Reportagem de Carolina Oliveira e Luiz Ernesto Magalhães, O Globo de sexta-feira 11, coloca em destaque a interdição de uma galeria do túnel da Grota Funda, pela Prefeitura para realização de obras para conter queda de rebocos, já que um, segundo o texto teria se desprendido criando problemas para a fiação elétrica. Mais uma dificuldade da Transoeste. Uma fotógrafa da Sanerio, empresa que construiu parte da via, Gabriela Melo dos Santos, se dispôs a fotografar o espaço aberto, segundo ela, de três metros quadrados. Mas o secretário de Conservação do Município, Marcus Belchior Correa Bento tomou sua máquina e a ameaçou.
O secretário pode ter impedido a foto, mas não o fato. Pelo contrário. A ele deu inclusive maior realce. Minha mulher ao ler a matéria, me chamou atenção para o absurdo. Atitudes assim são sempre negativas. E sem lógica. Duplamente. Em primeiro lugar, não faz sentido alguém apoderar-se de objeto de propriedade de outra pessoa. Em segundo lugar, a interdição real foi causada por um fato concreto. Em terceiro, a iniciativa de interditar a galeria foi tomada pela própria Prefeitura.
A fotógrafa, provavelmente, desejava apresentar aos dirigentes da empresa na qual trabalha um material que reproduzisse exatamente o que havia acontecido. Nada demais.
Mas mesmo admitindo-se que a foto acabasse nas páginas dos jornais, o que teria isso de mal? O problema ocorreu, tanto assim que a Prefeitura interditou a galeria. Inclusive a moça trabalha para a própria empresa envolvida. Um caso absurdo de censura e violação da propriedade particular.
DITADURA
Num plano menor lembra artifícios usados pela ditadura militar, por exemplo, na tentativa vã de diminuir a inflação. Quando o petróleo disparou de preço , em 73, o então ministro da Fazenda, Delfim Neto, deslocou o fato real para um espaço chamado acidentalidade, a fim de evitar seu peso no índice do custo de vida.
Ora, se o preço subiu, de forma acidental ou não, o termômetro registra. Se ele depois recuar, assinala também no sentido contrário. Mas não. O objetivo foi o de praticar um expurgo no cálculo. Isso aconteceu no governo Médici.
Quando Mário Henrique Simonsen assumiu o cargo na administração Ernesto Geisel, apontou a existência de um expurgo de 10%. O expurgo foi apontado, mas não reposto
O que sucedeu em consequência? Sobre aquele corte deixaram de incidir, através do tempo, todos os reajustes salariais praticados. As perdas acumulam-se até hoje e são, em consequência, cada vez maiores. Pois umas acumulam-se sobre as outras.
Um caso de perda também ocorreu com os vencimentos dos ministros do Supremo. Três anos sem serem reajustados, o que somente está ocorrendo agora na percentagem de 5,6%, houve nitidamente redução salarial.
Claro, essa redução acontece toda vez que valores do trabalho humano perdem no confronto com a inflação. Diminuir vencimentos é algo que a Constituição do país impede. Na teoria. Porque na prática ela ocorre. Agora nem por isso as contas públicas, com Saúde e Educação, não são comprimidas pela diluição inflacionária.
Pelo contrário. Nem o câmbio. Exemplo definitivo: a paridade entre o real e o dólar, criada delo governo FHC. Para isso, além de outros fatores, era preciso que as taxas inflacionárias fossem as mesmas no Brasil e nos EUA. Mesmo caso da foto que Gabriela dos Santos tentou. O fato lá está na abertura do reboco que caiu.
14 de janeiro de 2013
Pedro do Coutto
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