (“tirar do peito”).
Curiosamente, e para confundir os incautos, são bem diferentes os sentidos assumidos pela preposição ex, uma das mais ecléticas em sua língua original, na maioria das expressões latinas que têm alguma circulação entre nós – sobretudo na linguagem jurídica, mas não apenas nela. Em ex officio (“realizado por imperativo legal ou em razão do cargo ou da função”), ex quer dizer “por causa de, em consequência de”.
Em ex nunc (“a partir de agora”), significa “desde, depois de”. E numa expressão de razoável circulação no vocabulário artístico como deus ex machina, seu sentido é o de “por meio”.
A coluna terminaria aqui, mas é irresistível registrar o significado de deus ex machina, uma curiosidade em si. Hoje uma forma pejorativa de chamar qualquer solução que se considere forçada ou artificial para um impasse dramatúrgico, sua origem é um recurso respeitável do teatro clássico – o de, por meio de alguma traquitana, a tal machina, literalmente fazer descer no palco um ator representando um deus, a fim de dirimir conflitos entre os personagens mortais.
Fugi do assunto principal? Talvez não. Na peça chamada “O julgamento do mensalão”, Lula não tem agido exatamente como um ex-presidente ex machina?
30 de maio de 2012
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