"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O BAR DE JK E O BAR DE LULA

 

O avião da presidência da República, em 1956, quando Juscelino assumiu o governo, era um velho Douglas C47, da FAB. Para fiscalizar as obras da construção de Brasília, toda semana, JK tinha que voar quatro horas para lá, quatro para cá. Oito horas.
Era demais para o ritmo dele. A Aeronáutica sugeriu que fosse comprado um Viscount, o que havia de mais moderno. Fazia na metade do tempo: quatro horas, duas para ir, duas para voltar. E era capaz de voar bem com apenas uma das quatro turbinas.


JK e Lucio Costa, no cerrado

Encomendaram um à fabricante inglesa Vickers Armstrong, que rivalizava com as americanas Boeing e Douglas. Mas ia levar muitos meses para entregar. Juscelino tinha pressa. A Vickers convenceu uma empresa da Noruega a ceder ao Brasil um avião, que pedira na frente, já quase pronto.

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CELSO NEVES

JK recomendou que queria uma cabine privativa, com mesa de trabalho para quatro pessoas e um quarto com cama e toalete. Pusessem a cabine lá atrás, na cauda, longe do barulho das turbinas. E, na frente, 20 poltronas para ministros, assessores, jornalistas e eventuais convidados.

Um dia, a Aeronáutica recebeu e mandou para a presidência da República a planta com a configuração interna do avião. O piloto do presidente, tenente-coronel Celso Rezende Neves, mineiro, primo de Tancredo Neves, comandante da tripulação do avião, levou um susto.

No avião, um bar. Pois é: um bar a bordo, ocupando o espaço de dez das vinte poltronas que Juscelino pedira. Os ingleses meteram um american-bar, no melhor estilo dos playboys internacionais, no avião do “Presidente Bossa Nova”, apelido que lhe deu o implacável cantor Juca Chaves. Um prato feito para a UDN. Carlos Lacerda ia fazer um carnaval! “Farras a bordo”!

E o ministro da Aeronáutica mandou o coronel Celso Neves a Londres para tirar o bar do Viscount 2100 (mais tarde, veio o 2101, também sem bar).

Esta história está contada, e muito bem contada, com finos detalhes, em um livro fascinante, cada vez mais atual, Bela Noite Para Voar (Editora Thesaurus), do jornalista mineiro Pedro Rogério Moreira, um depoimento e levantamento histórico sobre o Juscelino voador, viajor, cortando o pais.

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AEROLULA

Meio século depois, em 2006, as repórteres Christiane Samarco e Tânia Monteiro, do Estadão, contavam que o Airbus 310, comprado para o presidente Lula, custou US$ 56,7 milhões, mas já teve sua decoração reformulada antes de completar o primeiro aniversário.

“O avião passou por uma reforma no final do ano e a ala íntima, reservada a Lula, familiares e convidados, ganhou um bar. O projeto personalizado da ala privativa inclui um quarto de casal, banheiro com chuveiro e uma sala com duas mesas de madeira e oito poltronas.
O Airbus tem ainda 55 lugares para acomodar a comitiva”, disseram as jornalistas, acrescentando:

“Um oficial da Aeronáutica, que acompanhou o serviço, atesta que a reforma custou R$ 300 mil, embutidos no custo da “manutenção e suprimento de material aeronáutico”, rubrica do orçamento para a qual o governo empenhou R$ 3,1 milhões em 2005. O oficial diz que o preço é alto porque qualquer alteração na configuração da aeronave exige material especial e trabalho sofisticado”.

Agora, Dilma Rousseff quer comprar outro avião. Acha que este é muito pequeno…

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