O tempo vai passando e, com ele, a percepção de que nem o tal atraso no câmbio nem os juros altos demais eram o principal problema da economia – como vinham insistindo algumas lideranças dos empresários.
Desde fevereiro, o real foi desvalorizado em cerca de 20% em relação ao dólar e, desde agosto de 2011, os juros básicos (Selic) caíram 4,75 pontos porcentuais.
E, no entanto, a produção industrial continua patinando.
Alguns representantes da indústria, como os da Confederação Nacional da Indústria, já parecem ter percebido que o problema não está no câmbio fora do lugar nem nos juros insuportáveis nem na especulação com juros (arbitragem).
O único problema realmente decisivo da indústria é sua falta de competitividade, apenas cosmeticamente tratadas por esses expedientes de que lança mão o governo Dilma:
redução temporária de impostos, alguma desoneração das folhas de pagamento, subsídios creditícios aos "mais amigos" e, é claro, um dólar um pouco mais caro e os juros alguma coisa reduzidos.
Nas atuais condições, a indústria brasileira não tem como enfrentar nem a competição no mercado interno nem no externo.
Não vão longe as propostas que ganharam certa badalação neste ano, como a de arrancar na Organização Mundial do Comércio o reconhecimento de que o câmbio não pode ser usado como arma; e a de aumentar os processos antidumping. O problema principal está aqui dentro e não no jogo desleal (que também existe) da concorrência externa.
Como insistiu desde o fim de 2011 em relação aos resultados do PIB deste ano, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não perde a oportunidade de proclamar melhor desempenho em 2013.
"No ano que vem, o PIB crescerá em torno de 4%...", repetiu na segunda-feira. Tomara que esteja certo. Mesmo se o ano de 2013 realmente apresentar atividade econômica melhor do que a pífia deste ano (aproximadamente, avanço de 1,5% do PIB), é improvável que possa ser sustentável.
A indústria nacional investe pouco e não parece interessada em mudar de atitude.
E os empresários brasileiros se mantêm na defensiva, por quatro razões: primeira, porque temem o impacto da crise externa, que corta encomendas e aumenta a agressividade comercial das empresas estrangeiras no mercado brasileiro; segunda, porque não veem nenhum grande progresso na derrubada do alto custo Brasil; terceira, por sentirem que o governo interfere demais na economia e sempre remexe nas regras do jogo, com prejuízo da previsibilidade; e, quarta, porque não veem disposição do governo em tocar as reformas – principalmente a tributária, a previdenciária, a judiciária e a das antiquadas leis trabalhistas.
O discurso oficial é que as coisas estão melhorando e que, se algo atrapalha, é a crise externa. O que os críticos identificam como desarrumação crescente da economia e desmonte no tripé original, para o governo, é somente "política anticíclica".
Alterações estruturais profundas ocorrem na economia – insiste o governo Dilma – e os resultados não tardarão a vir, "de forma não linear" – como preferem dizer os documentos do Banco Central.
Só que os analistas já começaram a derrubar as projeções de crescimento econômico também em 2013...
Devagar demais
Celso Ming
14 de novembro de 2012
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