"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

MERAS NOTAS NATALINAS


Feliz Natal! A primeira coisa que fiz ontem, à meia noite, foi dar um parabéns mental a Jesus. O renascimento dele há mais de dois mil anos é um dos acontecimentos mais importantes da sociedade ocidental – em franco processo de avacalhação psicossocial. A segunda atitude foi desejar tudo de bom para todo mundo. A terceira foi dar um sorriso de Gioconda para o Papai Noel. Ele e a Patroa – que não divido com o Agamenon porque ela trabalha na televisão rival da família Marinho – me decretaram o prolongamento das férias por mais uma semana.
Só quem não tira férias é o meu BlackBerry – embora o sistema dele tenha sofrido um apagão tão brabo que sumiu com toda a minha agenda de contatos na mesma velocidade em que o Governo do Crime Organizado rouba o dinheiro dos brasileiros pagadores de impostos e de comédias. O terrível Nextel, por volta do meio-dia, cumpriu a missão de interromper minhas férias de mentirinha para um comunicado na importante. O Agente 171, que trabalha lá pros lados da Ilha da Fantasia cercada por políticos, avisou que algo muito estranho acontecia por lá.

Achei o recado uma redundância, mas o Bond argentino insistiu. A Presidenta Dilma Rousseff veio voando de Porto Alegre para um expediente de emergência, na segunda-feira com jeitinho de domingo de manhã, no Palácio do Planalto. Todo o esquema de segurança e de comunicações fora acionado em um supetão. Houve nenhuma explicação oficial para o expediente na véspera do Natal. Os informes ainda não muito exatos indicam que existem sérios problemas para os lados do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, e da Ministra do Turismo, Marta Suplicy... Falei para o 171: “Vamos aguardar para ver que m... acontece”. E fui para a praia.

Lá, no meio de um paraíso ecológico, Papai Noel armou uma terrível sacanagem comigo. Depois de caminhar quase uma hora e meia por uma trilha no meio da mata – que deve ter ajudado a queimar meus muitos quilogramas a mais -, tive uma surpresa desagradável ao emergir de um mergulho na piscina marinha. Meus olhos foram atraídos para uma boia de sinalização. Nela estava fincada uma bandeira. Do Brasil? Não! Do Corinthians bicampeão mundial? Também, não! Do Flamengo, maior time do universo? Para com isso... A bandeira era do PT!

Só não foi Perda Total nas minhas férias porque sempre me ensinaram a levar a vida, seriamente, na brincadeira. Minha primeira reação foi de ironia machadiana. Bati palminha para a bandeirinha branca com a estrelinha vermelha e a sigla de perda total inscrita no meio dela. Perto de mim, um banhista, pequeno empresário, classe média emergente, não sendo obrigado a interpretar meu aplauso, comentou: “Eles melhoraram muito a economia...”. Como o cara trabalha no setor de construção civil, entendi a leitura que ele faz da conjuntura. Estava ali de férias com a mulher e a filha porque sobrou uma boa grana de tanto trabalho.

A bandeirinha me gerou reflexões. A primeira é quea política assume hoje a semelhança de uma disputa de um jogo futebol. A torcida, fanática, a maioria sem percepção completa da realidade, torce pela sigla hegemônica no poder ou, no mínimo, se diz contente e satisfeita com o desempenho dela. A outra reflexão é que, por falta de capacidade de análise da maioria (que só consegue avaliar se algo está bom ou ruim conforme a própria situação pessoal e não de acordo com a conjuntura), não vai demorar muito tempo para que a torcida do PT fique maior que a do Flamengo (16%) e a do Corinthians (15%).

O ser humano é pragmático. A massa raciocina assim, como torcida. De preferência, se alia com a maioria que está ganhando. E quando faltam adversários de peso, o time que está vencendo só aumenta o número de seguidores – eventuais ou fanáticos. A economia vai bem se o sujeito está ganhando melhor e tendo chances de comprar e consumir aquilo que antes não podia. Portanto, basta um discurso político de continuidade, para que o partido político no poder continue lá por muito mais tempo. O discurso natalino da Presidenta Dilma Rousseff foi nesta linha, com promessas de obras e desenvolvimento que vão viabilizar o sonho real da classe emergente.

O termômetro do consumismo confirma a tese. A Associação dos Lojistas de Shoppings verificou um crescimento de 6% nas vendas natalinas. Este desempenho positivo, real, da atividade comercial, serve para mascarar o ridículo crescimento do PIB – o tal Produto Interno Bruto, ou tudo que a economia produz em um ano, conforme me ensinou ontem a professora Patrícia Poeta, no Jornal Nacional que só mostrou coisas boas sobre as excelentes perspectivas econômicas. Notícias bem manipuladas a favor do governo transformam qualquer pibinho em um gigante bem dotado.

Enquanto isso, o ministro Mantega é derretido. Como, se tudo vai tão bem? Ao que tudo indica na economia corretamente avaliada, nada vai tão bem assim. Já temos uma inflaçãozinha fungando no cangote do bolso. Alimentos e serviços já sobem, em média, 9%. Aluguéis darão saltinhos ao longo do ano. Para salvar as finanças da Petrobrás, no começo do ano, o governo cumprirá a promessa já feita do aumentão nos preços dos combustíveis. O aumento da gasolina, álcool e diesel vai puxar outros preços para cima.
 
O momento é de cautela. Dilma sabe disto e vai trocar Mantega por alguém que retransmita a alegria na percepção econômica. O show tem que continuar. Ainda existem muitas bandeirinhas do PT a serem fincadas nas boias. O perigo é, se a economia desandar, nós vamos precisar mais das boias de salvação que das bandeiras de marketagem.
 
Também não se pode esquecer de um fenômeno político recorrente. Os começos de crise podem ser agravados pelos problemas políticos que o PT têm de sobra. O Mensalão que ainda não acabou, o Rosegate que sequer começou e outras pedras nada preciosas que podem surgir no caminho até 2014 podem transformar o ano de 2013 em altamente problemático para a turma da Perda Total.
 
Até agora – como se diz na gíria de futebol – eles ganharam (literalmente) no roubo. A tendência é que continuem vencendo, por falta de adversários. Mas nem tudo está perdido no jogo político. Como o PT é autofágico – comendo-se a si mesmo em suas disputas internas -, uma hora a bandeira cai do mastro. O problema de sempre é quem vai ocupar o vácuo de poder para recuperar o Brasil da Perda Total (PT, na gíria das seguradoras).
 
De todo modo, Feliz Natal! Eu vou pra a praia torturar meus olhos com a bandeirinha do time dos petralhas...
Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.
26 de dezembro de 2012
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.

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