Os últimos movimentos são inequívocos: Aécio Neves caminha para reinar absoluto no PSDB. Foi lançado por Fernando Henrique Cardoso para a disputa de 2014 ao mesmo tempo em que examina a possibilidade de assumir a presidência do partido a partir de maio próximo.
Com isso, ocupará os espaços mais relevantes e poderá realizar a aspiração dos conterrâneos sempre desejosos de que o processo de sucessão presidencial volte a "passar por Minas".
Uma candidatura definida com tanta antecedência em agremiação sem as características de unidade em torno de uma figura, como o PT, pode dar certo se servir para dar rumo ao partido. Também pode piorar ainda mais as coisas para os tucanos se a ideia for transformá-lo em cartório de um grupo.
De qualquer forma, há muita água para rolar, como demonstram as resistências dos paulistas. Mas, descontado o imponderável, a candidatura é fato dado por consumado em discurso de Fernando Henrique durante a reunião de prefeitos eleitos pelo PSDB e aparentemente - e apenas na aparência - refugado por Aécio.
Ele diz que "ainda é cedo" e não quer "queimar etapas", mas fala para constar. Digamos que seja uma ambiguidade combinada na medida da necessidade de ganhar algum tempo para aparar arestas internas. De um lado, FH lança o nome e, de outro, Aécio faz de conta que ficou de pensar.
Pura cenografia, já que os dois conversam dia sim outro também e o mineiro se movimenta claramente como candidato desde a eleição municipal.
Analisa a cena política sob a ótica da candidatura, mantém abertos canais em todos os partidos na perspectiva de mais adiante conquistar aliados e joga na divisão da base governista.
Por exemplo, no momento incentiva a candidatura de Júlio Delgado (PSB) à presidência da Câmara no intuito menos de agradar ao governador Eduardo Campos e mais de atrapalhar o acordo de rodízio entre PT e PMDB, fomentando a cizânia.
"Amigo na pessoa física" de Campos, por enquanto Aécio não acredita na candidatura dele à Presidência. "Posso começar a mudar de opinião quando, e se, o PSB deixar os cargos que ocupa no governo federal."
Na visão dele, o governador de Pernambuco terá dificuldade de transitar da condição de aliado para a de oponente do Planalto e, por isso, aposta que há 70% de chance de Campos continuar ao lado do governo.
"Eu me preocuparia mais se houvesse outra força emergente nitidamente de oposição", diz o senador. Como se vê, sem a menor preocupação com a "queima de etapas".
Vacinação. O senador Aécio Neves acha que o PSDB precisa o quanto antes "furar a bolha" do julgamento do tucano Eduardo Azeredo no processo do mensalão mineiro.
Ou seja, enfrentar a questão que põe o partido como introdutor de Marcos Valério no mundo da política, por ter usado os métodos depois ampliados do esquema no mensalão a serviço da campanha pela reeleição de Azeredo ao governo de Minas.
Outro dia mesmo o senador defendeu publicamente essa ideia sobre a qual há algum tempo conversa nos bastidores.
Na opinião de Aécio, o PSDB deve argumentar que o episódio não atingiu a direção do partido, disse respeito a uma regional e não contaminou o governo do Estado porque aquela eleição foi perdida.
Entre os tucanos comenta-se que há dois trunfos para conter os ataques do PT quando o assunto estiver na ordem do dia: o envolvimento de Walfrido dos Mares Guia, ministro no governo Lula, e Clésio Andrade, na época vice de Azeredo e hoje comandante em chefe do PMDB de Minas.
Cálculo. Não deve ser coincidência. Fernando Henrique pôs o nome de Aécio Neves na roda em momento de infortúnio político para o governo por causa das condenações e do escândalo dos pareceres, dificultando o contra-ataque.
05 de dezembro de 2012
Dora Kramer, O Estado de S.Paulo
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