Um pesadelo americano...
Elas representam o extremo grau de desigualdade social a que chegaram os Estados Unidos. 47 milhões de americanos estão vivendo abaixo da linha da pobreza. Isso é equivalente a cerca de 15% da população. (Na métrica americana, essa linha está na faixa de 1.000 dólares por mês.)
O que aconteceu com o sonho americano? Foi usurpado por uma rarefeita, predadora, gananciosa elite mandante que, entre outras coisas, diminuiu absurdamente a carga de impostos dos ricos nas últimas décadas. Só recentemente esse descalabro veio à tona — quando o bilionário Warren Buffett mostrou, num artigo que entrou automaticamente para a história americana, que paga proporcionalmente menos imposto que sua secretária.
Os ricos americanos gostam de se gabar de sua filantropia, de suas ações de caridade. É uma falácia. Rico tem que pagar impostos. Ponto. É o que acontece na sociedade escandinava, a mais avançada do mundo — a única em que genuinamente se formou um consenso segundo o qual impostos altos para quem tem mais dinheiro são o preço a pagar para o bem estar geral da população. Não adianta você dar x em ações filantrópicas se manobra nos bastidores para que as leis permitam a você economizar 2x em impostos.
Os moradores das neofavelas americanas estão enfrentando temperaturas sinistras – e, não bastasse isso, a iniquidade das pessoas que de fato mandam em Washington. Para a maior parte deles não existe água corrente e nem luz elétrica — e nem comida suficiente. (Você pode ler uma boa reportagem de hoje da BBC sobre o tema. Fora isso, um vídeo de uma emissora americana com imagens e depoimentos expressivos está colocado no pé deste meu texto.)
É lamentável que os Estados Unidos tenham se convertido na negação das virtudes pregadas por líderes como George Washington e Thomas Jefferson, como frugalidade e solidariedade. Ao seguir a receita dos fundadores da nação, os Estados Unidos se transformaram no que foram. Ao dar brutalmente as costas para ela, viraram o que são – um pesadelo, povoado por barracas de miseráveis que se multiplicam.
26 de dezembro de 2012
Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)
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