Gore Vidal, morto aos 86 anos, vai ser lembrado não pelos livros que escreveu, quase todos irrelevantes – e sim pelas frases cínicas, cruéis e brilhantes que criou em quantidade extraordinária.
Vidal, crítico tonitruante de seu país, os Estados Unidos, foi uma espécie de reedição de outro grande autor de epigramas – o irlandês Oscar Wilde. (Também em Wilde as frases são muito acima dos livros.)
Wilde e Vidal tinham a inteligência corrosiva e iconoclasta tão comum no admirável humor gay. Sobre Wilde, Vidal teve a vantagem de uma formação política que ampliou consideravelmente seu repertório de insultos e injúrias.
Abaixo, uma seleção de frases de Vidal:
1) Cada vez que um amigo faz sucesso, eu morro um pouco.
2) Um escritor deve sempre dizer a verdade, a não ser que seja jornalista.
3) Metade dos americanos nunca votou para presidente, e metade jamais leu um jornal. Esperamos que seja a mesma metade.
4) Quando alguém me pergunta se posso guardar um segredo, respondo: “Por que eu deveria, se você não pôde?”
5) Estilo é você saber quem é, e dizer o que quiser, sem dar a mínima importância para o resto.
6) Toda pessoa pronta para disputar a presidência dos Estados Unidos deveria, automaticamente, ser impedida de concorrer.
7) John Kennedy foi um dos homens mais charmosos que conheci. E também um dos piores presidentes.
8) Nunca tenha filhos, apenas netos.
9) Andy Warhol é o único gênio que conheci com 60 de QI.
10) Uma boa ação jamais deixa de ser punida.
11) Democracia é o direito de escolher entre o Analgésico A e o Analgésico B. Mas ambos são aspirinas.
12) Temos que parar de nos gabar que somos a maior democracia do mundo. Sequer somos democracia. Somos uma república militarizada.
13) Hoje as pessoas públicas não conseguem escrever seus discursos e nem suas memórias. Não sei se conseguem sequer ler.
08 de agosto de 2012
Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)
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