Lupa na mão – A oposição decidiu esperar o fim do julgamento do Mensalão do PT para requerer a Ministério Público Federal a abertura de procedimento para investigar o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, acusado por Marcos Valério Fernandes de Souza de ser o chefe maior do esquema de desvio de dinheiro público e compra de parlamentares por meio de mesadas. Discurso oportunista e impactante da oposição, mas a abertura de um processo investigatório contar Lula é dever de ofício de qualquer procurador da República, sob pena de ser acusado de prevaricação.
A acusação veio à tona no último final de semana, na mais recente edição da revista “Veja”, que revelou mais detalhes acerca do escândalo do mensalão, todos com base em declarações do publicitário mineiro.
Por questões estratégicas, a investigação deve, sim, ficar para depois, uma vez que qualquer movimento a essa altura dos fatos interferiria no julgamento da Ação Penal 470, mesmo sabendo que os ministros do Supremo Tribunal Federal devem se ater ao conteúdo do processo. Muito além de investigar Lula, o Ministério Público tem a obrigação de escarafunchar novamente o caso do Mensalão do PT como um todo, pois a afirmação de que o caixa do esquema movimentou perto de R$ 350 milhões mostra que os tentáculos da corrupção petista eram maiores do que muitos imaginavam. Contudo, vale lembrar que o editor do ucho.info sempre insistiu na tese de que a CPI dos Correios, pressionada pelos ocupantes do Palácio do Planalto, deixou de produzir provas, as quais aumentariam sobremaneira o rol de culpados.
Como se fosse um fumante inveterado, que acende um cigarro no outro, a corrupção no Brasil existe com a interdependência de escândalos, que se analisados de forma simultânea mandam para o ralo boa parte da história nacional.
Durante depoimento reservado à CPI dos Correios, o doleiro paranaense Alberto Yousseff, compadre do finado e ousado José Janene, disse aos parlamentares que pagou propina semanal aos diretores do Banestado em troca de facilidades para enviar diariamente ao exterior, por meio das chamadas contas CC-5, US$ 15 milhões. Yousseff só foi convocado pela CPI dos Correios porque outro doleiro, Antonio de Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, afirmou que o colega paranaense foi responsável por apresentar Janene aos donos da corretora Bônus-Bonval, Breno Fischberg e Enivaldo Quadrado, ambos réus no caso do Mensalão.
O caso Banestado é um dos grandes escândalos do País, com direito a crimes como corrupção, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Alvo de CPI criada no Congresso Nacional, o caso Banestado terminou em uma enorme e mal cheirosa pizza, o que foi confirmado com o relatório do deputado petista José Mentor (SP).
Tal acordo só foi possível por dois fatos distintos. O primeiro deles é que a oposição não queria ver na vitrine da maledicência um dos rumorosos escândalos da era FHC. O segundo motivo é que o PT, partido do relator José Mentor, precisava que do documento final fossem excluídas as menções ao Banco Rural. Durante as investigações do Mensalão do PT, descobriu-se que o escritório de advocacia de Mentor recebera R$ 60 mil de uma conta no Banco Rural, em nome de uma empresa de Marcos Valério. Essa foi uma das primeiras e contundentes provas da existência do Mensalão do PT, que deixou claro que a relação de Valério com o partido era mais antiga.
O caso do Banestado é muito maior e mais nocivo do que a opinião pública imagina. Com o escândalo, o Banestado acabou vendendo os chamados créditos podres aos bancos Itaú e Goldman Sachs, por quantia infinitamente menor do que o valor de face. Muitos desses créditos acabaram recheando intrincadas disputas judiciais por todo o País, algumas das quais com suspeitas de favorecimento por parte dos magistrados. Assunto que por certo aguçaria o interesse da ministra Eliana Calmon (STJ), que como corregedora do CNJ é lembrada pelos brasileiros de bem com enorme e interminável saudosismo.
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