Quem gosta de ser roubado? Você vai ao cinema e, quando volta ao estacionamento, seu carro não está mais lá. É preciso ir à delegacia, se os policiais não estiverem em greve, registrar a ocorrência, acompanhar as diligências e aguardar, sabe-se lá por quanto tempo, para saber que o veículo foi depenado e virou carcaça, ou se, suprema sorte dos azarados, foi encontrado na subida de algum morro, batido e utilizado para assaltos e seqüestros, que precisamos provar nada termos tido com eles.
Quem deixa de ficar indignado ao saber que seu cartão de crédito foi clonado e o ladrão comprou tudo o que você queria mas resistia em comprar, porque não podia, obrigando-nos a provar ao banco que nada tivemos a ver com a ação do bandido sem nome?
Existem mil outros tipos de roubo. O cidadão se entusiasma, faz campanha e vota por um candidato que promete ampliar direitos sociais e defender os assalariados, mas quando ele chega ao poder vemos o cretino aumentar impostos, privatizar patrimônio público, cortar prerrogativas constitucionais e beneficiar os bancos. Roubalheira pura, mas existem piores. Você cai no conto do vigário dos planos de saúde, paga uma fábula por mês e quando precisa recorrer a uma emergência, será rejeitado se não deixar vultoso cheque com caução.
O que dizer do roubo dos juros do cheque especial? Ou do apagão que implodiu seu computador e o deixou preso no elevador junto com um admirador da Carminha?
Pois é. A partir deste fim de semana a metade do país está sendo roubada. Do Rio Grande do Sul a Tocantins, exceção do Norte e do Nordeste, sem a Bahia, fomos surripiados em uma hora de sono e de lazer pelo abominável horário de verão. Além de, à noite, rolarmos na cama por uma hora, sem conseguir dormir, somos obrigados a acordar sonolentos sessenta minutos antes, acendendo a luz do banheiro para escovar os dentes e para tirar as crianças da cama, explicando que ir ao colégio mais cedo serve para economizar energia.
O infeliz que mora em Juazeiro do Norte e trabalha em Petrolina atravessa a ponte às sete da manhã e verifica serem seis horas quando chega na fábrica, um minuto depois. Fica perambulando pela rua até bater o ponto. Só que na hora de voltar para casa, sai às cinco da tarde do trabalho e na mesma hora chega em casa às seis, ouvindo da mulher a reprimenda de haver estado bebendo cachaça depois do serviço.
Convenhamos, o horário de verão é roubo, a pretexto de se economizar 4% de energia no país inteiro, mesmo com o dispêndio de 50% de nossa paciência.
Se é para poupar recursos, logo estarão suprimindo dos bebês uma mamadeira diária, mesmo às custas do choro e da fome, para economizar leite. Ou interrompendo o tráfego entre duas estações do metrô para obrigar os passageiros a andar pelos trilhos, sob a alegação de que exercitar os músculos faz bem à saúde.
O triste nessa história é que ninguém protesta. Nem as ONGs pressurosas em defender o direito dos índios transformarem-se de tribos em nações independentes, nem os ruralistas sequiosos de desmatar mais uns hectares de floresta à margem dos rios. Muito menos a torcida do Flamengo reage, por haver o clube contratado o Adriano e deixado ir embora o Ronaldinho Gaúcho.
Desde o governo Juscelino que essa execrável prática do horário de verão é adotada todos os anos, verificando-se que meses depois, quando estivermos acomodados ao esbulho, dá-se o dito pelo não dito e uma nova hora será então acrescentada ao nosso relógio biológico. Para quê? Para demonstrar que o cidadão não vale nada diante do poder absoluto do Estado.
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JOAQUIM BARBOSA PARA PRESIDENTE
Não é brincadeira, não. Se um pequeno partido lançar, e se o ministro-relator aceitar, o rastilho logo estará queimando no país inteiro. Fala-se da hipótese de Joaquim Barbosa tornar-se candidato à presidência da República.
Num Brasil de tantas decepções, de vez em quanto surgem personagens mágicos capazes de empolgar todo mundo. Geralmente não dá certo, como não deram Jânio Quadros, Fernando Collor e até o … (cala-te, boca).
A verdade é que o inflexível caçador de mensaleiros situa-se na crista da onda. Não há quem não o admire. Reconhecido nas ruas, é aplaudido com entusiasmo. Até sua cor o favorece, menos, é claro, do que seu empenho em botar na cadeia ladrões por enquanto favorecidos pela impunidade permanente que marca nossa sociedade.
