"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 23 de outubro de 2012

A MÃO PELUDA DO ESTADO

 
O Brasil vem perdendo espaço na preferência dos investidores estrangeiros. A intervenção pesada do Estado na economia tem afugentado negócios e tirado o brilho do país. Com isso, novos empreendimentos privados, necessários para melhorar as condições internas de produção, não saem do papel e prejudicam a competitividade local.

A principal marca da gestão Dilma Rousseff na economia até agora tem sido a ingerência governamental em diversos ramos de atividade. Em alguns casos, o enfrentamento até se justifica, como ocorreu no embate com as companhias de telefonia, em razão da má qualidade de serviços prestados. Na maioria das ocasiões, porém, a mão pesada do Estado só atrapalha.

A interferência do governo em setores como energia, bancos e ferrovias tornou-se fator mais negativo para o bom desempenho da economia brasileira do que a própria crise externa, que vem desde 2008. Ou seja, o país poderia estar numa situação bem mais confortável em termos de crescimento não fossem as investidas de Brasília no mundo da produção.

(O Globo) publica hoje levantamento feito pela consultoria Economática mostrando que apenas os três setores mais penalizados pelo intervencionismo estatal perderam juntos R$ 59 bilhões em valor de mercado neste ano. São eles: energia elétrica (R$ 26,9 bilhões), telecomunicações (R$ 19,8 bilhões) e bancário (R$ 12,4 bilhões).

Trata-se de setores em que, a despeito da saúde das companhias, as intensas e abruptas interferências do Estado tornaram os negócios arriscados e imprevisíveis. Tome-se o exemplo de empresas como a Cemig: suas ações haviam subido quase 65% desde janeiro e, em dois meses, já perderam mais de 30% do valor. (No ano, a Bovespa tem valorização de 3,82%.)

A interferência é particularmente grave quando se sabe que o investimento privado é fundamental para que o país supere seus atrasos na infraestrutura. "Sem dúvida havia abusos a combater, mas se criou uma atmosfera interpretada como hostil à rentabilidade dos negócios", comenta a Folha de S.Paulo hoje em editorial.

O peso estatal vem retardando investimentos bilionários das companhias privadas. No setor de mineração, há R$ 350 bilhões engavetados, à espera de um novo marco regulatório. Na área portuária, onde o comércio exterior do país engargala de vez, existem projetos de R$ 44 bilhões prontos para ser tocados, mas o bate-cabeça de Brasília os impede de prosperar, conforme mostrou (O Globo) em sua edição deste domingo.

Segundo analistas de mercado, o Brasil está perdendo o brilho perante investidores internacionais, ressabiados com o que as idiossincrasias de Brasília podem lhes reservar. Ao mesmo tempo, o capital que antes aportava aqui agora segue para o México, onde o governo local implementa uma série de reformas liberalizantes.

"Enquanto por aqui o crescimento econômico tem sido modesto e o governo tem adotados medidas intervencionistas em alguns dos setores favoritos dos investidores estrangeiros, os mexicanos têm oferecido o mesmo que o Brasil de alguns anos atrás - expectativa de forte crescimento e reformas políticas e econômicas bem ao gosto do mercado", informa o Valor Econômico.

Depois de ter crescido 9,7% nos últimos dois anos, o México deverá avançar mais 4% neste ano, segundo previsão da Cepal, acumulando 14% desde 2010. Já o Brasil viu o crescimento de seu PIB baixar de exuberantes e insustentáveis 7,5% em 2010 para anêmicos 2,7% em 2011 e raquítico 1,6% previsto para este ano.

À mão peluda do Estado na economia se junta a péssima execução das obras tocadas pelo poder público. O PAC, por exemplo, só executou 54% do seu orçamento até setembro, além de ter deixado R$ 15 bilhões parados nos cofres, informa hoje o site (Contas Abertas.)

Um exemplo:
os R$ 1,7 bilhão para aquisição de equipamentos como patrulhas agrícolas, ambulâncias, ônibus e retroescavadeiras, entre outros, continuam intocados.

Não é o caso de se defender o Estado mínimo num país onde enormes parcelas da população ainda têm carências gigantescas. Mas a experiência mostra que maior presença estatal na economia redunda sempre em menos eficiência e menores benefícios para a sociedade. Equilibrar os pesos, abrindo espaço para que o investimento privado floresça, tem sido algo que Brasília não tem demonstrado saber fazer na gestão petista.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela
23 de outubro de 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário