"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

UMA VELHA FÁBULA TROPICAL

 

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Reunida com seus empresários amestrados do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o “Conselhão”, a presidente Dilma repetiu ontem o que o dr. Guido Mantega tinha ido dizer anteontem a uma plateia de investidores internacionais em Nova York: que “o governo vai trabalhar para garantir que os investimentos necessários sejam feitos com estabilidade juridica clara, remunerados devidamente e tenham financiamentos de longo prazo”.

Esse tipo de promessa, porém, é uma contradição em termos posto que “segurança jurídica” é, exatamente, o investidor privado poder prescindir de ou ignorar olimpicamente as promessas presidenciais porque onde ela existe de fato o presidente não tem força para mudar as regras do jogo com a bola em campo, nem para bem, nem para mal.

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Depois de cinco trimestres seguidos de quedas nos investimentos Dilma corre atras do prejuízo acumulado nos dez anos de cigarra em que o PT entoava loas a si mesmo e dava lições ao mundo enquanto distribuia automóveis e eletrodomésticos baratos à farta e deixava displicentemente de lado o trabalho de formiga para prover o país de estradas, ferrovias, portos, aeroportos e outros elementos imprescindíveis de infraestrutura.

Agora que se anuncia o inverno do PIB, corre atras de R$ 235 bi para repor a toque de caixa o que dispersou comprando popularidade fácil nos tempos de fartura.

É por isso que a presidente tem feito das tripas coração para recitar o script que todo investidor gostaria de ouvir. Ontem recorreu até à “cola” desastradamente flagrada em fotografia publicada no Valor.

Mas quanto mais esperneia mais se enreda.

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A promessa de taxas de retorno de 15% ao ano para a exploração de rodovias e de 12,5% para a de ferrovias, por exemplo, provocaria a entrada em cena da polícia em qualquer país onde houvesse segurança jurídica de fato, tão escandalosamente infladas que são num mundo de juros negativos.

No país do PT, no entanto, nem essa quantidade de sangue na água é suficientes para reverter o “instinto animal” dos empresários da condição de defesa para a de ataque, e não é difícil entender porque.

Menos de 48 horas antes dessa promessa, para não irmos longe, o governo suspendia a implementação da MP 595, que trata da modernização da gestão dos portos, diante da simples ameaça de uma greve dos portuários cujos “direitos adquiridos” graças aos esforços de sindicalistas do partido em tempos idos implicam a imposição de um imposto proibitivo e arrasador sobre todo produto que entra ou sai do país.

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É essa a “trave” onde batem todas as bolas levantadas pelo “Conselhão” que a presidente tenta cabecear para o gol. Seus ingentes esforços para recriar uma “lógica de mercado” à sua imagem e semelhança esbarram sempre nos privilégios intocáveis de alguma clientela importante ou mesmo no cerne do esquema de poder em que o PT se apoia.

Primeiro aumentam-se os salários sem aumentar a produtividade. Aí os empresários amestrados avisam que a conta não vai fechar. Então ela reduz por decreto o peso dos impostos sobre as folhas de pagamento aqui e ali, corta na marra as contas de luz e comprime o preço dos combustíveis para promover o “ganho de podutividade” ausente da equação.

Mas a redução na arecadação sem a correspondente redução de gastos pressiona o déficit público, o corte na conta de luz no tranco afugenta os investidores, o tamponamento do preço dos combustíveis detona as contas da Petrobrás.

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A inflação começa, então, a por a cebeça para fora da toca. Mas como não da para cortar nem o assistencialismo que compra votos, nem o numero de funcionários que são o núcleo duro da militância petista, nem os “direitos especiais” dos sindicatos que mandam nos portos, o Copom fica balbuciando desculpas enquanto entra em cena a “matemática criativa” com que o dr. Mantega, todo pressuroso, trata de por os resultados onde sua magnânima excelência quer vê-los…

E aí não adianta jurar de pés juntos que “o controle da inflação é um valor em si”: ninguém consegue ver no frankenstein costurado por dona Dilma a pin-up que, em sua imaginação, ela pensa estar desfilando para os empresários, e o pibinho dos investidores encolhe cada vez mais.
Até Jorge Gerdau, que se senta na cabeceira do Conselhão, anunciou a redução dos investimentos nas suas próprias empresas para os próximos cinco anos…

O problema é que nestes nossos trópicos as cigarras é que fazem as leis e, na hora do vamos ver, as formigas sempre ficam com a conta da festa de que que não participaram.

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28 de fevereiro de 2013
vespeiro

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