Escrito pela Dra. Elizabeth
Rondelli, Doutora em Ciências Sociais, professora aposentada das Universidades
Federais do Rio de Janeiro e Juiz de Fora:
08 de agosto de 2012
“Meu Amigo
Petista”
“Tenho um amigo
petista (pessoa incrível e honestíssima), que escreveu sobre o relatório da OIT
Org. Internacional do Trabalho, mostrando que a pobreza no Brasil caiu 36% em 6
anos, e dizendo que deve ter gente mordendo os cotovelos de tanta raiva. Não
resisti e respondo publicamente.
‘Rir com dente é fácil’. Quero ver agora que o
preço das commodities caiu, que o modelo de exploração de petróleo criado pela
presidanta prova-se inviável, que a Petrobras não consegue mais segurar a
inflação artificialmente baixa, que o pibinho petista não vai sequer chegar a
2%, que o Brasil começa a ser encarado como um país onde é difícil fazer negócio
por tanta intervenção e achaques às empresas, que o prazo razoável de fazer as
importantes reformas (previdenciária, tributária, fiscal, política…) já venceu,
que não houve um mísero progresso nas variáveis que impactam o aumento da
produtividade e da competitividade (infraestrutura, educação, ciência e
tecnologia), que todos os esforços foram direcionados à anabolização dos números
no curto prazo em detrimento da poupança e do investimento no longo, que os sete
(eu disse SETE) pacotes lançados nos últimos meses para tentar ressuscitar o
paciente moribundo mostraram-se tão patéticos quanto as pessoas que os
maquinaram, que as famílias estão endividadas até o talo de tanto estímulo ao
consumo, que a arrecadação já dá demonstração de queda (mesmo com o aumento das
alíquotas, o que representa perda real em base tributável — ou atividade
econômica)…
Eu poderia
continuar por mais uma semana elencando a sequência de burradas dos governos
petistas. E olha que eu nem entrei no mérito moral — aí, é “capivara” mesmo,
ficha policial!
Com economia
aquecida e uma carga tributária boçal (em ambos sentido: quantidade e
qualidade), é fácil ter muito dinheiro para gastar. Distribuir aos pobres parece
coisa de gente de bom coração. Renda na mão de pobre vira consumo e consumo
conta para o PIB. E, na mão de petista, vira voto na
certa.
Mas agora que o
dinheiro vai começar a rarear, quero ver onde vai estar o coração dessa gente.
Ou vão cravar mais fundo os dentes no setor produtivo da sociedade ou vão ter
que escolher o que deixa de receber recursos. Tenho certeza de que o caixa 2 das
campanhas eleitorais deles está garantido — até porque este parece ser (por mais
surreal que possa parecer) o ÁLIBI dos 36 réus do
mensalão.
O fato é que, 10
anos depois, o pobre brasileiro pode ter ficado momentaneamente menos pobre na
carteira, mas não se tornou um milímetro mais capaz de enfrentar os desafios do
mundo moderno em que o país compete. Basta ver que os analfabetos funcionais das
faculdades de gesso do Luladdad chegam a 38% (é inacreditável, mas é
verdade).
Acabada a farra
da gastança, voltaremos para a mesma estaca em que estávamos antes. Um pouco
piores, na verdade, graças aos retrocessos que representam os constantes ataques
às instituições da sociedade (a Justiça, a liberdade de imprensa, a
independência dos poderes, o que restava de honradez no Congresso, a política
externa que deixou de servir à nação para se dobrar a um projeto particular de
poder…) e às bases da economia de mercado tão sólidas que os petistas herdaram
de seus antecessores mais capazes (a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Bolsa
Escola — este, sim, carregava uma contrapartida que produzia um efeito positivo
no longo prazo em vez de boçalizar a população com esmola–, a autonomia do Banco
Central, a confiabilidade dos dados oficiais, o modelo de privatização, o
ordenamento jurídico que atraiu o investidor estrangeiro, a estabilidade
econômica e de regras, a não-intervenção nos mercados…).
Eu não mordo os
cotovelos porque as pessoas estão menos pobres. Mordo de ver que o PT
transformou em mais um vôo de galinha a maior oportunidade que o Brasil jamais
teve de entrar definitivamente para a elite global. Mordo de ver que gente
inteligente como você não consegue perceber a destruição do nosso futuro que
está sendo promovida dia após dia por gente que só quer se locupletar e
perpetuar seu poder sobre a máquina estatal — cada dia maior e mais nefasta para
a economia e, por extensão, à sociedade. Mordo de ver que estamos abandonando as
fontes que trouxeram riqueza para este país para nos alinharmos cada dia mais
aos membros do Foro de São Paulo — do qual fazem parte o mais abominável ditador
do século na América do Sul e o grupo narco-guerrilheiro que ele apóia no país
vizinho. Mordo de ver que gente do bem ainda se alinha com os maiores bandidos
que já ocuparam o poder central deste país. Mordo de pena. Mordo de tristeza.
Mordo de desesperança.”
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