O Brasil vem perdendo
espaço na preferência dos investidores estrangeiros. A intervenção pesada do
Estado na economia tem afugentado negócios e tirado o brilho do país. Com isso,
novos empreendimentos privados, necessários para melhorar as condições internas
de produção, não saem do papel e prejudicam a competitividade
local.
A principal marca da
gestão Dilma Rousseff na economia até agora tem sido a ingerência governamental
em diversos ramos de atividade. Em alguns casos, o enfrentamento até se
justifica, como ocorreu no embate com as companhias de telefonia, em razão da má
qualidade de serviços prestados. Na maioria das ocasiões, porém, a mão pesada do
Estado só atrapalha.
A interferência do
governo em setores como energia, bancos e ferrovias tornou-se fator mais
negativo para o bom desempenho da economia brasileira do que a própria crise
externa, que vem desde 2008. Ou seja, o país poderia estar numa situação bem
mais confortável em termos de crescimento não fossem as investidas de Brasília
no mundo da produção.
(O
Globo) publica hoje levantamento feito
pela consultoria Economática mostrando que apenas os três setores mais
penalizados pelo intervencionismo estatal perderam juntos R$ 59 bilhões em valor
de mercado neste ano. São eles: energia elétrica (R$ 26,9 bilhões),
telecomunicações (R$ 19,8 bilhões) e bancário (R$ 12,4 bilhões).
Trata-se de setores
em que, a despeito da saúde das companhias, as intensas e abruptas
interferências do Estado tornaram os negócios arriscados e imprevisíveis.
Tome-se o exemplo de empresas como a Cemig: suas ações haviam subido quase 65%
desde janeiro e, em dois meses, já perderam mais de 30% do valor. (No ano, a
Bovespa tem valorização de 3,82%.)
A interferência é
particularmente grave quando se sabe que o investimento privado é fundamental
para que o país supere seus atrasos na infraestrutura. "Sem dúvida havia abusos
a combater, mas se criou uma atmosfera interpretada como hostil à rentabilidade
dos negócios", comenta a Folha de S.Paulo hoje em editorial.
O peso estatal vem
retardando investimentos bilionários das companhias privadas. No setor de
mineração, há R$ 350 bilhões engavetados, à espera de um novo marco regulatório.
Na área portuária, onde o comércio exterior do país engargala de vez, existem
projetos de R$ 44 bilhões prontos para ser tocados, mas o bate-cabeça de
Brasília os impede de prosperar, conforme mostrou (O
Globo) em sua edição deste
domingo.
Segundo analistas de
mercado, o Brasil está perdendo o brilho perante investidores internacionais,
ressabiados com o que as idiossincrasias de Brasília podem lhes reservar. Ao
mesmo tempo, o capital que antes aportava aqui agora segue para o México, onde o
governo local implementa uma série de reformas liberalizantes.
"Enquanto por aqui o
crescimento econômico tem sido modesto e o governo tem adotados medidas
intervencionistas em alguns dos setores favoritos dos investidores estrangeiros,
os mexicanos têm oferecido o mesmo que o Brasil de alguns anos atrás -
expectativa de forte crescimento e reformas políticas e econômicas bem ao gosto
do mercado", informa o Valor Econômico.
Depois de ter
crescido 9,7% nos últimos dois anos, o México deverá avançar mais 4% neste ano,
segundo previsão da Cepal, acumulando 14% desde 2010. Já o Brasil viu o
crescimento de seu PIB baixar de exuberantes e insustentáveis 7,5% em 2010 para
anêmicos 2,7% em 2011 e raquítico 1,6% previsto para este ano.
À mão peluda do
Estado na economia se junta a péssima execução das obras tocadas pelo poder
público. O PAC, por exemplo, só executou 54% do seu orçamento até setembro, além
de ter deixado R$ 15 bilhões parados nos cofres, informa hoje o site
(Contas
Abertas.)
Um
exemplo:
os R$ 1,7 bilhão para
aquisição de equipamentos como patrulhas agrícolas, ambulâncias, ônibus e
retroescavadeiras, entre outros, continuam intocados.
Não é o caso de se
defender o Estado mínimo num país onde enormes parcelas da população ainda têm
carências gigantescas. Mas a experiência mostra que maior presença estatal na
economia redunda sempre em menos eficiência e menores benefícios para a
sociedade. Equilibrar os pesos, abrindo espaço para que o investimento privado
floresça, tem sido algo que Brasília não tem demonstrado saber fazer na gestão
petista.
Fonte: Instituto
Teotônio Vilela
23 de outubro de 2012
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