Li por esses dias o artigo de Adauto Medeiros (como sempre extremamente lúcido) mostrando (sem contestação) que o grande contraventor neste país é o Estado. (O contraventor é… 4/5/2002).
Verdade absoluta. No texto Adauto dizia que onde o governo não pode cobrar (ou seria tirar pela força?) imposto essa atividade é transformado em contraventora. Outra verdade absoluta. A questão é que se o Estado tivesse realmente a intenção de moralidade como parece querer sinalizar, ele próprio daria o exemplo, mas o que vemos é justamente o contrário: faça o que eu digo, mas não faça o que faço.
Veja bem meu caro leitor, pense qual a diferença entre uma loteria esportiva (um jogo ou jogatina tal qual outros) e o jogo do bicho? Nenhuma, a não ser pelo fato de que em uma o governo condena apontando contravenção e na outra o governo autoriza, “legitima”, oficializa. Ou seja, no primeiro caso há uma determinação de cima para baixo, autoritarismo puro para dizer o mínimo.
Ora, pense bem, o dono da loteria (todas as loterias são privadas o que já é um contra-senso e cabe a pergunta: por que o governo não estatiza? Por que se assim o fizesse a coisa não funcionaria como tudo o que é público neste país), o dono da loteria é o cambista do governo, e sem salário. No jogo do bicho o cambista é o empregado que recebe por comissão. Na loteria o governo recolhe aos “cofres públicos” 70% da jogatina, eu falei 70% dos valores totais arrecadados. Apenas 30% são distribuídos entre os vencedores. No jogo do bicho o cambista recebe 20%.
E outra coisa: no jogo do bicho o cambista não investe nada, na casa lotérica se investe pesado. Na loteria o dono dela recebe uma concessão chamada de oficial o que a garante como não “contraventora”, mas nem por isso perde a caracterização de ser cambista. O problema é que o governo ganha, desculpa, explora a jogatina através de ganhos, por isso tem interesse em vender a ideia de que não há contravenção. Essa é uma mentalidade autoritária e que infelizmente o povo termina acreditando e não contesta. Mas no Brasil o povo acredita em lobisomem, quanto mais, quanto mais.
Agora me responda caro leitor: se uma pessoa qualquer pega o dinheiro dela e quer jogar todo ele em um bingo, o que o governo tem a ver com isso? Nesse caso também o governo proíbe, e mais ainda, tenta demonstrar um discurso moralista e de sentimento materno como se tivesse preocupação moral com o cidadão.
Agora se esse mesmo cidadão resolver dar todo o dinheiro dele para o Estado, para o governo, ora, não há mal nenhum, o governo não se sente nem um pouco constrangido em receber o dinheiro. O governo acha normal e é capaz do doador receber até uma homenagem no Jornal Nacional.
Quer dizer então que receber dinheiro de um cidadão é algo “moral” e pode, mas se o mesmo cidadão quiser jogar em um bingo, ai é algo imoral? Conta outra. O grande imoral é mesmo o governo. Aliás, imoral é o imposto neste país na ordem de 36% do PIB, arrecadado a ferro e fogo e sem consulta. Se o governo tivesse mesmo a intenção moralizadora, a primeira coisa a fazer seria diminuir o imposto. Faz isto? Não. Adauto tem razão: o único e grande contraventor é mesmo o Estado.
(*) Fotomontagem: Juntos ilegal&legal
Laurence Bittencourt
18 de maio de 2012
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