"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 11 de maio de 2012

A VITÓRIA DE HOLLANDE NA FRANÇA E AS ELEIÇÕES NOS EUA

O socialista François Hollande venceu a eleição presidencial, menos por seus méritos, e mais pelos erros do presidente Sarkozy.
Nicolas Sarkozy, o marido de Carla Bruni (de origem italiana), cometeu inúmeros erros de estratégia. O primeiro e fatal foi marchar fileiras com a dama de ferro da Alemanha, a chanceler Angela Merkel, no propósito de impor aos países da Comunidade Européia, um amplo pacote de maldades, seguindo fielmente a receita salgada do FMI, com o objetivo resgatar o pagamento da dívida colossal que os países soberanos europeus fizeram ao longo dos anos com a comunidade financeira mundial.

Então, Sarkozy tentou implantar no país encantado o corte de benefícios da chamada política do Bem-Estar Social, o savoir faire dos europeus copiado em todo o mundo ocidental. A redução dos benefícios dos aposentados assustou os franceses, assim como tem provocado a paralisia da Grécia, a qual não por acaso, os dois partidos da coalizão governamental foram derrotados de forma humilhante, no mesmo domingo da derrota de Sarkozy. Até o partido nazista e os da esquerda pontuaram nessa eleição, o que deverá aumentar a ebulição na Grécia.

Mas, voltando à França, Nicolas Sarkozy, à moda de um falcão americano, comandou na primeira hora a linha de frente do ataque sem precedentes das forças da OTAN ao governo da Líbia. A destruição foi avassaladora, principalmente na capital Trípoli. Redes de energia, aeroporto, abastecimento de água, pontes, viadutos, tudo destruído para minar e tirar do poder o antigo aliado, Muhamar Kadafi. O desfecho militar com a derrubada do ditador líbio, em nada melhorou a popularidade de Sarkozy no front interno.

Para piorar o cenário, o então presidente, para atrair o eleitorado conservador de Marine Le Pen, a terceira colocada no primeiro turno presidencial, discursava contra os imigrantes, principalmente ciganos e muçulmanos. São muitas coisas negativas, que somadas deram o tom da derrota anunciada.
Entretanto, o nó górdio preponderante na perda do poder foi à crise econômica. Desemprego em alta, falta de perspectiva dos jovens em relação ao futuro, déficit público, inflação subindo e a tristeza latente da população. Todas as questões apontadas compuseram o caldo que acabou entornando e decidindo a eleição.

Hollande, o presidente eleito, sabe que o recado foi dado. O povo francês quer mudanças de rumo para sair da crise e voltar a crescer. O novo governo estará diante de duas opções:
1 – Implementar uma política monetarista voltada para a redução do déficit público, diminuição dos gastos do governo, cortes substanciais dos benefícios sociais, aumento da idade limite para a aposentadoria, criação do fator previdenciário, demissão de funcionários públicos e diminuição dos impostos pagos pelos empresários.

2 – Implementação da política desenvolvimentista, cujas ações seguem o script do modo de ser dos socialistas, ou seja, aumento dos gastos públicos, forte participação do estado na economia, criação de empresas estatais, liberação de recursos dos bancos públicos para os empresários com taxas subsidiadas, ampliação dos benefícios sociais, políticas de inclusão no mercado de trabalho para os franceses pobres e emigrantes.

Creio que a segunda opção é a mais adequada, segundo a voz das urnas na França.
Em relação à eleição presidencial nos Estados Unidos, pelos mesmos motivos (economia) que levaram a derrota de Sarkosy é que a reeleição de Barak Obama em novembro está seriamente ameaçada. As pesquisas apontam empate técnico com o republicano Mitt Romney, o que se trata de um mau presságio para o presidente democrata Barack Obama, a poucos meses do pleito.

11 de maio de 2012
Roberto Nascimento

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