"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 8 de agosto de 2012

VISÃO DO CORREIO - JULGAMENTO SERENO E CIVILIZADO

Vai bem o julgamento do mensalão, como ficou conhecido o maior escândalo político do governo Lula, registrado na distribuição de processos do Supremo Tribunal Federal (STF) com a identificação de Ação Penal nº 470. Os defensores dos 38 réus entram hoje no terceiro dia de exercício do direito de defesa, garantido pelo artigo 5º da Constituição e rigorosamente cumprido pelo STF.
Parte da população acompanha cada lance do julgamento, com a sensação de que vive momento histórico da democracia brasileira. Afinal, políticos que tiveram posição importante no governo da República e compunham a cúpula do partido que comanda a administração federal estão sendo levados à Justiça, como aconteceria a qualquer cidadão que venha a ser denunciado pelo Ministério Público.

É natural que, indignados com os supostos crimes agora relembrados, muitos manifestem repulsa ao tom e à argumentação da defesa oral. Natural, mas carente da compreensão do papel que cabe a cada personagem exercer com dignidade e civilidade naquela solenidade de respeito à lei e correto funcionamento do Judiciário, uma das três instituições basilares da democracia. Os acusados de montar e operar um esquema que teria desviado dinheiro público para a compra de apoio parlamentar nas votações de interesse do governo no Congresso Nacional foram divididos, para efeito do julgamento, em três grupos: o político, o operacional e o empresarial.

Estranho seria os advogados dos réus negarem a inocência e não tentarem de todas as formas demolir os argumentos da acusação formulada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Exceto, é claro, quando se pretende atribuir ao réu irregularidade menor e, portanto, sujeita a uma pena leve ou mesmo ao benefício da prescrição.

Desde as primeiras manifestações dos defensores, ficou clara a tese de que as provas da acusação são frágeis e que eventuais práticas ilícitas teriam se limitado ao uso irregular e não contabilizado de dinheiro arrecadado para financiar campanha eleitoral. Na prática, trata-se de escapar do Código Penal e buscar abrigo na legislação eleitoral, mais frouxa, leniente e flexível, deixando mais evidente a urgente necessidade de torná-la mais compatível com o desejo da sociedade expresso no movimento pela Lei da Ficha Limpa.

Como em todo julgamento, não se sabe ainda se a estratégia da defesa terá sucesso. É preciso aguardar o voto dos ministros, que se espera sereno e rigorosamente técnico. Assim se consumará esse rumoroso caso, enfrentado com transparência e legalidade para orgulho e fortalecimento da democracia brasileira
08 de agosto de 2012
Correio Braziliense (DF) - 08/08/2012
Da Redação

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