Parlamentar há 41 anos e com duas CPIs no currículo – a do Collor e a dos
Anões – , o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) tenta impedir que a empresa
JBS, controlada pela holding J&F, receba R$ 1 bilhão do governo federal, que
são devidos à Delta Construções, referente ao pagamento dos contratos já
firmados para as obras do Programa de Aceleração do Crescimento.
Depois de não conseguir impedir a compra da Delta pela JBS, mesmo recorrendo ao Ministério Público Federal, Miro pretende peticionar junto a Justiça Federal do Rio de Janeiro, Goiás e Brasília pedindo que a empresa do ramo de frigoríficos não abocanhe a cifra. Outra saída encontrada pelo parlamentar é pedir que a presidente da República audite a prestação das obras.
Caso constatadas irregularidades, o valor não seria repassado à empresa. “Se este bilhão foi dado à JBS, será repassado à Delta e cairá nas mãos do Cavendish e, consequentemente, do Cachoeira. O esquema não vai parar se este dinheiro for pago”, explica ele, que acredita ser possível retomar o dinheiro repassado às empresas fantasmas do Cachoeira, através da Delta. “Retomar o dinheiro será inédito”.
JB: Desde o início dos trabalhos da CPI, tem sido forte o ataque ao procurador geral da República Roberto Gurgel. O sr. concorda com as críticas de que ele teria sido omisso em 2009, quando tomou conhecimento de informações da Operação Vegas?
Miro Teixeira: Em 2009, o Gurgel só recebeu informações sobre quem tem foro especial. Apenas quatro parlamentares, num rol de 80 suspeitos. Não haviam provas contra estes quatro parlamentares já sabidamente envolvidos com o Cachoeira.
O saldo de provas robustas era nada, zero. Se ele levasse à frente o inquérito contra quem tem foro privilegiado, o STF poderia ter arquivado aquelas investigações. Não haviam provas. O que se tinha era uma relação pouco ética do Demóstenes com o Cachoeira, descoberta por meio de duas ou três gravações.
A partir do momento em que realizou-se uma nova operação da PF e novas investigações foram sendo feitas, foi possível descobrir que o número de envolvidos nesta quadrilha era muito maior que quatro. O que o Gurgel fez em 2009 foi fundamental para o desenvolvimento das investigações e a obtenção de provas. Isto fica claro para qualquer um que ler o inquérito.
JB: O sr. acha que os parlamentares que criticam o Gurgel, como o Collor, não leram o inquérito atentamente ou estão tentando desviar o foco da CPI?
Miro Teixeira: Certamente o Collor está tentando desviar o foco. Há quem tente estabelecer uma pauta contra o Ministério Público e a imprensa todo o tempo. O foco na CPI deve ser o combate à corrupção, tem gente que se desvia deste objetivo central.
JB: De posse de mais de 60 mil horas de conversas e 80 suspeitos de pertencer à máfia do Cachoeira descobertos, incluindo parlamentares do Congresso Nacional e governadores, qual o principal desafio da CPI neste momento?
Miro Teixeira: Estamos trabalhando para impedir que a JBS receba R$ 1 bilhão referente às obras do PAC, que seriam pagos à Delta. Ninguém sabe ainda por que a Delta repassava dinheiro para empresas-fantasmas do Cachoeira. Precisamos descobrir isto o quanto antes.
O segundo delegado da Polícia Federal a ser ouvido pela CPI, logo no início dos trabalhos, frisou aos parlamentares que integram a comissão que a Delta estava no coração da quadrilha. No cerne desta brutal lavagem de dinheiro organizada dentro da máquina pública.
JB: Como impedir que a JBS receba este valor?
Miro Teixeira: Ainda esta semana vou requerer à Justiça Federal do Rio, Goiás e Brasília que impeça a JBS de receber este bilhão. Também pedirei à Dilma Rousseff que audite a prestação de obras do PAC. Assim, constatada qualquer irregularidade na execução das obras a Delta e a JBS não veriam a cor do dinheiro. Não será nada difícil encontrar problemas no trabalho feito pela Delta. Aliás, a CPI precisa trazer a JBS para dentro da discussão sobre a máfia do Cachoeira.
JB: Por que incluir a JBS na CPMI? Por que ela tem um histórico de doações a alguns partidos tradicionais? As doações, segundo informações do TSE, estão em conformidade com a lei.
Miro Teixeira: Por que uma empresa pode querer ser uma espécie de sócia da Delta neste momento? Existe um acordo de que em cinco anos se faria uma auditoria onde quase 30% do que for obtido pela empresa seria repassado ao Cavendish. As coisas estão estranhas nesta venda e a JBS precisa ser convocada para estar na CPI. É preciso ouvir a JBS, sim, já que ela quer comprar uma empresa investigada de repasse para empresas-fantasmas.