Parece óbvio que a possibilidade dele tornar-se candidato assusta muito mais as elites do o Lula assustou. Um torneiro-mecânico criou pânico menor do que poderá criar um aplicador da lei. Uma coisa parece certa: Joaquim Barbosa jamais escreverá uma “Carta aos Brasileiros” capaz de acomodar interesses.
23 de outubro de 2012
Carlos Chagas
Quem deixa de ficar indignado ao saber que seu cartão de crédito foi clonado e o ladrão comprou tudo o que você queria mas resistia em comprar, porque não podia, obrigando-nos a provar ao banco que nada tivemos a ver com a ação do bandido sem nome?
Existem mil outros tipos de roubo. O cidadão se entusiasma, faz campanha e vota por um candidato que promete ampliar direitos sociais e defender os assalariados, mas quando ele chega ao poder vemos o cretino aumentar impostos, privatizar patrimônio público, cortar prerrogativas constitucionais e beneficiar os bancos. Roubalheira pura, mas existem piores. Você cai no conto do vigário dos planos de saúde, paga uma fábula por mês e quando precisa recorrer a uma emergência, será rejeitado se não deixar vultoso cheque com caução.
O que dizer do roubo dos juros do cheque especial? Ou do apagão que implodiu seu computador e o deixou preso no elevador junto com um admirador da Carminha?
Pois é. A partir deste fim de semana a metade do país está sendo roubada. Do Rio Grande do Sul a Tocantins, exceção do Norte e do Nordeste, sem a Bahia, fomos surripiados em uma hora de sono e de lazer pelo abominável horário de verão. Além de, à noite, rolarmos na cama por uma hora, sem conseguir dormir, somos obrigados a acordar sonolentos sessenta minutos antes, acendendo a luz do banheiro para escovar os dentes e para tirar as crianças da cama, explicando que ir ao colégio mais cedo serve para economizar energia.
O infeliz que mora em Juazeiro do Norte e trabalha em Petrolina atravessa a ponte às sete da manhã e verifica serem seis horas quando chega na fábrica, um minuto depois. Fica perambulando pela rua até bater o ponto. Só que na hora de voltar para casa, sai às cinco da tarde do trabalho e na mesma hora chega em casa às seis, ouvindo da mulher a reprimenda de haver estado bebendo cachaça depois do serviço.
Convenhamos, o horário de verão é roubo, a pretexto de se economizar 4% de energia no país inteiro, mesmo com o dispêndio de 50% de nossa paciência.
Se é para poupar recursos, logo estarão suprimindo dos bebês uma mamadeira diária, mesmo às custas do choro e da fome, para economizar leite. Ou interrompendo o tráfego entre duas estações do metrô para obrigar os passageiros a andar pelos trilhos, sob a alegação de que exercitar os músculos faz bem à saúde.
O triste nessa história é que ninguém protesta. Nem as ONGs pressurosas em defender o direito dos índios transformarem-se de tribos em nações independentes, nem os ruralistas sequiosos de desmatar mais uns hectares de floresta à margem dos rios. Muito menos a torcida do Flamengo reage, por haver o clube contratado o Adriano e deixado ir embora o Ronaldinho Gaúcho.
Desde o governo Juscelino que essa execrável prática do horário de verão é adotada todos os anos, verificando-se que meses depois, quando estivermos acomodados ao esbulho, dá-se o dito pelo não dito e uma nova hora será então acrescentada ao nosso relógio biológico. Para quê? Para demonstrar que o cidadão não vale nada diante do poder absoluto do Estado.
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JOAQUIM BARBOSA PARA PRESIDENTE
Não é brincadeira, não. Se um pequeno partido lançar, e se o ministro-relator aceitar, o rastilho logo estará queimando no país inteiro. Fala-se da hipótese de Joaquim Barbosa tornar-se candidato à presidência da República.
Num Brasil de tantas decepções, de vez em quanto surgem personagens mágicos capazes de empolgar todo mundo. Geralmente não dá certo, como não deram Jânio Quadros, Fernando Collor e até o … (cala-te, boca).
A verdade é que o inflexível caçador de mensaleiros situa-se na crista da onda. Não há quem não o admire. Reconhecido nas ruas, é aplaudido com entusiasmo. Até sua cor o favorece, menos, é claro, do que seu empenho em botar na cadeia ladrões por enquanto favorecidos pela impunidade permanente que marca nossa sociedade.
Parece óbvio que a possibilidade dele tornar-se candidato assusta muito mais as elites do o Lula assustou. Um torneiro-mecânico criou pânico menor do que poderá criar um aplicador da lei. Uma coisa parece certa: Joaquim Barbosa jamais escreverá uma “Carta aos Brasileiros” capaz de acomodar interesses.
23 de outubro de 2012
Carlos Chagas
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