"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 11 de maio de 2012

ESTARÁ O PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA A SERVIÇO DE UMA SUPOSTA E INEXISTENTE "IMPRENSA GOLPISTA"?

Pois ele também acha que o barulho na CPI do Cachoeira vem de gente que “está morrendo de medo do julgamento do mensalão".


O procurador-geral da República, Roberto Gurgel (na foto de arquivo durante sessão do Supremo): críticos a sua atuação no caso Cachoeira "estão morrendo de medo do julgamento do mensalão" (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil)

Amigos, o procurador-geral da República, chefe do Ministério Público Federal, como sabem, é sempre alguém indicado pelo presidente da República e submetido ao crivo do Senado antes de tomar posse.

Com o atual procurador-geral, Roberto Gurgel, não foi diferente. Designado por Lula e aprovado pelo Senado, assumiu em julho de 2009 para os costumeiros dois anos de mandato. A presidente Dilma decidiu que gostaria de mantê-lo no posto, o Senado aprovou, e lá está Gurgel.
Será Gurgel, procurador de carreira, por concurso público, desde 1982, e nomeado por dois presidentes petistas, um aliado da “imprensa golpista”?
Estará o procurador a serviço de supostas conspiratas de pessoas e instituições, como a imprensa, que, querendo ver julgados os mensaleiros, estariam com isso distraindo a opinião pública da CPI de Carlinhos Cachoeira?

Acho que nem sequer os críticos mais paranoicos da imprensa, e especialmente de VEJA, vêem Gurgel nesse papel, não é?
Pois bem, e, diante de críticas sobre sua suposta inação no caso de Cachoeira – que, julgaram deputados e senadores da CPI, deveria ter sido investigado antes –, o que disse Gurgel, jurista respeitado e sereno, que até agora vem cumprindo com equilíbrio e sem espalhafato seus deveres?

Estão “morrendo de medo do julgamento do mensalão”

As críticas, disse ele, vêm de parlamentares que – e o que vem entre aspas é absolutamente literal – estão “morrendo de medo do julgamento do mensalão”.
Ou seja, o procurador-geral, tal como ocorre com boa parte da imprensa, e no caso de VEJA e seus colunistas, também vai na linha de que estão aproveitando a CPI do Cachoeira para tentar desviar as atenções para além do maior escândalo da história da República.
Transcrevendo o que ele declarou num intervalo de sessão do Supremo:
– – O que nós temos são críticas de pessoas que estão morrendo de medo do julgamento do mensalão. São pessoas que aparentemente estão muito pouco preocupadas com as denúncias em si mesmas, com os fatos, com os desvios de recursos e com a corrupção. (…) Há um desvio de foco que eu classificaria como, no mínimo, curioso.

“Tentativa de imobilizar o procurador-geral”

Mais declarações textuais de Gurgel:
– O que parece haver é uma tentativa de imobilizar o procurador-geral da República para que ele não possa atuar como deve, seja no caso que envolve o senador Demóstenes e todos os seus desdobramentos, seja preparando-se para o julgamento do mensalão.

Atentado à democracia

Gurgel reclamou, em termos candentes, sobre os boatos mentirosos segundo os quais teria mandado investigar ministros do Supremo, e voltou a responsabilizar os setores que não querem ver os mensaleiros sendo julgados:
– – Esse é o atentado mais grave que já tivemos à democracia brasileira. É compreensível que algumas pessoas que são ligadas a mensaleiros tenham essas posturas de querer atacar o procurador-geral e querer também atacar ministros do Supremo, com aquela afirmação falsa de que eu estaria investigando quatro ministros do Supremo Tribunal Federal.

Na CPI, mais preocupados com o mensalão do que com o caso Cachoeira

Mais do procurador-geral:
– A minha preocupação é de continuar trabalhando, de continuar investigando, de levantar o véu e revelar cada vez mais fatos que estão submetidos também à comissão parlamentar, mas que parece mais preocupada com outros aspectos, parece mais preocupada com o julgamento do mensalão.
Gurgel também afirmou existirem “protetores dos réus” do mensalão como mentores das críticas que vem sofrendo, acrescentando:
– Eu apenas menciono isso: há pessoas que foram alvo da atuação do Ministério Público e ficam querendo retaliar, é natural isso. E há outras pessoas que têm notórias ligações com pessoas que são réus no mensalão.

Gilmar defende Gurgel

O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, por sua vez, defendeu o procurador-geral da República das acusações de parlamentares segundo as quais ele demorou demais para investigar as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). O ministro também disse, respondendo a uma pergunta, que por trás das acusações sobre Gurgel há pessoas interessadas em misturar o caso com o julgamento do mensalão:
– Eu tenho a impressão de que sim [sobre existir tentativa de fazer ruído para perturbar o julgamento do mensalão]. É como pescador em águas turvas. Há pessoas interessadas em misturar as coisas.

Linha de tiro

O pretexto utilizado por certos deputados e senadores para colocar na linha de tiro o procurador-geral Gurgel veio com o depoimento, ocorrido na terça, dia 8, do delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques, responsável pelas investigações da Operação Vegas.
Ao responder a perguntas dos parlamentares em sessão secreta da CPI, cujo conteúdo, como sempre ocorre, vazou, o delegado disse que o inquérito da Operação Vegas foi entregue em 15 de setembro de 2009 sem que o procurador-geral tivesse tomado providências.
O fato é que, àquela altura, o Ministério Público achou que não havia suficientes evidências para mobilizar o Ministério Público, o que está sendo possível após novas diligências.
“Ficam preocupadas com a opção que o procurador-geral, como titular da ação penal, tomou em 2009″, disse Gurgel, “opção essa altamente bem-sucedida. Não fosse essa opção, nós não teríamos [a operação] Monte Carlo, nós não teríamos todos esses fatos que acabaram vindo à tona.”

11 de maio de 2012
coluna do Ricardo Setti

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