Tive o privilégio de
receber do deputado Ricardo Berzoine elegante refutação ao meu artigo “Erradicar
a miséria”, publicado em 22 de janeiro.
Não pretendo medir
forças com o parlamentar petista, cuja trajetória política conheço, e a quem
admiro desde que dirigiu o Sindicato dos Bancários de São Paulo. As variações da
presidente Dilma Rousseff, em torno do tema miséria, me estimulam, porém, a
continuar na análise de problema de extrema relevância, cuja solução desejamos
em benefício dos mais pobres.
Miséria é vocábulo com diversos significados.
Tanto expressa
estado de grande sofrimento, como carência absoluta de meios de subsistência,
penúria, indigência. Além da material, existe miséria moral, de sensibilidade,
de caráter, infelizmente comuns na vida pública.
O discurso presidencial procura criar diferenças formais entre miséria real e miséria cadastrada, aquela para a qual o governo voltou atenção.
O discurso presidencial procura criar diferenças formais entre miséria real e miséria cadastrada, aquela para a qual o governo voltou atenção.
A exigência do
cadastro não deixa de ser, por si só, fator excludente para ampla quantidade de
miseráveis, sem acesso a informações federais, estaduais e até municipais, que
os tornem aptos ao cadastramento.
Não nos iludamos.
Não nos iludamos.
Temos, sobretudo
na Região Norte, municípios de exageradas dimensões, em grande parte cobertos
por florestas protegidas, onde será quase impossível cadastrar os habitantes
necessitados.
Continuarão ainda,
e por muito tempo, fora do alcance do governo.
Veja-se o caso de
Oriximiná, do qual tratou o jornal O Estado, no caderno Planeta (20/2/2013). Sua
área é de 107.604,4km2, superior à de diversos estados da Federação. Revela a
matéria, cujo título é “Floresta rica, população pobre”, a situação dos
quilombolas de Cachoeira Pereira “que passam três meses no extrativismo (de
castanha) e o restante do ano no ócio”.
O país possui 5.564 municípios, distribuídos entre 27 estados, além do Distrito Federal. Em Minas Gerais, são 853; no Acre, 22; no Piauí, 224.
O país possui 5.564 municípios, distribuídos entre 27 estados, além do Distrito Federal. Em Minas Gerais, são 853; no Acre, 22; no Piauí, 224.
O portal
“cidades”, do IBGE, revela nomes como Acauã,
Alvorada do
Gurguéia,
Aroreira do
Itaim,
Barro
Duro,
Peritoró,
Sambaíba,
Zé
Doca,
Gurjão,
Água
Nova,
Bodó,
Venha
Ver,
Peixe
Boi,
Xupinguará,
Riachão do
Poço,
Quixabá,
Cruzeta,
Encanto,
Vilaflor,
Zabelê,
Mataraca,
Malta,
Abaiara,
Caapiranga,
Uricuituba,
Coqueiro
Seco,
Ererê,
Pindoba,
Arataca,
Barro
Preto,
Tanquinho,
Veredinha,
Uiramutã,
Malhada dos
Bois,
Telhas,
Acaicá.
São pequenas
comunidades, com reduzida população e atividades econômicas de mera
subsistência, sem hospitais,
médicos,
boas
escolas,
estradas,
e pouquíssimas
pessoas ocupadas e empregadas.
O governo dispõe
da logística para recensear rapidamente os necessitados, fazendo-lhes chegar a
bolsa cadastrada dentro dos prazos anunciados?
O projeto de extinção da miséria se ressente do vício que afeta a bolsa família. Oferece algum dinheiro, não muito, nem o suficiente, sem conseguir a inclusão dos beneficiados no mercado de trabalho. Objetiva saciar a fome de famílias com renda per capita mensal inferior a 70 reais, o que é positivo.
O projeto de extinção da miséria se ressente do vício que afeta a bolsa família. Oferece algum dinheiro, não muito, nem o suficiente, sem conseguir a inclusão dos beneficiados no mercado de trabalho. Objetiva saciar a fome de famílias com renda per capita mensal inferior a 70 reais, o que é positivo.
Nada tem a ver,
entretanto, com oferta concreta de postos de trabalho.
Quem é empregado
tem direito a salário mínimo, 13º terceiro, fundo de garantia, previdência,
vale-transporte. Como estamos em situação análoga à do pleno emprego, é
paradoxal que 10% da população, cerca de 19 milhões, continuem à margem do
mercado de trabalho, e 2,9 milhões recebam 70 reais.
Conforme diz Luc Ferry, no livro A tentação do cristianismo (Ed. Objetiva, 2011), é através do trabalho que o homem se valoriza e adquire dignidade. Inteligência, beleza, memória, vigor físico, são insuficientes, eis que podem ser colocados a serviço do bem, ou do mal.
Conforme diz Luc Ferry, no livro A tentação do cristianismo (Ed. Objetiva, 2011), é através do trabalho que o homem se valoriza e adquire dignidade. Inteligência, beleza, memória, vigor físico, são insuficientes, eis que podem ser colocados a serviço do bem, ou do mal.
Bolsa família e
bolsa miséria devem ser pagas como benefícios transitórios.
Ao governo cabe
agir de forma enérgica, rápida e competente, mas no sentido de levar o
desenvolvimento ao interior distante e colocar trabalho remunerador ao alcance
de todos.
Milhões continuam saúde, água, eção e trabal
O problema não é
retórico para ser resolvido em palanque, com discursos. Trata-se de assunto
revestido da maior gravidade, impondo tratamento correto, sério,
respeitoso.
Almir Pazzianotto Pinto Correio Braziliense
Almir Pazzianotto Pinto Correio Braziliense
28 de fevereiro de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário