Um grande inovador morreu em 10 de dezembro
Albert Hirschman sabia do que estava falando quando batizou um de seus livros de "Ensaios sobre a Violação". Ele foi um extraordinário praticante peripatético da ciência sombria. Nascido em Berlim em 1915, fugiu dos nazistas em 1933, estudou em Paris, Londres e Trieste, integrou a resistência antimussolini, lutou no lado republicano da Guerra Civil Espanhola, serviu no exército francês até o colapso da França em 1940, ajudou a organizar uma "ferrovia clandestina" para refugiados, emigrou para os EUA, alistou-se no exército e foi tradutor em Nuremberg.
Ele aplicou o espírito cosmopolita que adquiriu nesses anos a tudo que escreveu.
Ele construiu sua reputação como um economista de desenvolvimento, com foco na América Latina, mas rapidamente ultrapassou obsessivamente esse escopo – não apenas em outras subdisciplinas tais como a teoria da firma, mas também em disciplinas completamente distintas, como a ciência política e a história do pensamento.
Hirschman nunca ganhou o prêmio Nobel de economia que tanto merecia, talvez porque sua obra fosse de difícil classificação. No entanto, como se por recompensa, a Princeton University Press está prestes a publicar uma biografia de 768 páginas escrita por Jeremy Adelman.
O livro mais famoso de Hirschman, "Abandono, Voz e Lealdade: Respostas ao Declínio de Firmas, Organizações e Estados", continua tão sugestivo hoje quanto quando apareceu pela primeira vez em 1970. Hirschman argumentou que as pessoas têm duas maneiras diferentes de reagir à decepção.
Elas podem votar com seus pés (abandono) ou permanecer onde estão e reclamar (voz). Hirschman levantou alguns problemas com o culto do abandono. Às vezes, tal decisão pereniza o status quo. Os ditadores podem reinar por mais tempo se os seus críticos mais audazes fugirem para o exterior (com efeito, Cuba usa a emigração como uma válvula de segurança).
Ele também desafiou a sabedoria convencional entre sociólogos e historiadores de que a ética protestante preparou o caminho para o capitalismo. Ele sugeriu que, ao contrário, o papel principal deveria ser concedido a um grupo de pensadores, tal como Montesquieu, que argumentaram que a melhor maneira de prevenir a desordem social era canalizar as paixões das pessoas para o enriquecimento pessoal.
Em "A Retórica da Reação" Hirschman escreveu que os partidários de "ignorância tímida" dependem de três tipos de argumentos: prejuízo (reformas custarão muito e porão em risco os ganhos anteriores); perversidade (reformas prejudicarão aqueles a que se pretende ajudar); e futilidade (os problemas são tão grandes que nada pode ser feito a respeito). Isso certamente descreve o debate acerca do aquecimento global, drogas ilegais e inúmeras outras questões. Com sorte, a partida de Hirschman não silenciará sua voz.
26 de dezembro de 2012
Fontes: The Economist-Exit Albert Hirschman
Ele aplicou o espírito cosmopolita que adquiriu nesses anos a tudo que escreveu.
Ele construiu sua reputação como um economista de desenvolvimento, com foco na América Latina, mas rapidamente ultrapassou obsessivamente esse escopo – não apenas em outras subdisciplinas tais como a teoria da firma, mas também em disciplinas completamente distintas, como a ciência política e a história do pensamento.
Hirschman nunca ganhou o prêmio Nobel de economia que tanto merecia, talvez porque sua obra fosse de difícil classificação. No entanto, como se por recompensa, a Princeton University Press está prestes a publicar uma biografia de 768 páginas escrita por Jeremy Adelman.
O livro mais famoso de Hirschman, "Abandono, Voz e Lealdade: Respostas ao Declínio de Firmas, Organizações e Estados", continua tão sugestivo hoje quanto quando apareceu pela primeira vez em 1970. Hirschman argumentou que as pessoas têm duas maneiras diferentes de reagir à decepção.
Elas podem votar com seus pés (abandono) ou permanecer onde estão e reclamar (voz). Hirschman levantou alguns problemas com o culto do abandono. Às vezes, tal decisão pereniza o status quo. Os ditadores podem reinar por mais tempo se os seus críticos mais audazes fugirem para o exterior (com efeito, Cuba usa a emigração como uma válvula de segurança).
Ele também desafiou a sabedoria convencional entre sociólogos e historiadores de que a ética protestante preparou o caminho para o capitalismo. Ele sugeriu que, ao contrário, o papel principal deveria ser concedido a um grupo de pensadores, tal como Montesquieu, que argumentaram que a melhor maneira de prevenir a desordem social era canalizar as paixões das pessoas para o enriquecimento pessoal.
Em "A Retórica da Reação" Hirschman escreveu que os partidários de "ignorância tímida" dependem de três tipos de argumentos: prejuízo (reformas custarão muito e porão em risco os ganhos anteriores); perversidade (reformas prejudicarão aqueles a que se pretende ajudar); e futilidade (os problemas são tão grandes que nada pode ser feito a respeito). Isso certamente descreve o debate acerca do aquecimento global, drogas ilegais e inúmeras outras questões. Com sorte, a partida de Hirschman não silenciará sua voz.
26 de dezembro de 2012
Fontes: The Economist-Exit Albert Hirschman
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