O surpreendente retorno a Caracas do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, após mais de dois meses convalescente em Cuba, reaviva as especulações sobre o futuro da Presidência e o próprio destino do líder venezuelano.
Devido a seu delicado estado de saúde, é provável que uma junta de magistrados do TSJ se desloque até o Hospital Militar, onde Chávez está internado, para formalizar a posse. Chávez respira com ajuda de uma traqueostomia, uma das sequelas da severa infecção respiratória que sofreu logo após uma cirurgia contra o câncer.
O líder venezuelano tem dificuldades para falar e, de acordo com seus ministros, "está comandando" e dá instruções por escrito, quando não é compreendido por seus ministros.
Cenários possíveis
A analista política Francine Jacome, do Instituto Venezuelano de Estudos Sociais e Políticos (IVESP), acredita que um dos elementos importantes para o governo, com o retorno do presidente, é reforçar a legitimidade do chavismo no poder."Há uma necessidade de legitimar o governo e a atuação do vice-presidente (Nicolás Maduro)", afirmou Jacome à BBC Brasil. "Com o presidente aqui, será muito mais fácil para o governo criar a sensação que Chávez está governando."
Desde que Chávez viajou a Havana para ser operado, Maduro assumiu a liderança do governo e o presidente lhe delegou funções nos âmbitos político e econômico. Essa situação foi criticada pela oposição, que o acusou de usurpar a Presidência.
"O cenário mais factível é que o presidente preste juramento e convoque eleições presidenciais. Esse cenário já foi antecipado por ele mesmo antes de viajar à Cuba."
Nicmer Evans, analista político
"O cenário mais factível é que o presidente preste juramento e convoque eleições presidenciais", afirmou Evans à BBC Brasil. "Esse cenário já foi antecipado por ele mesmo antes de viajar a Cuba."
Antes de se submeter a sua quarta cirurgia, Chávez apontou o vice-presidente como eventual sucessor e candidato à Presidência caso algo lhe acontecesse na operação. De volta ao país, agora estará nas mãos de Chávez decidir se continua e por quanto tempo à frente do governo.
Na opinião do analista político John Magdaleno, as mensagens enviadas pelo governo "preparam o terreno" para eleições presidenciais. "O mais provável é que haja eleições neste ano", afirmou à BBC Brasil.
Outra possibilidade, seria que Chávez continuasse formalmente na Presidência, dando orientações, mas na prática o governo continuaria sendo administrado por Maduro e os demais ministros do núcleo duro. Esse cenário permitiria ao chavismo consolidar a figura de Maduro como sucessor de Chávez para uma eventual eleição, no médio ou longo prazo.
Mas, na opinião do analista político John Magdaleno, esse é um cenário arriscado, que pode levar o governo a um desgaste político. "As novas autoridades à frente da Presidência não teriam a mesma legitimidade que Chávez e prolongar essa situação de que o governo toma decisões em nome do presidente Chávez, sem provas evidentes de que ele está governo, pode ser contraproducente", afirmou Magdaleno.
'Festa para o comandante'
O retorno do presidente traz tranquilidade aos simpatizantes chavistas no país."Levantei de madrugada e quando vi a notícia de que meu comandante estava de volta, já não pude dormir. Estamos radiantes", afirmou à BBC Brasil a aposentada Zoyla Duarte, que chegou logo ao amanhecer ao Hospital Militar de Caracas, onde Chávez está hospitalizado, para dar-lhe as "boas-vindas".
Ela se nega a pensar o futuro sem Chávez na Presidência. "Queremos que ele continue governando, mas só Deus sabe. Acredito que meu presidente vai poder, ele sempre pode tudo", disse a aposentada, que vestia uma camiseta com a fotografia de Chávez estampada.
Desde cedo, fogos de artifício foram ouvidos nos arredores do Hospital e nos bairros periféricos da cidade, em celebração ao retorno do presidente. Bandeiras, fotografias, cartazes e santinhos com a foto de Chávez eram levados por centenas de pessoas que se agrupavam do lado de fora do hospital.
Até agora nenhuma autoridade do governo confirmou publicamente que Chávez tomará posse nos próximos dias, nem tampouco a possibilidade de que novas eleições sejam convocadas. "Temos presidente e ele é Chávez", afirmou o ministro de Comunicação Ernesto Villegas, ao comemorar o retorno do mandatário.
A coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) qualificou como "espetáculo" o tom com que o governo está tratando o retorno do presidente ao país. "A MUD reitera sua exigência ao governo para que digam a verdade aos venezuelanos e que atuem de acordo com a Constituição", afirmaram os oposicionistas em um comunidado.
A MUD avaliará nos próximos dias se antecipará ou não o anúncio de seu eventual candidato presidencial. Henrique Capriles, ex-candidato presidencial e governador do Estado de Miranda deve ser o nome indicado para representar o anti-chavismo nas urnas.
De acordo com uma pesquisa da consultoria Hinterlaces, 50% dos venezuelanos votariam em Maduro e outros 36% em Capriles. Os restantes estariam indecisos.
19 de fevereiro de 2013
Claudia Jardim
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