"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 8 de agosto de 2012

PETEBRAS: CASO TÍPICO DE GESTÃO TEMERÁRIA

 

Impacto negativo da desvalorizaçãodo real sobre suas operações financeiras, insucesso na perfuração de poços em águas ultraprofundas, gastos excepcionais com importação de derivados -,vendidos subsidiados, por imposição do governo.

As explicações para o elevado prejuízo (R$ 1,3 bilhão) registrado pela Petrobras no segundo trimestre, o primeiro desde 1999, podem ser pontuais, mas, na verdade, este resultado vinha sendo desenhado pelo tipo de gestão temerária que o acionista controlador, o Tesouro Nacional, por determinação do Planalto, impôs à companhia, por propósitos meramente políticos e partidários.

No período de José Sérgio Gabrielli na presidência (2005-2012), a partidarização avançou bastante na estatal. A atual diretoria, à frente Graça Foster, assumiu com a tarefa de corrigir tal rumo desastroso, mas, num grupo gigante como a Petrobras, o trabalho equivale a manobrar um transatlântico.

Por algum tempo, a Petrobras tenderá mais a refletir o longo período de gestão temerária do que o de correção de rumos.

Sem uma política industrial capaz de inserir o setor no novo contexto mundial em que os países asiáticos se tornaram protagonistas da manufatura tradicional, o governo passou os últimos anos concentrando na Petrobras o esforço para o país manter um parque fabril ativo.
Na prática, isso tem significado enormes estouros de orçamento, prazos não cumpridos e elevação de custos operacionais.

Como uma grande companhia estatal que se beneficiou de um monopólio longevo (e ainda não desfeito pelas forças de mercado), entende-se que a Petrobras seja obrigada a ter mais responsabilidades dentro de políticas públicas, e seja um importante agente na execução de alguns programas de Estado.

No entanto, a Petrobras não é puramente estatal.
Tem milhões de acionistas, muitos dos quais participantes de fundos de investimento nos quais aportam suas economias na expectativa de constituir uma poupança que lhes garanta boa qualidade de vida no futuro.

Nessa lista, devem ser considerados também aqueles que aplicaram parte do saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Não foi por falta de metas ambiciosas que a Petrobras deixou de apresentar bom desempenho. Trata-se da companhia petrolífera com maior volume de encomendas de plataformas de exploração e produção, de construção de navios, dutos e equipamentos para refinarias.

Em uma das mais audaciosas iniciativas de capitalização que o mercado de capitais já viu no mundo, a Petrobras buscou recursos por meio de lançamento de ações conjugado à cessão onerosa de reservas prováveis de petróleo que poderão chegar à casa de cinco bilhões de barris (equivalentes a um terço de suas atuais reservas provadas).

O mínimo que se pode esperar é que se abandone a ingerência na empresa, deixando-a retomar o caminho da competência que a Petrobras já mostrou possuir em sua atividade-fim.


O Globo
08 de agosto de 2012

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