(Entrevista transcrita do JB Online.
enviada pelo comentarista Paulo Peres)
18 de maio de 2012
Maria Luisa de Melo
Depois de não conseguir impedir a compra da Delta pela JBS, mesmo recorrendo ao Ministério Público Federal, Miro pretende peticionar junto a Justiça Federal do Rio de Janeiro, Goiás e Brasília pedindo que a empresa do ramo de frigoríficos não abocanhe a cifra. Outra saída encontrada pelo parlamentar é pedir que a presidente da República audite a prestação das obras.
Caso constatadas irregularidades, o valor não seria repassado à empresa. “Se este bilhão foi dado à JBS, será repassado à Delta e cairá nas mãos do Cavendish e, consequentemente, do Cachoeira. O esquema não vai parar se este dinheiro for pago”, explica ele, que acredita ser possível retomar o dinheiro repassado às empresas fantasmas do Cachoeira, através da Delta. “Retomar o dinheiro será inédito”.
JB: Desde o início dos trabalhos da CPI, tem sido forte o ataque ao procurador geral da República Roberto Gurgel. O sr. concorda com as críticas de que ele teria sido omisso em 2009, quando tomou conhecimento de informações da Operação Vegas?
Miro Teixeira: Em 2009, o Gurgel só recebeu informações sobre quem tem foro especial. Apenas quatro parlamentares, num rol de 80 suspeitos. Não haviam provas contra estes quatro parlamentares já sabidamente envolvidos com o Cachoeira.
O saldo de provas robustas era nada, zero. Se ele levasse à frente o inquérito contra quem tem foro privilegiado, o STF poderia ter arquivado aquelas investigações. Não haviam provas. O que se tinha era uma relação pouco ética do Demóstenes com o Cachoeira, descoberta por meio de duas ou três gravações.
A partir do momento em que realizou-se uma nova operação da PF e novas investigações foram sendo feitas, foi possível descobrir que o número de envolvidos nesta quadrilha era muito maior que quatro. O que o Gurgel fez em 2009 foi fundamental para o desenvolvimento das investigações e a obtenção de provas. Isto fica claro para qualquer um que ler o inquérito.
JB: O sr. acha que os parlamentares que criticam o Gurgel, como o Collor, não leram o inquérito atentamente ou estão tentando desviar o foco da CPI?
Miro Teixeira: Certamente o Collor está tentando desviar o foco. Há quem tente estabelecer uma pauta contra o Ministério Público e a imprensa todo o tempo. O foco na CPI deve ser o combate à corrupção, tem gente que se desvia deste objetivo central.
JB: De posse de mais de 60 mil horas de conversas e 80 suspeitos de pertencer à máfia do Cachoeira descobertos, incluindo parlamentares do Congresso Nacional e governadores, qual o principal desafio da CPI neste momento?
Miro Teixeira: Estamos trabalhando para impedir que a JBS receba R$ 1 bilhão referente às obras do PAC, que seriam pagos à Delta. Ninguém sabe ainda por que a Delta repassava dinheiro para empresas-fantasmas do Cachoeira. Precisamos descobrir isto o quanto antes.
O segundo delegado da Polícia Federal a ser ouvido pela CPI, logo no início dos trabalhos, frisou aos parlamentares que integram a comissão que a Delta estava no coração da quadrilha. No cerne desta brutal lavagem de dinheiro organizada dentro da máquina pública.
JB: Como impedir que a JBS receba este valor?
Miro Teixeira: Ainda esta semana vou requerer à Justiça Federal do Rio, Goiás e Brasília que impeça a JBS de receber este bilhão. Também pedirei à Dilma Rousseff que audite a prestação de obras do PAC. Assim, constatada qualquer irregularidade na execução das obras a Delta e a JBS não veriam a cor do dinheiro. Não será nada difícil encontrar problemas no trabalho feito pela Delta. Aliás, a CPI precisa trazer a JBS para dentro da discussão sobre a máfia do Cachoeira.
JB: Por que incluir a JBS na CPMI? Por que ela tem um histórico de doações a alguns partidos tradicionais? As doações, segundo informações do TSE, estão em conformidade com a lei.
Miro Teixeira: Por que uma empresa pode querer ser uma espécie de sócia da Delta neste momento? Existe um acordo de que em cinco anos se faria uma auditoria onde quase 30% do que for obtido pela empresa seria repassado ao Cavendish. As coisas estão estranhas nesta venda e a JBS precisa ser convocada para estar na CPI. É preciso ouvir a JBS, sim, já que ela quer comprar uma empresa investigada de repasse para empresas-fantasmas.
(Entrevista transcrita do JB Online.
enviada pelo comentarista Paulo Peres)
18 de maio de 2012
Maria Luisa de Melo
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