"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

AFINAL, O QUE ACONTECEU COM A PETROBRAS?

E com o petróleo brasileiro? Brigam desvairadamente pelos royalties, o petróleo desapareceu, o pré-sal continua ilusão. E agora, José?


Ainda me lembro, eu era pequeno e o mar bramia, como dizia o poeta. Nem se falava em petróleo no Brasil, a não ser para negá-lo. Éramos uma displicente e imprevidente colônia dos EUA, eles dominavam tudo. Impuseram e consagraram uma frase:
“Não há petróleo no Brasil”. E aceitamos como se fosse irrefutável.



Menos Monteiro Lobato, que combatia as multinacionais e se voltou para a luta que parecia insensata de mostrar e provar que existia petróleo no Brasil. Foi preso, solto, um dia publicou num jornal um mapa da América do Sul, em que todos os países que tinham limites com o Brasil estavam cheios de petróleo, menos o Brasil. E a explicação dele, arcaica na época, não se mostrou verdadeira depois: “Quando Deus criou o mundo, determinou: todos esses países terão petróleo, menos o Brasil”.

Teve que se exilar, morou lá mesmo nos EUA. Em 1860, nos EUA, o coronel Drake, na Pensilvania, não aguentava aquele mau cheiro que parecia vir do fundo da terra. Contratou algumas pessoas, foi furado o primeiro poço de petróleo do mundo, ninguém imaginava o poder que teria.

Quase 100 anos depois, surgia no Brasil uma campanha civil militar com o slogan empolgante, patriótico e aparentemente libertador: “O petróleo é nosso”. A partir de 1950, surgiu no Brasil o movimento de libertação, mas o petróleo mesmo só apareceria muito mais tarde.
E como tudo no Brasil, devorado pela corrupção. Criaram o Ministério de Minas e Energia, logo depois a Petrobras.

Na época importávamos mais de 20 bilhões de cruzeiros de combustível, total que foi aumentando.
O petróleo bruto, arrancado da terra, significava pouco. Depois de extraído, precisa ser refinado, transportado, distribuído,
transformado na realidade mais visível e utilizável, que é o combustível.


Fomos nos convencendo da realidade de uma economia baseada no petróleo. Mas por interesses puramente pessoais e políticos, agigantaram e encareceram de tal maneira a Petrobras, que cada barril arrancado da terra custava pelo menos duas vezes o preço do mercado. Essa é a herança que ficou para a Petrobras de hoje, praticamente desde 1950/60 e que agora se transformou em tragédia, catástrofe se continuar assim.

Em 1979, o general Geisel (então “presidente”) nomeou para a Petrobras um japonesinho audacioso e ambicionado, que tinha sido seu ministro das Minas e Energia. Há mais de 20 anos, é o homem mais rico do Texas, tem mais poços de petróleo do que a família Bush, que nasceu lá.

Shigeaki Ueki mora no Texas com os filhos, precavidos, nem aparecem no Brasil. Não foram só eles que enriqueceram, foram milhares, só quem empobreceu foi o povo brasileiro, apesar das descobertas de petróleo irem se multiplicando, até chegar ao maravilhoso (?) pré-sal.

O petróleo entrou definitivamente na realidade dos aspirantes do Poder. E na divisão dos cargos, a Petrobras era mais cobiçada e ambicionada do que muitos ministérios. A Petrobras “de porteira fechada” (como se diz hoje) tem cargos portentosos e prodigiosos. Esses cargos tão concentradores administrativamente, são ainda mais concentradores em matéria de fortunas.

FHC: A ERA DA TRAIÇÃO
O “sociólogo” foi um raio de destruição que caiu sobre o Brasil. Desestatizou tudo, as maiores empresas estatais foram “trocadas” por ações de empresas falidas, que não valiam nada. Há anos e anos (com FHC no Poder) este repórter pediu uma CPI para apurar a fortuna dos membros dessa Desestatização, e seus apaniguados. Não consegui nada.

FHC queria doar a Petrobras, não teve coragem, esse é o traço principal do seu caráter. Criou então o que se chamou de L-I-C-I-T-A-Ç-Ã-O, assim mesmo, sincopado. Que existe até hoje, ninguém foi preso ou cassado por causa disso. LICITAVAM, de preferência, poços com petróleo já descoberto e comprovado. É de dar vergonha, tanta traição.

O SUPREMO NÃO DEIXOU
ACABAR ESSAS LICITAÇÕES
Terminou a traição FHC, veio Lula. Dona Dilma, que já estava escalada para o Ministério de Minas e Energia, se reuniu com líderes da AEPET (Associação dos Engenheiros da Petrobras), que fizeram história, mas não se mantiveram. Dona Dilma queria acabar logo com as licitações, ninguém sabia como. A AEPET aconselhou: “Essa licitação de agora não tem maior importância, espera a senhora assumir”.

DILMA LOGO MUDOU DE LADO
Já se disse e se repete: “Não há ninguém mais conservador do que um revolucionário no Poder”. Dona Dilma não era nem nunca foi revolucionária, mas combatia o bom combate no caso das licitações, só que não demorou muito, virou logo de lado e de camisa.

O governador do Paraná, Roberto Requião, chamou o Procurador Geral do Estado, pediu a ele para preparar uma ADIN (Ação de Inconstitucionalidade) para entrar no Supremo, o que foi feito.

Nos primeiros votos, a Petrobras foi ganhando por 4 a 0, a impressão é de que não perderia. Engano.

A ministra Dilma chamou o presidente do Supremo, Nelson Jobim, para reverter a questão.
O então ministro Eros Grau, que atendia Jobim por sinais, pediu vista. Dois meses depois a Ação entrou em pauta, a ADIN foi derrotada por 7 a 4, as LICITAÇÕES foram aumentadas e fortalecidas.

A PETROBRAS DE HOJE
Tudo isso foi minando a Petrobras, arruinando seu patrimônio, fabricando prejuízos colossais. Só o do ano passado é calculado e contabilizado em 67 bilhões. Ao mesmo tempo, surgiu o valorizado pré-sal, que retumbou no mundo inteiro. O Brasil subiu aos céus da energia petrolífera, foi registrado no apogeu da OPEP. Saudado como a nova potência petrolífera.

NEM PRÉ-SAL, NEM PETRÓLEO CONVENCIONAL
Escrevi então e várias vezes na Tribuna impressa: “Pré-sal só depois de muito tempo, talvez 2018 ou 2020”. Não sabiam nada desse pré-sal milagroso, os obstáculos que teriam que enfrentar, e ainda mais importante: o custo da operação, quanto o mercado teria que pagar por 1 barril. A “ignorância” continua, os equipamentos vão sendo construídos. Até quando?

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PS – A Petrobras mergulha (ou se aprofunda) em prejuízos colossais. E a nova presidente da Petrobras, num explosão de sinceridade, confessa: “2013 será muito pior”. Muito pior é o quê?

PS2 – Na Venezuela, na bomba, 1 litro de combustível custa 10 centavos (cents) de dólar. Muito antes do Chávez. Comparem com o Brasil.
20 de fevereiro de 2013
Helio Fernandes

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