Há 5 anos, na euforia do desconhecido pré-sal, escrevi: “Para valer, só em 2018 ou 2020”. Agora, apontam com muita segurança para 2030.
Nem seria necessário assinalar, as posições e convicções do repórter estão aí mesmo, não de hoje mas de sempre: sou “petrobrasista” desde o primeiro sinal de surgimento do petróleo é nosso. Só que a “minha” Petrobras era e continua sendo inteiramente diferente.
Desde o início marquei posição com uma Petrobras estatal-total. Que para início de conversa não teria acionistas particulares privados, seria administrada unicamente pelo governo. O que significaria isso?
Enriquecimento duplo para o cidadão-contribuinte-eleitor, que eu já identificava assim. Pois sem corrupção e desadministração, é impossível ter prejuízo. O lucro certo e colossal iria então para o governo, ou seja, para o povo. Com a segurança de preços baixos para o combustível, e a utilização desse lucro para financiamento de empresas igualmente e obrigatoriamente estatais, única e totalmente estatais. Fizeram completamente o contrário.
O resultado está aí. Se a Petrobras tivesse sido fundada e preservada da corrupção e da incompetência, não estaria sendo discutida negativamente como está. Mas não é apenas o lucro potencial e indireto do cidadão, que está sendo desbaratado, desperdiçado, desacreditado.
A PROPAGANDA ENGANOSA: “LUCREM COM A PETROBRAS”
De todos os modos e formas, tentaram o cidadão, ofereceram lucro fácil e permanente. Jogaram esse cidadão no mais vergonhoso, tumultuado e corrupto centro de enriquecimento de uns poucos, e no empobrecimento dos que não têm jeito de se defenderem. Tomando por base apenas 1929, quantas crises econômicas do mundo (com o terrorismo financeiro) surgiram de Wall Street e congêneres, e dos bancos, sempre associados ao que existe de maior enriquecimento privilegiado?
Paul Getty, o homem que mais ganhou dinheiro nas Bolsas, não perdia nem mesmo no auge das crises (aí ganhava mais e com mais tranqüilidade) falava muito com jornalistas. E quando lhe perguntavam como ganhava sempre, respondia invariavelmente: “Compro na baixa e vendo na alta”. Não estava mentindo, era assim mesmo, só precisava “estar lá dentro”.
O INDEFESÁVEL ACIONISTA DA PETROBRAS
De tanta insistência para que adquirissem essas ações maravilhosas e lucrativas, foram comprando. E acumulando prejuízos, que não existiriam, se a “minha” Petrobras fosse totalmente estatal. Agora isso é praticamente impossível, a empresa teria que ser “despopularizada”, as ações privadas e particulares precisariam ser compradas pela Petrobras.
Qual seria o total de dinheiro necessário para transformar a Petrobras no que deveria ter sido desde o início? Não adianta a repetição, mas é obrigação estatal-total. E não é a preocupação apenas com o montante de dinheiro, mas como calcular o que deveria ser pago a cada acionista-cidadão?
Sem pesquisar muito, utilizando números que estão disponíveis. A partir da ofensiva publicitária “compre ações da Petrobras”, elas estavam a 52 reais. (Pode até ser mais, o valor armazenado na memória é esse).
Agora, oscilam entre 15 e 17 reais. 15 as ON (Ordinárias Nominativas, com direito a voto, que voto?), 17 as PN (Preferenciais Nominativas, que são obrigadas a receber na frente os dividendos, que dividendos?), mas o cálculo não pode ser feito unicamente pelo valor atual.
Quem comprou ações há 8 anos, digamos que a 52 reais, está perdendo nominalmente, 35 reais em cada. Mas e os lucros que poderiam obter com outros investimentos? A popularíssima Caderneta de Poupança teria preservado pelo menos o capital inicial e acrescentado alguma coisa. Por mínimo que fosse, não seria menos zero.
A DISPUTA SELVAGEM PELOS ROYALTIES DO PRÉ-SAL
Os dividendos do petróleo convencional são pagos rigorosamente aos três estados produtores, o do Rio, Espírito Santo, São Paulo. E quase todo dia, jornais, rádios, televisões, internet, divulgam que “a Petrobras descobriu petróleo de alta qualidade”, nas mais diversas localidades. E esses estados imediatamente recebem um volume maior de compensação. É o contrato.
Ninguém briga por esses royalties do petróleo convencional, a Petrobras não descumpre o que foi acertado. O que se discute desvairadamente são os royalties do chamado pré-sal, que se pensava que estaria disponível a partir de 2018-2020. Mas que agora oficialmente passa constar do calendário a partir de 2030.
E já que estamos falando de royalties, uma revelação: esses três estados vão entrar no Supremo, reivindicando a garantia do recebimento dos royalties do pré-sal. Vão perder, talvez até por unanimidade, que só não será obtida por causa dos ministros “estadualistas”.
ONDE ESTÁ O PETROLÉO DO PRÉ-SAL?
Foi descoberto (mas ainda não extraído) a 200 quilômetros da costa. Em áreas rigorosamente da União. Portanto, de propriedade, sem contestação, da própria Petrobras. Sem distribuição de royalties para nenhum estado.
Apesar da data estar anunciada para 2030, pode representar um grande alento e progresso para a empresa, que já foi considerada a maior do Brasil. E que hoje tem patrimônio menor até do que cervejarias.
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PS – Os acionistas particulares que foram iludidos, podem sonhar com uma recuperação financeira. Mas com 17 anos à frente?
PS2 – De qualquer maneira, temos que “revolucionar” o modelo administrativo da Petrobras, para que acorde de uma vez, não fique dormitando miseravelmente.
28 de fevereiro de 2013
Helio Fernandes
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