Ex-presidente quer governador vice de Dilma; socialista faz reunião de emergência
Está por um fio e pode azedar de vez a boa relação do presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, com a cúpula do PT, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula. Com os nervos à flor da pele com o que considera ingerência de Lula junto aos irmãos cearenses Ciro e Cid Gomes para dividir o seu partido, Campos convocou ontem membros da Executiva do PSB para uma reunião de emergência, em Recife. Foi discutida a rebelião dos Gomes e um encontro que Campos terá com Lula nos próximos dias.
Lula começa hoje a viagem ao Nordeste por Fortaleza. Deve passar pela Bahia e encerrar em Recife, onde espera conversar com Campos. Da reunião de ontem participaram o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), o deputado Márcio França (PSB-SP) e o secretário-geral do partido, Carlos Siqueira.
Hoje, irão a Recife se encontrar com Campos os governadores Renato Casagrande (ES) e Wilson Martins (PI). Campos também deverá convocar uma reunião da Executiva do PSB nos próximos dias para discutir como e quando se daria o desembarque do governo Dilma, se for essa a decisão a ser tomada.
Segundo interlocutores, Campos identificou que está partindo de Lula a ideia do fogo amigo dos Gomes, ao mesmo tempo que envia interlocutores, como o governador da Bahia, Jaques Wagner, com quem jantou na terça-feira, para tentar apaziguar os ânimos. Além disso, estão sendo plantadas notas, na imprensa de Pernambuco, dando conta que o ministro Fernando Bezerra Coelho, da Integração Nacional, pode ir para o PT para disputar o governo contra Campos.
Cid Gomes será um dos convidados de honra do seminário sobre os dez anos do PT no governo federal, que acontece hoje à noite em Fortaleza. Pelo protocolo, sentará ao lado de Lula, que amanhã almoça com Cid na capital cearense, antes de os dois partirem, no mesmo helicóptero, para Redenção, onde Lula receberá o título de honoris causa da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).
Na terça-feira, a pedido de Lula, Jaques Wagner foi a Recife e renovou o convite para que Campos seja vice de Dilma. Diante da negativa, Lula deve procurar o socialista para mais uma tentativa. Enquanto Lula rifa a chapa Dilma/Michel Temer, a presidente tenta desfazer o mal-estar com o PMDB e ontem ofereceu um jantar para as bancadas do partido, governadores e outros líderes peemedebistas, em homenagem ao ex-presidente do Senado José Sarney.
— Lula e o PT estão colocando Eduardo na parede. Se não tiver um distensionamento e Lula for mesmo ao Ceará, ele será obrigado a tomar uma decisão, que pode ser a entrega dos cargos ou anúncio de sua candidatura. O PT está sendo burro de deixar escapar um aliado sem tentar conciliar — disse ontem um dos interlocutores de Campos.
Do lado governista, a avaliação é que Lula quer encurralar Campos para que ele antecipe sua decisão. Segundo interlocutores de Lula, ele não desiste de ter Campos na chapa de Dilma por considerar essa a única possibilidade do presidente do PSB desistir de disputar a Presidência em 2014. A maior preocupação de Lula é que o pernambucano seja “adotado” pelas elites, como acha que já está acontecendo, e se torne um novo Collor, tirando votos preciosos da presidente Dilma.
28 de fevereiro de 2013
Maria Lima, Júnia Gama e Flávio Freire - O Globo
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