Assistir ao julgamento do mensalão é um pouco como acompanhar a novela. Não importa quantos dias se deixe de vê-lo, é só sintonizar para logo entender o que está acontecendo.
O cenário não muda, os personagens são os mesmos e as falas são uma longa preparação para as duas únicas palavras que realmente interessam ao espectador: inocente ou ─favorita disparada na audiência─culpado.
Claro que nenhuma novela se sustentaria com tanta conversa e tão pouca ação. Daí, na novela, o entra e sai de gente nas casas uns dos outros ─ninguém pergunta se pode visitar, ninguém interfona, as pessoas simplesmente surgem pelas portas e dizem suas falas.
Já o mensalão não pode comportar essas liberalidades.
A simples intervenção não solicitada de um ministro na fala de outro é uma gafe mortal, e os bate-bocas entre eles são um festival de Vossas Excelências e preclaros colegas.
Haveria uma maneira, no entanto, de quebrar a monotonia e fazer do mensalão um empolgante espetáculo televisivo. Bastaria que os réus ─os que estivessem sendo julgados naquele dia─ fossem convidados a comparecer e a se sentar numa bancada especial, mesmo sem direito à palavra.
Uma ou mais câmeras ficaria neles o tempo todo, e caberia ao pessoal do corte intercalar big closes de seus rostos na fala do ministro que os estiver desancando ou defendendo naquele momento.
Imagine Valério, Delúbio, Genoino, Dirceu ou Roberto Jefferson acompanhando ao vivo o desdobramento de seu destino e reagindo expressivamente a esta ou àquela palavra a seu respeito.
Um bom câmera ficaria atento a detalhes como a transpiração assomando à testa, um tique das pálpebras ou o uso das mãos ─algum dos acusados brincaria nervosamente com esferinhas de aço, como Humphrey Bogart em “A Nave da Revolta”?
Isso, sim, seria fazer justiça à TV.
19 de setembro de 2012
Ruy Castro, Folha de S. Paulo
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