O governo federal
aceitou pagar R$ 45 bilhões por um crescimento econômico provavelmente inferior
a 2% - bem próximo de 1,5%, segundo as estimativas correntes no mercado
financeiro.
Se fosse uma compra
de bens ou serviços, poderia ser mais um escândalo de superfaturamento ou, no
mínimo, de generoso desperdício. Aquele dinheirão deve ser o total das
desonerações federais neste ano, segundo o ministro da Fazenda, Guido
Mantega.
O governo, disse
ele, decidiu tomar medidas anticíclicas, como em 2009, para manter o nível de
investimentos.
É uma explicação
estranha.
Os incentivos foram
dirigidos muito mais ao consumo que à produção, como comprovam todos os dados
até agora conhecidos. Se tiver havido algum efeito sobre o investimento, deve
ter sido mínimo. O próprio ministro reconheceu a necessidade de se investir de
8% a 10% mais que este ano, em 2013, para garantir uma expansão econômica de uns
4%.
Pergunta inevitável,
diante dos resultados miseráveis produzidos pela política
anticíclica:
sem esses
incentivos, quanto teria encolhido a economia brasileira? E quanto poderá
crescer, nos próximos anos, se as ações estratégicas do governo continuarem tão
atrapalhadas quanto têm sido?
Um exemplo
claro:
o plano de reduzir
as tarifas de energia elétrica a partir de 2013 só produziu, até agora, um
impasse entre investidores e autoridades e sinais de muita inquietação no
mercado de capitais.
O governo propôs a
renovação das concessões a empresas do setor elétrico porque a maior parte de
seus investimentos já foi amortizada. Em tese, isso facilitaria um acordo sobre
as tarifas. Mas ainda faltaria compensar a amortização incompleta. Aí apareceu o
problema: os valores propostos foram considerados muito baixos - avaliação
confirmada, num dos casos, por um estudo da Fundação Getúlio
Vargas.
Resultado:
há investidores
pressionando até a Eletrobrás para recusar a renovação.
Não há muito
mistério nessa história, O governo tem dificuldade tanto para diagnosticar os
problemas (como indica o fiasco econômico de 2011 e 2012) quanto para definir
seus objetivos e, portanto, suas estratégias. A briga com as concessionárias é
consequência dessa incapacidade.
O entendimento com o
setor privado é necessário por mais de uma razão, a começar pelo aperto
financeiro do setor público.
Mas o governo, até
por preconceito, tem dificuldade para evitar o conflito, quando se trata de
conciliar o interesse público e os objetivos do investidor privado. Isso já foi
comprovado em licitações fracassadas. Mais um teste ocorrerá, brevemente, quando
saírem os editais para concessões de 37 mil quilômetros de
rodovias.
Quando se considera
essa extraordinária vocação para a trapalhada, fica bem mais fácil entender o
resultado econômico deste ano. Um crescimento inferior aos 2,7% de 2011 é quase
inacreditável, mas é mais uma confirmação dos desacertos da política. Os juros
caíram e o real se depreciou, mas a produção industrial diminuiu, porque o
governo, obviamente, andou atirando em alvos errados.
Tão pouco produtiva
quanto os incentivos fiscais foi a estratégia de redução de juros e de
tolerância à inflação bem acima do centro da meta, igualmente justificável,
segundo a retórica oficial, pela prioridade atribuída ao crescimento. Qual
crescimento?
Nestes dois anos, o
País nem cresceu nem conseguiu elevar seu potencial de expansão, mas seus
fundamentos macroeconômicos ficaram um pouco piores. Pagou-se muito por nada ou
quase nada. A inflação continua na faixa de 5% a 5,5%. Poderá até diminuir no
próximo ano, segundo as projeções do Banco Central (BC), se os preços dos
produtos básicos recuarem.
Isso dependerá em
boa parte da evolução da economia chinesa.
Alguns analistas
acrescentam um detalhe próprio de humor negro:
a perspectiva de uma
economia brasileira ainda em marcha lenta manterá a inflação moderada e
permitirá a continuação da política de juros do BC.
Esse pormenor em
nada melhora o quadro.
O ministro da
Fazenda prefere mostrar-se mais otimista, No próximo ano, segundo ele, o produto
interno bruto (PIB) crescerá no mínimo 4%. Ele apresenta essa projeção como se
estivesse anunciando um triunfo, Não será um resultado brilhante, no entanto,
depois dos 2,7% de 2011 e do provável 1,5% deste ano. Mas a pior parte da
história é outra.
Por quanto tempo
será possível manter um ritmo de expansão igual ou superior a 4% ao ano, se o
investimento continuar em torno de 19% do PIB? Na maior parte das estimativas
correntes, o potencial de crescimento está na faixa de 3,5% a 4%. É este o
centro de todo o problema.
Autor: Rolf
Kuntz
14 de novembro de 2012
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